quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Príncipe dos Pistoleiros

O que Roy Rogers, Paul Newman, Kris Kristofferson e Emilio Estevez tem em comum? Todos deram vida a um dos mais famosos nomes do Velho Oeste, o pistoleiro Henry McCarty, conhecido como William Henry Bonney ou, melhor ainda, Billy the Kid. Morreu há exatos 130 anos. Para lembrar a data, vai abaixo o clipe do filme Jovem Demais Para Morrer, com aquele que este cinéfilo diria ter sido o melhor intérprete do jovem bandido, Emilio Estevez.


sábado, 9 de julho de 2011

Gerônimo - Uma Lenda Americana


Gerônimo - Uma Lenda Americana (Geronimo: An American Legend, EUA, 1993) Direção de Walter Hill. Com Jason Patric, Wes Studi, Gene Hackman, Robert Duvall, Matt Damon, Rodney A. Grant, Kevin Tighe, Steve Reevis, Carlos Palomino, Victor Aaron.


Renato Cordeiro

Quando se pensa em westerns que retratam o extermínio dos índios pelos brancos, é comum citar filmes que vão do clássico Flechas de Fogo à obraprima Dança com Lobos. Mas ainda que não esteja à altura dos predecessores, vale mencionar Gerônimo - Uma Lenda Americana. Além de um Walter Hill mais inspirado na direção, um bom elenco e ritmo adequado, o longa tem como foco a campanha do Exército para capturar um dos maiores símbolos da resistência indígena.

Havia um aspecto peculiar das investidas para
prender o temido Gerônimo: o líder dos "casacas azuis", o famoso General Crook, mantinha uma relação de respeito com o adversário pele-vermelha. A reverência, inclusive, dá o tom da narração do jovem oficial vivido por Matt Damon, anos antes de ganhar fama com Gênio Indomável. O espectador rapidamente percebe que o objetivo não é matar Gerônimo, mas convencê-lo a aceitar uma amarga proposta de paz: levar a tribo para viver em uma reserva agrícola. A cena em que o índio pergunta ao general por que os homens brancos podem ficar "com tudo" ilustra bem o abismo entre os relutantes antagonistas.

Um dos pontos altos da produção é Wes Studi, que na pele do lendário apache Gerônimo teve provavelmente o melhor momento da carreira. Studi é um daqueles atores de um só papel, que a gente por vezes não lembra o nome, mas fica com a impressão de ter visto em um zilhão de filmes. Não surpreende, já que a ascendência cherokee não o impediu de interpretar guerreiros de outras tribos, como um violento yuron em O Último dos Moicanos e um igualmente sanguinário pawnee em Dança com Lobos. Com a carranca típica, o ator consegue ilustrar bem o dilema do protagonista: manter a contagem de corpos dos caras-pálidas que vem massacrando seu povo ou preservar o pouco que resta dele através de uma rendição que dará fim ao modo de vida da tribo.

Gerônimo - Uma Lenda Americana é também o melhor dos poucos faroestes assinados por Walter Hill, superando com folga o morno Cavalgada dos Proscritos e o insosso Wild Bill. Há um certo requinte na composição das cenas, como aquela na qual vemos, de cima, dois homens subirem um paredão rochoso só para se depararem com as armas apaches ao fim da escalada. A edição faz sua parte, valorizando de formas diferentes dois dos melhores momentos da produção. Em uma, cortes rápidos mostram o tenente Gatewood, vivido por Jason Patric, em duelo com um índio, demonstrando perícia com montaria. Na outra, com uso econômico da câmera lenta, será a vez do personagem de Robert Duvall provar que é bom de tiro, encarando sozinho vários adversários.

Nota: 7,0 (de dez)










quarta-feira, 6 de julho de 2011

Moby Dick


Moby Dick
(EUA, 1956) Direção de John Huston. Com Gregory Peck, Richard Basehart, Leo Genn, James Robertson Justice, Harry Andrews, Bernard Miles, Noel Purcell, Edric Connor, Orson Welles.


