sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Festival Internacional de Cinema Infantil


Os ventos estão favoráveis à realização de eventos cinematográficos na capital baiana, que hoje começa a receber mais um. O Festival Internacional de Cinema Infantil, que tem programação em dez cidades brasileiras, vai até 9 de outubro e exibirá curtas e longas animados e em live action no Cinemark. Alguns trabalhos já são conhecidos do público brasileiro, como Ponyo, do cultuado Hayao Miyazaki, e Eu Não Quero Voltar Sozinho, premiado curta do brasileiro Daniel Ribeiro. Outros são menos conhecidos e só costumam dar as caras mesmo em oportunidades como esta, incluindo produções da Holanda, Alemanha e Quênia, de onde vem Soul Boy - À Procura da Alma.

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Direito ao Cinema: O Povo Contra Larry Flynt


Interessante iniciativa da Escola de Magistrados da Bahia e a Faculdade de Direito da UFBA. O projeto Direito ao Cinema faz exibição de filmes com posterior discussão que destaca os aspectos judiciais presentes na obra. Nesta sexta-feira, dia 30, vai ser exibido O Povo Contra Larry Flynt, de Milos Forman. A sessão gratuita começa às 19hs, tendo como palestrante o professor da Faculdade de Direito Ricardo Maurício Freire Soares. A coordenação científica é do professor da Faculdade de Comunicação e crítico André Setaro.

Mais detalhes aqui.










quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mostra Feminino Plural


Termina amanhã, dia 29, a edição soteropolitana da mostra itinerante Feminino Plural, que exibe curtas dirigidos por mulheres. Amanhã, quatro obras ganham a tela da sala 4 do Unibanco Glauber Rocha. São elas Uma Primavera, Cão e Cores e Botas, todas de São Paulo, e Praça Walt Disney, trabalho de Pernambuco que fez sucesso em mostras pelo país e talvez seja o destaque da noite. A sessão começa às 19hs.

Mais informações aqui.











terça-feira, 27 de setembro de 2011

Quando a Neve Tornar a Cair


Quando a Neve Tornar a Cair (Days of Glory, EUA, 1944) Direção de Jacques Tourneur. Com Gregory Peck, Tamara Toumanova, Alan Reed, Maria Palmer, Lowell Gilmore.


Renato Cordeiro

A ascensão
de Gregory Peck em Hollywood, em boa medida, ocorreu por conta da Segunda Guerra Mundial. O esforço contra os nazistas recrutou alguns grandes astros da época, deixando o cinema estadunidense seriamente desfalcado. Só pra se ter uma idéia do problema, a extensa lista de nomes que serviram em batalha inclui Clark Gable, James Stewart, Henry Fonda, Charles Bronson, Lee Marvin, Ernest Borgnine e George C. Scott. Por causa de um problema na coluna, Peck acabou dispensado, mas por ironia, o ator então conhecido no teatro noviorquino ganhou a chance de estrear em um longametragem que serve justamente como propaganda de guerra.

O trabalho já começa em tom cerimonioso, apresentando o elenco que dá vida a um grupo de guerrilheiros empenhados em conter o avanço nazista. O esconderijo dos partisans está em uma posição estratégica e permite várias ações de sabotagem contra as tropas alemãs, com direito a explosões e combates cujos efeitos impressionam, considerando-se a época. Peck, aos 28 anos, faz o líder do bando, Vladimir. A rotina do grupo muda quando passam a acolher Nina, papel que se confunde com a própria intérprete, a bela Tamara Toumanova, que era também uma bailarina russa. A presença da artista serve como um elo entre os combatentes e o espectador, que ainda não os conhece.

O empenho em evitar rejeições por parte do público e a própria natureza propagandista parecem ser o motivo para um dos problemas da história: os personagens unidimensionais. Antes de mostrar Vladimir pela primeira vez, o filme sugere que é um sujeito que mantém a disciplina dos companheiros com severidade, mas logo o bom-mocismo que se tornaria típico dos personagens de Gregory Peck toma conta do papel, parecendo ser calculada para não criar antipatia no espectador. E se a idéia era fazer da bailarina um contraponto para a vida brutal dos guerrilheiros, o efeito não se sustenta, uma vez que eles se mostram capazes de recitar poemas e até cantar juntos, enquanto Nina, por sua vez, se une ao esforço de guerra de forma voluntária.

É interessante reparar ainda como os personagens mais parecem estadunidenses do que russos, já que até a gestualística e os discursos patrióticos combinam direitinho com aqueles que nos acostumamos a ver em produções da Terra do Tio Sam. Na cena em que o grupo toma a tradicional sopa borscht, mais parecia que a mesa tinha uma torta de maçã. O romance meloso e previsível que se dá entre os protagonistas também compromete, e seria um dos elementos convidativos à revisão em um eventual remake deste filme, que em vários momentos parece perto de ser bom, mas acaba mesmo no meio do caminho.

Nota: 5,0 (de dez)










segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Luz é Para Todos


A Luz É Para Todos (Gentleman's Agreement, EUA, 1947) Direção de Elia Kazan. Com Gregory Peck, Dorothy McGuire, John Garfield, Celeste Holm, Anne Revere, June Havoc, Albert Dekker, Jane Wyatt, Dean Stockwell.


