sábado, 26 de fevereiro de 2011

127 Horas


127 Horas (127 Hours, EUA/Inglaterra, 2010). Direção de Danny Boyle. Com James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams.


Renato Cordeiro

Se antes poderia ser um tanto difícil prever a existência de um longa-metragem como 127 Horas, hoje não faltam exemplos de obras que, em boa medida, se ancoram no trabalho de um único ator. Náufrago, com Tom Hanks, é exemplo recorrente e também vale citar Enterrado Vivo, com Ryan Reynolds. Mas o nono filme do cineasta Danny Boyle é, talvez, aquele que melhor explora o potencial fílmico de um drama solitário tão angustiante.

A trama adapta a história real de Aron Ralston, jovem que explora um canyon nos Estados Unidos quando uma rocha desliza e o prende pelo braço. Sozinho durante cinco dias, o rapaz busca uma forma de escapar enquanto vê se esgotar o escasso estoque de comida e água. O filme co-escrito por Boyle traduz uma série de anseios e devaneios do protagonista, com resultados, na maioria das vezes, bem interessantes. Um exemplo é o momento em que Ralston se lembra de algo de grande valia que deixou no carro. Outro ponto alto acontece quando ele tira sarro de si mesmo diante da própria câmera, cena valorizada pela bela atuação de James Franco.

Entre todas as comparações possíveis, é difícil não lembrar de Na Natureza Selvagem, de Sean Penn. Spoilers à parte, Christopher McCandless e Aron Ralston têm em comum a afeição pelas paisagens intocadas pelo homem, além d
as agruras de uma aventura solitária. A propósito, seu celular está carregado?


Nota: 8,0 (de dez)





quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

GPW - O fim de uma era

Ema


A GPW vai fechar.


Uma das mais importantes videolocadoras de Salvador, a GPW não é nem de longe a mais antiga. Nem é cheia de filiais. Nem tem café ou livraria nela. Aliás, muita gente não a conhece.

A GPW tinha a fama de ter filmes que "nenhuma outra tinha". Parte exagero, parte lenda, parte verdade, muitos clientes chegavam à GPW procurando por tal filme que, segundo foram informados, "se existisse em Salvador, tinha lá".

Por um bom período, a GPW foi, realmente, a salvação dos cinéfilos de Salvador. Tinha filmes antigos, cults, estrangeiros, documentários, que não eram encontrados em nenhum outro lugar.

Mas, em pouco tempo, mudou o foco e começou a investir pesado em filmes novos, que davam dinheiro. Os filmes antigos, cults, estrangeiros, foram perdendo força. Não desaparecendo, mas perdendo força. Quando eu trabalhei lá, era interessante notar que, nas prateleiras de lançamento, havia uma parte dedicada aos cult.

Já faz um tempo que existem locadoras em Salvador que possuem MUITOS filmes a mais que a GPW, mas a lenda se manteve. Era quase impossível encontrar, por exemplo, filmes B na GPW, seja terror, seja kung-fu. No máximo, filmes B de comédia, e olhe lá. Em compensação, até o Box de Tarkovski (por minha insistência) eles tinham.

Eu trabalhei na GPW como indicador por 8 meses, no ano de 2006. Apesar do salário baixo e do horário de trabalho que além de puxado, era pela noite (das 17h às 01h!), eu me divertia MUITO. Como minha função era ajudar clientes, fiz logo vários "amigos" por lá, que vinham realmente procurar saber da minha opinião sobre os filmes, discutir divergência de gostos, comentar novos lançamentos ou doces descobertas. Cada indicador tinha seu estilo, e se você era mesmo um cliente da loja, já sabia que indicador procurar. Havia os clientes que procuravam mais de um indicador, pra fazer um balanço entre as opiniões. Havia os que só falavam com o indicador específico.

Eu tinha meus clientes cativos, e era interessante ver que, em geral, apesar de ser na época estudante de cinema, eles sabiam mais sobre filmes do que eu. Continuam sabendo.

Eu chegava a fazer indicação de filmes por telefone, inclusive filmes pornô (!). Sim, porque uma das sessões mais lucrativas (e não muito grande) era a pornô, numa sala em separado, com um cheiro um pouco estranho, onde os clientes em geral nem olhavam pra você, mas ao mesmo tempo onde era possível se discutir política com pequenos comentários sobre este ou aquele atributo deste atriz ou daquele ator.