Renato Cordeiro

Moby Dick pode não ser exatamente um filme brilhante, mas tem coragem. A adaptação da obra de Herman Melville nadou contra a corrente da época e levou aos cinemas uma história sombria, marcada pela trágica incapacidade de um homem em superar o desejo de vingança, mesmo estando ciente de sua autodestruição. E se o plot não encontrou simpatia do público dos cinemas, imagine o susto de quem viu o eterno mocinho Gregory Peck, o Atticus Finch de O Sol É Para Todos, na pele de um tipo raivoso e insano. Como o Capitão Ahab, Peck defendeu um papel que, se não era vilanesco, certamente equipara-se ao monstruoso Doutor Josef Mengele que interpretou em Meninos do Brazil e o maucaráter Lewt McCanles de Duelo ao Sol.

O longametragem é narrado pelo jovem Ishmael, vivido por Richard Basehart, escolha estranha por se tratar de alguém com o dobro da idade do personagem. O "rapaz" está à procura de trabalho e acaba embarcando no baleeiro comandado por Ahab, um sujeito obcecado pela idéia de encontrar a gigantesca criatura que levou-lhe a perna e desfigurou o rosto. A missão, aos poucos, vai despertando dúvidas em Starbuck, braço direito do capitão, que planeja organizar um motim. A trama se desenrola em meio aos ataques contra baleias que servirão de fonte de alimentação e óleo. As cenas são embaladas por uma trilha sonora que denuncia, pelo tom aventureiro, uma posição favorável à caça, o que deve revirar o estômago de qualquer ambientalista. A música, a propósito, é por vezes inadequada e exagerada, diluindo, por exemplo, o momento em que Ahab faz uma bizarra proposta aos comandados, ainda na primeira metade do longa.

A direção de John Huston parece pintar belos quadros em vários momentos de Moby Dick. A impressão não é pra menos, já que parte das filmagens ocorreu em estúdio, tendo pinturas ao fundo, fazendo as vezes do céu. A fotografia ajuda muito a deixar o recurso funcional, o que não pode ser dito de algumas sequências em "alto mar", nas quais o chroma key, ainda menino, se faz bem evidente. Nada que desmereça o filme, que é brindado ainda pelo monólogo de Orson Welles como o Padre Mapple. O mesmo personagem seria vivido por Gregory Peck, na participação especial que foi o último papel da carreira, em um telefilme de 1998.

Nota: 6,0 (de dez)










segunda-feira, 4 de julho de 2011

MacArthur


MacArthur (EUA, 1977). Direção de Joseph Sargent. Com Gregory Peck, Ivan Bonar, Ward Costello, Nicolas Coster, Marj Dusay.


Renato Cordeiro

Dizer que a vida de uma pessoa daria um filme não significa que o filme vai ser bom. O caso de MacArthur, baseado na trajetória de um dos maiores generais da história dos Estados Unidos, serve para ilustrar alguns dos desafios inerentes a empreitadas do tipo. Por mais que a vida de uma figura célebre tenha momentos singulares e dignos das telas de cinema, o longametragem, a depender do roteiro, pode se tornar apenas um apanhado de momentos episódicos do biografado, o que eleva os riscos de problemas de ritmo. E desse mal o trabalho de Joseph Sargent certamente padece.

O longametragem retrata o protagonismo de Douglas MacArthur em alguns dos momentos mais importantes do combate aos japoneses na Segunda Guerra até os últimos dias da carreira militar, durante a Guerra da Coréia. Apesar do currículo invejável de um dos raros generais de cinco estrelas do Exército estadunidense, apenas algumas poucas passagens do filme são merecedoras de maior atenção. A retomada das Filipinas, com o biografado desembarcando ao lado do presidente Roosevelt no arquipélago reconquistado, impressiona pela boa reconstituição do momento. Também merecem destaque as sequências que apresentam episódios não tão explorados pela sétima arte, como a rendição dos japoneses na Baía de Tóquio e a posterior administração de MacArthur na Terra do Sol Nascente.