Renato Cordeiro

A Luz É Para Todos é um filme refém do discurso e, apesar do bom plot, não é espetáculo dos mais interessantes. O roteiro é contaminado por situações forçadas e um ufanismo daqueles típicos do cinema estadunidense, comprometendo a obra vencedora de 3 Oscars. Uma das estatuetas foi para as mãos de Elia Kazan, cineasta que faz aqui um trabalho apenas correto.

Gregory Peck, especialista em interpretar homens de nobre caráter que se propõem a ser a palmatória do mundo, compõe sem esforço o jornalista Phil Green, às voltas com uma série sobre anti-semitismo. A relevância do tema pode ser estranha para os brasileiros, que pouco contato têm com a cultura judaica e correlacionam a discriminação a uma questão de cor de pele. De todo modo, o filme assume que, nos States, a coisa era séria. Piadas veladas, restrição de acesso a estabelecimentos e outras hostilidades passam a ser vivenciadas pelo proprio repórter quando ele resolve se colocar no lugar dos judeus, fazendo-se passar por um deles.

A idéia central funciona bem e opera em dois planos da realidade, dentro e fora da obra. A estratégia de Green de usar a si mesmo como referencial para a compreensão do problema permitirá que seus amigos, colegas e leitores possam também se colocar no lugar do profissional, e por tabela, na pele dos judeus. Em paralelo, o efeito também se fará sentir no espectador da obra, que vê em Peck o bom moço com o qual metade da raça humana gostaria de se identificar, renunciando ao acordo de cavalheiros que serve de título original ao filme.

É bem verdade que Gregory Peck falha em alguns momentos nos quais o protagonista se enfurece, como quando confronta a própria secretária pela última vez. A voz poderosa e os gestos do ator são eficientes, mas os olhos não parecem acompanhar a cena.
Dorothy McGuire, como o par romântico, cria um personagem interessante que estabelece inesperados conflitos com o jornalista, mas a interpretação algo datada investe em uma voz excessivamente sussurada e melosa. John Garfield, ator de destaque na época, vive com desenvoltura e carisma o amigo judeu que serve como uma espécie de tradutor dos sentimentos que passam a ser vivenciados por Green. Mas quem rouba todas as cenas é Celeste Holm, no papel da amiga que se revela mais complexa do que se poderia pensar à primeira vista, dando a entender o alto preço que se paga por um comportamento liberal. Levou um merecido Oscar de coadjuvante.

Infelizmente, algumas situações retratadas no roteiro parecem por demais gratuitas, a exemplo de uma cena com o médico da família de Green. O filme começa a perder força à medida em que resvala em pieguices e patriotadas, sendo que a direção morna não ajuda. Difícil não pensar na ironia de ver uma obra que faz uma defesa tão apaixonada pelos direitos civis na terra do Tio Sam, sendo que depois o mesmo cineasta se associaria com o governo estadunidense na perseguição a tantos artistas acusados de serem comunistas. Faça o que eu digo...

Nota: 6,0 (de dez)










domingo, 25 de setembro de 2011

Inception Soundtrack


Renato Cordeiro

A Origem foi um dos melhores longas de 2010, ainda que alguns torçam o nariz quando uma declaração do tipo é dirigida a um trabalho mais popular, como este filme de ação sci-fi. Christopher Nolan comandou
uma trama complexa e criativa com boa dose de surrealismo, dando origem a cenas espetaculares. Tudo na produção é muito bem orquestrado, incluindo a montagem que desenvolve um equilíbrio dinâmico em diferentes planos da realidade. E a trilha sonora também cumpre o papel que lhe cabe.

Hans Zimmer, que por vezes é apontado como um profissional menor entre os compositores de trilhas sonoras, fez aqui um dos melhores trabalhos. As partituras do alemão reforçam a atmosfera de sonho e angústia desenvolvida por Christopher Nolan, com quem já havia trabalhado em Batman Begins e The Dark Kinight. O investimento em sons eletrônicos mesclados à orquestra, em especial os metais, lembra Vangelis, um músico que revolucionou o segmento com o uso de sintetizadores em trilhas sonoras. Assim, Conquest of Paradise, feita pelo grego para
1492 - A Conquista do Paraíso, encontra contraponto em Time, que encerra A Origem com chave de ouro. É claro, encontraremos ainda ecos de Blade Runner - O Caçador de Andróides, excetuando-se, claro, Love Theme, a mais famosa música do longa de Ridley Scott

Outro elemento que se encaixa muito bem é a guitarra, que se faz presente em faixas como One Simple Idea. Por vezes abafado, o instrumento não apenas acentua o aspecto onírico do longametragem como realça a melancolia do protagonista, nas passagens nas quais recorda um antigo amor. Mombassa marca a conturbada visita de Cobb, líder dos assaltantes, a Eames, o falsificador. É um tema mais forte, percussivo, célere, mais cinema de ação, que bebe na fonte do próprio Zimmer, lembrando alguns trechos de The Chase e Rocket Away, escritas por ele para A Rocha.

Existem scores que você pode ouvir no carro como se fosse um álbum de música "normal", enquanto outros, como a trilha de A Origem, tendem a perder muito do impacto fora da apreciação do longa, muito em função do ambiente surreal que as partituras sugerem. Ainda assim, mesmo não sendo obra de gênio, escapa da sonoridades mais manjadas que se ouve em outras trilhas.

Abaixo, você confere um making off da produção da soundtrack e uma apresentação de Mombassa na première de
A Origem. Para ler as resenhas de Bee e Renato Cordeiro sobre o filme, clique aqui.















sábado, 24 de setembro de 2011

"Atuar é mentir", por Marlon Brando.