Mas era um negócio mal gerido. O dono resolveu investir prematuramente em Blue-Rays, que são caros, e que acabaram dando pouco lucro. Além disso, a locação de filmes têm diminuido em todos os lados, devido à pirataria - não estou aqui fazendo nenhum julgamento, apenas fazendo um comentário.

E deu no que deu. É o fim de uma era. Mas não se preocupe (tanto), já que há outras locadoras pela cidade que possuem todos os filmes (e mais) que a GPW possuia. Ok, todos não, mas quase.





segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Vencedor


O Vencedor (The Fighter, EUA, 2010) Direção de David O. Russell. Com Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo, Jack McGee.


Renato Cordeiro

O pôster de O Vencedor adianta algo que o espectador fica sabendo logo nos primeiros minutos do filme. O protagonista, o boxeador Mick Ward, está à sombra do irmão, Dick Ecklund. Ward é um peso-leve que tenta ascender no esporte e deixar de ser o saco de pancadas que ajuda outros pugilistas a pontuar. Pesa contra ele o desleixo do meio-irmão, Ecklund, que no passado teve dias de glória, mas se tornou um treinador relapso e viciado em crack. Para completar, a própria mãe de Ward o deixa de escanteio para favorecer os planos do filho mais velho, que sonha com uma volta triunfal aos ringues. É quando uma jovem faz Mick dar um novo rumo à vida, o que o deixa dividido entre a carreira e a família.

A trama é baseada em uma história real, o que faz O Vencedor entrar em uma lista de outros tantos filmes sobre boxeadores, como Marcado pela Sarjeta (com Paul Newman vivendo Rocky Graziano) e Ali (no qual Will Smith interpreta Cassius Clay). Hollywood sempre teve um fraco por longas que retratam este universo. Invariavelmente, trata-se de uma narrativa de superação e sacrifício, da qual O Vencedor só escapa por que foca o aspecto pessoal do protagonista.

A performance de Chistian Bale só contribui para o enfoque humano da produção. Injusto considerá-lo coadjuvante. Ele faz de Ecklund um sujeito arrogante e desequilibrado, mas mantém um certo carisma que impede que o espectador queira trucidá-lo. No fim das contas, é um perdedor desinformado, dono de uma silenciosa amargura, mas amoroso. Quando flagrado fazendo algo indevido, se comporta quase como uma criança, incapaz de assumir a responsabilidade sobre os próprios atos. Wahlberg, por sua vez, encarna com nescessária discrição um Mick Ward tímido e sem auto-confiança. Como interpretações mais contidas não ganham holofotes, passa despercebido o bom trabalho do ator.

Nota:
7,0 (de dez)





domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cisne Negro


Cisne Negro (Black Swan, EUA, 2010) Direção de Darren Aronofsky. Com Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder, Benjamin Millepied, Ksenia Solo.


Renato Cordeiro

Nina é uma jovem bailarina que tenta se firmar no disputado papel principal de uma nova montagem de O Lago dos Cisnes, tendo de lidar com o rígido diretor e a concorrência de uma talentosa rival. À primeira vista, poderia ser estranho imaginar Darren Aronofsky envolvido em um longa-metragem sobre balé, mas Cisne Negro é mais do que isso. O diretor de Pi e Réquiem Para Um Sonho trata a expressão artística como pano de fundo para lidar, mais uma vez, com o tema da obssessão.

A dificuldade da jovem está em cumprir, a um só tempo, com as exigências para os papéis de Cisne Branco e Cisne Negro. O comandante do espetáculo, Thomas LeRoy, aponta que a primeira já está sob domínio da bailarina, mas a segunda exige uma transgressão que não faz parte de Nina. Para complicar ainda mais a situação, a garota começa a ter visões perturbadoras.

Obras como De Corpo e Alma, de Robert Altman, já evidenciavam o universo de dor e sacrifício que se instaura na vida de quem se dedica ao balé, mas Cisne Negro chega às raias da escatologia para demonstrar a perdição da protagonista, com sequências dignas de um filme de David Cronnenberg. É, em boa medida, um drama de horror voltado à dimensão psicótica da personagem, vivida com absoluta firmeza por Natalie Portman.

Não é o melhor trabalho de Aronofsky, mas é belo e consegue criar expectativa pelo desfecho da história, um tanto previsível.

Nota: 7,0 (de dez)