De resto, a produção sofre por ter o
fio narrativo resumido ao próprio personagem principal e sua vida dedicada ao Exército. O desenrolar das cenas segue a cronologia dos conflitos sem gerar maior expectativa. Já idoso, o ator que interpretou o general, Gregory Peck, chegou a admitir em uma entrevista não ter gostado do roteiro. Não surpreende, assim como também não passa despercebida a produção um tanto modesta demais para um projeto deste tipo. A famosa Batalha de Inchon, por exemplo, é mostrada de bastidores, com MacArthur acompanhando a ofensiva em uma embarcação, ao som da peleja.

Gregory Peck oferece aqui uma atuação muito acima da média, que chegou a ser considerada, à época, digna do Oscar. Basta assistir, depois do filme, ao famoso discurso no Congresso para perceber o belo trabalho de voz e gestos desenvolvido pelo ator californiano. É notório, por outro lado, que o astro negocia a composição com os interesses do projeto, que busca justificar a condição de lenda atribuída ao general. O olhar semicerrado do intérprete em diversas passagens parece injetar mais dramaticidade ao personagem, nem sempre contribuindo para o indigesto resultado final do longametragem, claro e pagajosamente ufanista.

Nota: 5,0 (de dez)










domingo, 3 de julho de 2011

Meia-Noite em Paris


Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, Espanha/EUA, 2011) Direção de Woody Allen. Com Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Michael Sheen, Nina Arianda, Kurt Fuller, Mimi Kennedy, Kathy Bates, Alison Pill, Tom Hiddleston, Corey Stoll, Adrien Brody, Carla Bruni


Renato Cordeiro

Ainda que a indústria cultural dos Estados Unidos seja conhecida pelo volume de dinheiro que movimenta, é bem verdade que os que advogam pela verdadeira arte olham com mais carinho para a França. Não é algo que se dá pelo que o país europeu concretamente produz, mas sobretudo pelo apreço por expressões artísticas mais elevadas. O Oscar, por exemplo, é um prêmio que vale muito em termos de negócios, mas não chega nem perto do grau de prestígio do Festival de Cannes, de onde saem tarimbadas algumas das obras mais relevantes do cinema mundial. Não é de se estranhar, então, que o protagonista de Meia-Noite em Paris viva, justamente na Cidade Luz, uma busca por autenticidade e relevância.

Gil é um roteirista bem-sucedido em Hollywood, mas se encontra insatisfeito com o trabalho. Ele quer dar uma guinada na carreira e publicar o primeiro romance, mas está inseguro, recusando-se a falar do projeto e deixar que outras pessoas leiam o material. Em uma noite na qual anda sozinho pelas ruas de Paris, Gil, num passe de mágica, é transportado para uma outra época, e décadas antes, encontra a cidade fervilhando em agitação cultural. Em um espaço de poucas horas, conhece artistas de renome, como Scott Fitzgerald e Ernest Hemmingway.
A convivência com estes e outros gênios criativos vai inspirar o rapaz a ganhar coragem para a primeira empreitada literária.

O diretor e roteirista do longametragem já começa o espetáculo com uma reverência à bela locação adotada para as filmagens. Diferente de obras anteriores de Woody Allen, a tônica de Meia-Noite em Paris é o encanto, que começa pela trama, uma fantasia simpática com discurso preciso. A história passa longe do pensamento tacanho de qualificar a capital francesa como um lugar de excelência em confronto com a mediocridade de fora. Na verdade, a Cidade Luz funciona como uma meca para artistas de diversos países, como o espanhol Salvador Dali e a escritora estadunidense Gertrude Stein. Da mesma forma, o filme denuncia a tentadora ilusão de que os tempos pretéritos tem sempre mais méritos.


Nota: 7,0 (de dez)