O senhor Brando era conhecido por comentários fortes que escapam ao lugarcomum. Nesta entrevista de 1973, ele disse o que pensa a respeito do próprio ofício, entendendo que não há diferença entre atuar e mentir. "Não sobreviveríamos um segundo se não fôssemos aptos a atuar. Atuar é um mecanismo de sobrevivência".













sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Grandes franquias do horror

Sempre à procura de desculpas esfarrapadas, o BF aproveita a estréia de Premonição 5 para lembrar de algumas das grandes franquias do cinema de horror. Algumas melhores, outras piores, quase todas descaradamente tentando em algum momento lançar novos capítulos só pra arrancar seu dinheiro. E não é que dá certo?




À Meia-Noite Levarei Sua Alma, 1963
O maior nome do terror tupiniquim, José Mojica Marins, deu vida e morte ao personagem Zé do Caixão neste longametragem cascagrossa e premiado. A franquia do psicopata sádico e tarado teve como mais novo exemplar o filme Encarnação do Demônio, do mesmo diretor do curta Amor Só de Mãe.

A Noite dos Mortos-Vivos, 1968
O filme que traumatizou irreversivelmente os chamados filmes de zumbi, de tal forma que George Romero acabou sendo considerado o pai do gênero. Na verdade, ele definiu as bases, como as contaminações por mordidas, as metáforas sociais e as situações de confinamento diante de um apocalipse de desmortos. Ótimo como idéia, não tanto quanto cinema. Teve cinco continuações, dois remakes e várias imitações.



O Exorcista, 1973
Se as duas sequências do filme de William Friedkin não superaram o original, o conturbado prequel foi ainda pior. De tão insatisfatório, o longa de Paul Schrader foi engavetado quando já estava pronto, e resolveram refazer o filme inteirinho, agora sob comando de Renny Harlin, o mesmo de A Hora do Pesadelo 4. A emenda foi considerada pior que o soneto, e as duas versões não se destacaram nem no mercado de DVD's.

O Massacre da Serra Elétrica, 1974
O filme sobre uma família de psicopatas teria feito Tobe Hooper deslanchar a carreira de cineasta, que acabou indo ao fundo do poço gradualmente. Teve três sequências, sendo que o quarto capítulo, O Massacre da Serra Elétrica - O Retorno, tem cara de ser a maior bomba do século, com direito a pagação de micos dos então desconhecidos Renée Zellweger e Matthew McConaughey. Houve ainda um remake e um prequel.



A Profecia, 1976
Gregory Peck adota uma criança e acaba levando o capeta pra casa. Trilha poderosa de Jerry Goldsmith, lendas sobre uma maldição que explicaria tragédias ocorridas com os responsáveis pelo filme e engenhosas cenas de morte que lembram bastante uma franquia posterior, Premonição. Teve três sequências cada vez piores e um remake em 2006.

Halloween - A Noite do Terror, 1978
O psicopata silencioso, sobrenatural e mascarado Michael Myers é ainda hoje apontado por alguns como uma cópia do Jason Vorhees de Sexta-Feira 13, embora o assassino de Crystal Lake só tenha chegado aos cinemas dois anos depois. O filme de John Carpenter revelou Jamie Lee Curtis, além dos seios da atriz que se tornou musa dos fãs do horror. Teve sete continuações e um remake dirigido por Rob Zombie.



Evil Dead - A Morte do Demônio, 1981
Com pouco dinheiro, muito sangue e criatividade, o produtor Robert Tapert, o diretor Sam Raimi e o ator Bruce Campbell fincaram os nomes no cinema de horror ao contar a história de cinco amigos que são possuídos por forças demoníacas em uma cabana isolada no Tennessee. Premiado e cultuado, revelou o cineasta que assinaria Homem-Aranha e arrancou elogios de uma autoridade em terror, Stephen King. Teve duas sequências, sendo Evil Dead 2 um terror mais cômico e Army of Darkness um intrigante pastelão.

Sexta-Feira 13, 1981
A cinessérie sobre o assassino de Crystal lake é provavelmente a mais longeva e prolífica do cinema de horror: teve nove sequências, com mais baixos que altos. Os capítulos seis e nove são os melhores, enquanto Jason X é tão ruim que entrou no seleto grupo dos filmes que não consegui assistir até o final. Já o remake é bacana, assim como o crossover Freddy Vs Jason. Curiosidade: Kevin Bacon, antes da fama, é um dos jovens que correm perigo em Crystal Lake, no primeiro filme.



Poltergeist - O Fenômeno, 1982
O segundo filme mais conhecido do diretor de O Massacre da Serra Elétrica, ainda que haja rumores de que Tobe Hooper estava tão drogado nos sets que o próprio produtor Steven Spielberg arregaçou as mangas e comandou a maior parte do longa. Teve duas continuações e ainda hoje a franquia é conhecida como "maldita", já que depois de cada capítulo, morriam algumas pessoas do elenco. Drew Barrymore deve ter ficado feliz por não ter conseguido o papel da menininha que é protagonista dos filmes.

A Hora do Pesadelo, 1984
Filme que tirou o sono de muita gente nos anos 80. O longa traz a história de um assassino que ressurge como um tipo de espírito capaz de invadir os sonhos dos jovens da Rua Elm e matá-los de formas horripilantes. Robert Englund ficou marcado no papel de Freddy Frueger. Curiosidade: primeira aparição de Johnny Depp no cinema. Teve seis sequências, um remake e um crossover, o filme Freddy Vs Jason, no qual o sujeito enfrente o monstro de Sexta-Feira 13.



Reanimator - A Hora dos Mortos Vivos, 1985
O longa de Stuart Gordon adapta a história de H.P. Lovecraft. O estudante de medicina Herbert West busca derrotar a morte e desenvolve um soro capaz de reanimar os mortos, o que torna a vida do seu colega Dean Cain um inferno. Teve uma continuação razoável e bem mais gore em 1990, com direção de Brian Yuzna, e um terceiro exemplar, absolutamente ruim.

Hellraiser - Renascido do Inferno, 1987
A adaptação dos quadrinhos de Clive Barker tratam de uma caixa mágica que é uma tenebrosa caixinha de surpresas, abrindo uma passagem para que demônios sádicos conhecidos como cenobitas entrem em nosso mundo. Sete sequências foram produzidas, nenhuma com a repercussão do original.



Pânico, 1996
Autorreferência é o forte deste filme que fez o diretor Wes Craven deixar de ser conhecido apenas como o diretor de A Hora do Pesadelo. Um psicopata mascarado mata jovens utilizando elementos clássicos dos filmes de horror. Em 2011, chegou às telas o quarto longametragem da série e, apesar das boas críticas, teve passagem discreta nos cinemas.

Premonição, 2000
Um rapaz percebe presságios de um acidente aéreo e acaba evitando que alguns colegas se tornem vítimas da tragédia. A morte não deixa barato e começa a dar seus pulos pra levar todos pro caixão. Mortes criativas e bom ritmo no filme que iniciou uma série de longas, no mínimo, irregular. A franquia teve quatro continuações e não deve terminar tão cedo.

Jogos Mortais, 2004
Sadismo, sangue e jogos doentios dão o tom do filme que apresentou o psicopata Jigsaw, um sujeito que tem uma visão muito particular do que é um discurso motivacional para quem não anda aproveitando a vida. Teve nada menos que seis sequências, quase uma por ano, tendo a mais recente recebido o título Jogos Mortais - O Final. Difícil acreditar.










quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Amor Extremo


Amor Extremo (The Edge of Love, Reino Unido, 2008) Direção de John Maybury. Com Keira Knightley, Sienna Miller, Cillian Murphy, Matthew Rhys, Simon Armstrong.


Renato Cordeiro

Fazer de Dylan Thomas um personagem coadjuvante é um luxo que seria compreensível, se a amizade entre a cantora que ele amava e a esposa do escritor fosse bem explorada em Amor Extremo. Mas o drama sobre duas mulheres à frente de seu tempo e o retângulo amoroso do qual tomam parte simplesmente não cativa, apesar da delicadeza da direção e fotografia. Os personagens masculinos, mais interessantes, acabam salvando o longametragem.

Vera Phillips conheceu Dylan Thomas quando ainda eram garotos, e manteve o sentimento pelo homem que reencontra já casado, sendo declaradamente correspondida pelo sujeito boêmio. Apesar da tensão romântica entre os dois, a esposa, Caitlin, se identifica com a moça e a simpatia vai crescendo.
A cumplicidade que previne a infidelidade é posta à prova quando o marido de Vera, o soldado William, é convocado para o combate. E é quando o filme, que até então era ao menos um drama correto, vai se tornando algo aborrecido.

De um lado, Amor Extremo se dedica à amizade entre as protagonistas, com direito a belas cenas que simulam imagens desbotadas, apesar da trama em si não despertar muito interesse.
O problema, talvez, seja o fato de que as duas protagonistas são desprovidas de outra motivação que não o amor que sentem pelo mesmo homem. O casamento de Vera, vivida por Keira Knightley, é mostrado como uma espécie de fuga ou compensação pela sensação de incompletude que toma conta ao ver o casal que se hospeda em sua casa. A carreira de cantora parece apenas um lugar de afirmação da própria independência, algo que, em Caitlin, interpretada por Sienna Miller, se traduz pelo jeito transgressor.

A Segunda Guerra é o pano de fundo para a tensão que se desenvolve entre Vera e os agora vizinhos, Dylan e Caitlin. Mas em vez de ser usado como um momento de niilismo propulsor de uma traição iminente, o conflito é reduzido aos seus efeitos mais particulares, a saber, a espera de Vera pelo retorno do marido. A decisão reflete o próprio espírito escapista do trio que quer distância da tragédia da qual William participa. Não deixa de ser irônico, neste sentido, o papel de Dylan Thomas, boêmio que não pisa no campo de batalha, mas é o responsável por escrever a propaganda de guerra. O papel é bem defendido por Matthew Rhys, que chega a despertar um lamento por estar em segundo plano.

Já William, personagem de Cillian Murphy, seduz Vera não apenas com o jeito seguro e protetor, como também mostra-se claramente capaz de disputar o coração da jovem com as mesmas armas do rival. Ele declama poesias em diversos momentos do filme, até finalmente se dar conta da realidade da guerra, conhecimento que não vem sem sacrifício. Se Amor Extremo fica a desejar como drama romântico, serve ao menos como um pequeno tratado sobre a fragilidade do mundo particular que se pode erguer em uma realidade doentia.

Nota: 6,0 (de dez)










terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cowboys e Aliens


Cowboys e Aliens (Cowboys & Aliens, EUA, 2011) De Jon Favreau. Com Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Sam Rockwell, Adam Beach, Clancy Brown, Keith Carradine, Paul Dano.


Renato Cordeiro

Em seus melhores momentos, Cowboys e Aliens é um outro filme. Essa sensação já se dá no início do longametragem de Jon Favreau, quando vemos o desmemoriado personagem de Daniel Craig acordando em um lugar deserto. Nas devidas proporções, a câmera cerimoniosa e a sonoplastia discreta parecem remeter a Era Uma Vez No Oeste, obraprima de Sergio Leone. Mais adiante, um planossequência acompanha Harrisson Ford revelando a um garoto as atrocidades que já presenciou e fica uma curiosidade de como seria se o ator protagonizasse um legítimo western. Mas tudo o que o espectador tem à frente é esse exemplo de como Hollywood chegou mesmo ao fundo do poço.

Muito se fala que a crise no cinemão norteamericano pode ser percebida pela profusão de refilmagens e continuações, sinal de que os grandes estúdios estão com dificuldade de contar novas hitórias. Mas há também uma grande incompetência em lidar com um plot diferente como o de Cowboys e Aliens, inspirado em um gibi que reúne o bang-bang e a ficção científica. Poderia não render um trabalho monumental, mas seria pedir demais uma diversão minimamente decente? Parece que sim, já que a produção reúne um amontoado de clichês e personagens com a profundidade de um pires para tratar da missão empreendida por caubóis determinados a resgatar pessoas abduzidas. No grupo estão os arquétipos típicos: o padre, o médico, o fora-da-lei, só não a prostituta, pra não assustar as criancinhas, vai ver. A propósito, com o perdão do spoiler, dizem que é bom desconfiar de qualquer filme que não tem a coragem de matar um cão. Precisa dizer mais alguma coisa?

Misto de western e sci-fi, Cowboys e Aliens fracassa nos dois gêneros. Do primeiro, mistifica os índios e condiciona a crueldade dos personagens às necessidades imediatas do roteiro, algo que se percebe especialmente no Coronel Dolarhyde de Harrisson Ford, que é mau, pero no mucho. Do segundo, toma a superioridade tecnológica dos aliens como forma de aumentar a tensão do desafio dos humanos, mas desenvolve o combate de forma pouco convincente. Lembra Independence Day, mas sem sequer usar como ferramenta da virada de jogo o vergonhoso vírus de computador concebido no filme de Roland Emmerich. A batalha final de Cowboys e Aliens força a barra, especialmente depois que um dos personagens humanos de mais destaque morre, o que parece acontecer só pra justificar o revés do confronto.

Todos os problemas do filme empalidecem frente a uma constatação dolorosa:
Steven Spielberg se tornou parte da indústria estagnada que ele mesmo ajudou a repensar a partir do final dos anos 70, enquanto diretor do bom cinema-entretenimento de Encurralado, Tubarão e Os Caçadores da Arca Perdida. Como produtor ou produtor-executivo, o pai de E.T. ajudou a levar às telas bons longas como De Volta para o Futuro, Cartas de Iwo Jima e o remake de Bravura Indômita, mas também colaborou para que existissem os sofríveis Transformers, Um Olhar do Paraíso e, agora, Cowboys e Aliens. Spielberg ainda tem saldo mais que positivo na conta de qualquer cinéfilo, mas já não representa um selo de qualidade.

Nota: 4,0 (de dez)










segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Garota da Capa Vermelha


A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, EUA/Canadá, 2011) Direção de Catherine Hardwicke. Com Amanda Seyfried, Michael Hogan, Shiloh Fernandez, Max Irons, Gary Oldman, Michael Shanks, Lukas Haas, Billy Burke.


R Dantas

Amanda Seyfried
faz parte daquele seleto grupo de mulheres que faz com que questionemos os critérios para distribuição de beleza no mundo. A moça tem estado em muitos filmes nos últimos tempos, alguns bons como O Preço da Traição, outros bobos e esquecíveis como Cartas para Julieta e aqueles dos quais você deve fugir sem olhar para trás. A Garota da Capa Vermelha, uma livre adaptação de Chapeuzinho Vermelho, faz parte dessa última categoria.

A história se passa em uma aldeia que é aterrorizada por um lobisomem há séculos. Existe uma trégua entre os humanos e a besta, que é quebrada quando uma moça - irmã de Valerie, Amanda Seyfried - é encontrada morta. Padre Solomon, o querido Gary Oldman, é um exterminador das criaturas e também um religioso fanático que informa aos incautos habitantes que um dos aldeões é o animal. Intrigas e suspeitas se instalam e, em sua jornada, o padre comete assassinatos e outras brutalidades em busca de livrar as pessoas da maldição. No meio do frenesi, Valerie ainda acha tempo para namorar Peter às escondidas e ficar noiva – contra sua vontade - de Henry.

Há uma cena em que Valerie esconde uma faca na canela, veja bem, na CANELA, Henry levanta a saia da moça até a VIRILHA pra pegar a faca. Há muitas outras cenas como essa. Se você quiser ver Seyfried com pouca roupa, veja O Preço da Traição, um bom filme com Julianne Moore e Liam Neeson.

Voltando ao lobisomem, durante a lua sangrenta, que só acontece a cada 13 anos, quem for mordido está amaldiçoado.

ALERTA DE SPOILER


É claro que o filme se passa durante a lua sangrenta, é claro que as pessoas repetem isso o tempo todo, é claro que Valerie é a moça que a besta quer e é claro que o lobisomem é o pai dela. Poupe duas horas de sua vida, vá ver qualquer outra coisa.

O fato é que A Garota da Capa Vermelha tinha um certo potencial. Se Terry Gilliam tivesse dirigido, talvez tivéssemos um filme mais rico e sombrio ou até mesmo divertido como Os Irmãos Grimm. Mas quem dirigiu foi Catherine Hardwick, a culpada pelo primeiro filme da saga Crepúsculo, e é impossível não perceber que ela é mestra em agradar as meninas adolescentes: rapazes fortes, bonitos e românticos – temos até mesmo dois varões disputando o amor de uma só moça -, cenas de sexo implícito, bocas entreabertas e paixão arrebatadora.

O filme é baseado no livro de Sarah Blakley-Cartwright e David Leslie Johnson, esse último também responsável pelo roteiro, a obra entrou na lista de mais vendidos do The New York Times.

É Hollywood, mais uma vez, apostando – e ganhando* - na crença do amor romântico.




*A revista Preview deu 4 estrelas – de 5 – para o filme. Informação de Renato Cordeiro.










domingo, 18 de setembro de 2011

Coleção Hitchcock


Uma das coisas que se diz a respeito de Hitchcock, com toda a razão, é que ele é um daqueles gênios que conseguem bater a marca de dez obras-primas presentes na própria filmografia. Talvez por isso a Universal não encontrou problemas com a seleção de títulos para as caixas da Coleção Hitchcock. Os dois primeiros volumes já são prato cheio para o cinéfilo, reunindo obras com custo cerca de 35% menor em relação à compra de cada filme em separado.

O primeiro box tem como elo fraco da corrente
Topázio, thriller de espionagem que o próprio Hitch desgostou. Mas o resto compensa, a começar por Janela Indiscreta, filme frequentemente estudado e que traz a história de um sujeito que presencia o que parece ter sido um assassinato em um apartamento próximo. O protagonista é vivido pelo mesmo James Stewart que comparece em O Homem que Sabia Demais, com Doris Day em remake de um filme que o mesmo diretor lançou em 1934. Completando, Os Pássaros, um dos mais conhecidos longas do diretor, estrelado por Tippi Hedren, uma das poucas atrizes que tiveram vez em mais de um filme dele.

A segunda coleção é ainda melhor. James Stewart comparece outra vez no espetacular Festim Diabólico, sobre dois jovens assassinos que desafiam o professor a identificar o crime ocorrido dentro de um apartamento onde ocorre uma festa de aniversário. Um Corpo que Cai é uma obra bem associada ao tom psicológico típico do autor, que filma um intrigado Stewart que se envolve com a sósia perfeita de um amor do passado. O segundo volume traz ainda Frenesi, um dos últimos trabalhos do cineasta, que comandou ainda outro clássico presente no box, Psicose. Aquele mesmo da mulher gritando no chuveiro.

O unico lamento a respeito das duas caixas é que fazem uma seleção muito acentuada dos filmes consagrados de Hitchcock. Entre os oito títulos, o mais velho é o maravilhoso Festim Diabólico, de 1948. Mas o mestre do suspense tem toda uma gama de longas que são considerados lado B não por falta de qualidade, mas pela força descomunal das várias outras produções que ele dirigiu em seguida. Intriga Internacional, Marnie e O Homem Errado empalidecem trabalhos da fase muda e inglesa, como a primeira versão de O Homem Que Sabia Demais e A Estalagem Maldita, mas estes últimos merecem ter a um lugar em qualquer conjunto do tipo, por sinalizarem a evolução e dominio formal de um artista superior.










sábado, 17 de setembro de 2011

Phillip Glass - Koyaanisqatsi

Phillip Glass se apresentou em Salvador nesta noite, em um momento dedicado à música de câmara, com direito à participação do violinista revelação Tim Fain. Para os cinéfilos, boa oportunidade de conferir ao vivo o show de um nome bastante ligado à sétima arte, responsável pela partitura de longas como O Show de Truman e As Horas. Para quem não teve tempo ou grana sobrando para conferir a obra do sujeito, o BF traz um dos vários temas que Glass compôs para Koyaanisqatsi - Uma Vida Fora de Equilíbrio.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Embriagado de Amor


Embriagado de Amor (Punch-Drunk Love, EUA, 2002) Direção de Paul Thomas Anderson. Com Adam Sandler, Emily Watson, Philip Seymour Hoffman, Jason Andrews, Don McManus, Luis Guzmán.


Renato Cordeiro

Quem assistir Embriagado de Amor esperando uma comédia romântica comum vai se dar mal. Não que o filme careça de situações clássicas do gênero, mas o longa trata estes elementos criando rupturas. Se as produções do tipo se caracterizam pelas situações forçosas e inverossímeis, aqui são reunidas passagens que podem parecer inusitadas, mas não surreais. Um piano é abandonado no meio da rua no início da trama sem qualquer explicação, da mesma forma como provavelmente quem assistisse a cena na vida real se intrigaria, de fato. O protagonista esquece o número do apartamento da amada e corre por vários andares tentando lembrar qual a porta certa, como certamente aconteceria com um idiota apaixonado que não quer causar má impressão. Ao encontrá-la, a dor vai embora, uma música triunfante parece tocar dentro do peito. Como na vida real.

A direção de Paul Thomas Anderson acentua a desglamourização do personagem de Adam Sandler, que dá vida ao vendedor Barry Egan em interpretação correta e sem afetações. Em dado momento, o sujeito com problemas de autoestima liga para um desses serviços de sexo por telefone. Ele fica constrangido, só quer uma conversa normal com alguém que afaste a carência e ao sentar à mesa da sala, a câmera, implacável, faz questão de se deslocar para mostrar que há uma cadeira vaga, enquanto Egan espera ser atendido. Em outra passagem, ele está no trabalho, recebendo clientes para os quais tenta vender um desentupidor. As irmãs o interrompem e a cada ligação Barry se afasta da câmera, se desloca ao telefone, torna-se menor, vai sendo oprimido pelas garotas da própria família. Antes de uma crise de choro, Egan desabafa com um cunhado e diz que não sabe se tem algo de errado, por que não faz idéia do que se passa com as outras pessoas.

A trilha sonora, por vezes, é de uma percussão que parece propositadamente irritante, como se ditasse o ritmo da palpitação do homem que é dado a acessos de fúria. A mão do cineasta pode ser um pouco pesada demais ao retratar a agonia do protagonista, mas parece haver aí um caminho necessário a ser trilhado para que o espectador compreenda as mudanças que estão em jogo. Esse personagem imperfeito, loser profissional que usa terno e gravata para parecer mais importante, se apaixona, e o amor passa a ser a mola propulsora de sua crescente conquista de autoconfiança. Ao enfrentar o vilão encarnado pelo ótimo Phillip Seymour Hoffman, Barry afirma que o amor o faz mais forte do que seu adversário pode imaginar. Maneira curiosa de intimidar alguém.

Aqui reside aquela que parece a mais importante diferença entre Embriagado de Amor e outras comédias românticas. Uma pesquisa chegou a apontar como longas do tipo podem fazer mal aos relacionamentos reais, ao venderem a idéia de que o amor verdadeiro opera milagres. Mas Lena Leonard, papel de Emily Watson, aceita Egan em todas as suas fraquezas, em toda sua imaturidade, sem forçar uma súbita mudança radical como condicionante da relação, algo que parece acontecer como mágica em outras produções. Ao fim do filme, que foi crescendo na mente depois de tê-lo visto, lembrei de uma senhora que já sofreu muito em relações amorosas e pareceu sintetizar bem esta situação, ao me dizer que o amor é o exercício do apesar de.

Nota: 7,0 (de dez)










quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Disney Adventures in Samba


Renato Cordeiro

Circulando em uma dessas livrarias megastore, escuto uma versão do tema de A Pequena Sereia em uma simpática versão em samba, cantada por Diogo Nogueira. "Nada mal", pensei, e só então fiquei sabendo desse CD e DVD lançados em janeiro de 2010, Disney Adventures in Samba. O álbum, claro, tinha que ter na capa o Zé Carioca, esse personagem criado pelo próprio Walt Disney nos anos 40, atendendo à política de boavizinhança dos Estados Unidos. É provável que muitos considerem João Gilberto como o embaixador da música brasileira na Terra do Tio Sam, mas ainda que a bossa nova tenha sido uma onda que bateu forte nos anos 60, as canções do baiano Dorival Caymmi e do mineiro Ary Barroso chegaram antes, na mala do papagaio. Com uma boa dose de estereotipia, Zé Carioca mostrou ao mundo músicas que entoaram filmes como Alô Amigos, de 1942, e Você Já Foi à Bahia?, de 1944.

Mas isso é devaneio. Vamos ao disquinho, que verdade seja dita, é até razoável, apesar de alguns pontos baixos, incluindo canções interpretadas por grandes bambas. You’ve Got A Friend In Me, de Toy Story, torna-se um sambinha leve e morno demais na faixa Amigo Estou Aqui, com voz de Jorge Aragão. Martinho da Vila preserva a dignidade, mas também não consegue salvar a versão de When You Wish Upon a Star, prejudicada pelo arranjo manjado que resulta em Estrela Azul. A novidade Pagode Disney, cantada por Arlindo Cruz, é engraçadinha, mas não passa muito disso. Alcione e Sylvinha se saem melhor com o tema de A Bela e a Fera, talvez mais pelo carisma das intérpretes.

A boa sacada é ouvir o Grupo Molejo dando a costumeira tônica irreverente para recriar a clássica
Eu Vou, tema de Branca de Neve e Os Sete Anões. Casuarina manda muito bem em Os Quindins de Yayá, uma das composições de Ary Barroso que aparecem no filme Você Já Foi à Bahia?, animação que toma emprestado o nome do clássico de Dorival Caymmi, presente no disco na voz de Margareth Menezes. Ela e Daniela Mercury, baianas que possuem histórias mais envolvidas com o axé e o sambarregae, dão conta de parte do repertório que escapa do samba partido alto que domina o CD. La Mercury entoa Na Baixa dos Sapateiros, também de Barroso, lembrado ainda com Aquarela do Brasil, interpretada por Alexandre Pires.

A seguir, as faixas de
Disney Adventures in Samba e um vídeo com o produtor do CD.

01. Aquarela do Brasil – Alexandre Pires
02. Na Baixa do Sapateiro (Bahia) – Daniela Mercury
03. Tico Tico no Fubá – Leci Brandão
04. A Estrela Azul (When You Wish Upon a Star) – Martinho da Vila
05. Você já foi à Bahia? – Margareth Menezes
06. Aqui no Mar (Under the Sea) – Diogo Nogueira
07. A Bela e A Fera (Beauty and the Beast) – Alcione e Sylvinha
08. Eu Vou (Heigh Ho) – Grupo Molejo
09. O Que Eu Quero Mais É Ser Rei (I Just Can’t Wait To Be King) – Exaltasamba
10. Somente o Necessário (The Bare Necessities) – Dudu Nobre
11. Supercalifragilisticexpialidoso – Ana Costa
12. Amigo Estou Aqui (You’ve Got A Friend In Me) – Jorge Aragão
13. Os Quindins de Yaya – Casuarina
14. Pagode na Disney – Arlindo Cruz
















quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Longe Dela


Longe Dela (Away From Her, EUA, 2006) Direção de Sarah Polley. Com Julie Christie, Gordon Pinsent, Michael Murphy, Olympia Dukakis, Kristen Thomson, Wendy Crewson.


Renato Cordeiro

O amor na terceira idade é um elemento não muito presente na filmografia estadunidense. Talvez não haja muito interesse no assunto, mesmo. Uma pena, já que não são poucos os desafios que vêm depois do "pode beijar a noiva". No caso de Longe Dela, o problema em si está presente em qualquer momento de qualquer relacionamento. A trama gira em torno do conflito entre amor e posse.

Fiona e Grant são casados há quase quarenta anos, e se amam profundamente. Mas ela começa a apresentar problemas de memória e é diagnosticada com Alzheimer. A evolução da doença leva-os a decidir pela internação em uma casa especializada. Como é praxe na instituição, ele não poderá ver Fiona nos primeiros trinta dias, para não comprometer o período de adaptação. O problema é que após esse tempo ela já não reconhece Grant e passou a se interessar por um ex-namorado que está internado no mesmo lugar.

Guardando os devidos méritos a Julie Christie pela interpretação indicada ao Oscar, é o ator Gordon Pinsent quem mais brilha em cena. Seu personagem precisa decidir o que fazer com o amor e devoção pela esposa cuja vida pode não mais ter um lugar para ele. Esse conflito e a angústia da ressignificação são tratados com extrema delicadeza pelo roteiro de Sarah Polley, atriz que já era quase um selo de qualidade dos filmes em que atua e que começou a carreira de diretora com pé direito.

Nota: 8,0 (de dez)

(escrita em 19 de junho de 2008)









terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um Mundo Perfeito


Um Mundo Perfeito (A Perfect World, EUA, 1993) Direção de Clint Eastwood. Com Kevin Costner, Clint Eastwood, Laura Dern, T.J. Lowther, Keith Szarabajka, Leo Burmester.


Renato Cordeiro

Um Mundo Perfeito trata, em boa medida, da importância da paternidade em um mundo doente capaz de destruir um homem, desde cedo. O personagem de Kevin Costner é a expressão deste discurso. O foragido Butch Haynes atravessa o Texas levando consigo um menino que tomou como refém, Phillip, com quem passa a desenvolver uma amizade que denuncia as semelhanças entre os dois. O filme é explícito em mostrar que o bandido se importa com a criança de oito anos, mesma idade na qual Butch cometeu o primeiro assassinato. Enquanto é perseguido pela polícia, ele atravessa o Texas tentando fazer com que Phillip se divirta, afastando o peso dos acontecimentos. Diz ao garoto que ser um bom pai é a melhor coisa que um homem pode ser.

O outro núcleo da trama é encabeçado pelo xerife Red Garnett, vivido por Clint Eastwood em mais um daqueles papéis de homem durão à moda antiga. O sujeito tem como
contraponto a criminologista Sally Gerber, que integra a equipe no encalço de Haynes. Interpretada por Laura Dern, a mulher não se deixa intimidar ao passar a limpo a vida do foragido que carrega um passado turbulento, marcado pela infância vivida em um bordel onde a mãe trabalhava e em um reformatório para o qual foi enviado depois de roubar um carro. Tentando compreender as motivações do bandido, ela também descortinará para o público que o xerife Garnett tem razões pessoais para capturar Butch, havendo aí também uma relação criador-criatura.

O filme cresce ao longo da projeção, especialmente no terço final, que à medida em que avança, fica cada vez mais lento. Esta parte é basicamente dividida em dois cenários, partindo de uma casa onde o protagonista se revela em sua complexidade e ambiguidade moral, para o campo aberto onde a humanidade parece tão vívida quanto o verde que o cerca. O cineasta filma com ar contemplativo e melancólico, usando apenas o som dos pássaros e insetos do campo, quase sem trilha sonora.

Inicialmente, Clint Eastwood não atuaria no longametragem, mas o fez a pedido de Kevin Costner, que acabou dando um presente ao cinema e ao filme.
Um Mundo Perfeito vai desaguando em um clímax poderoso, um duelo frustrado e desarmado que coloca frente a frente, em um mesmo plano, dois atores-diretores responsáveis por Dança Com Lobos e Os Imperdoáveis, westerns fabulosos nos anos 90 sobre homens cansados de lutar.

Nota: 8,0 (de dez)










segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Comerciais Estrelados


O Air Mag, usado pelo Marty McFly no segundo capítulo da cinessérie De Volta Para o Futuro, ganhou uma propaganda que deve agradar em cheio os fãs da trilogia. Mas não é o único caso do tipo.

Que melhor garoto propaganda para um café do que o ator que interpretou Michael Corleone? Além do Al Pacino, outros astros e estrelas do cinema marcam presença nos comerciais que ganham não apenas as televisões, mas também a internet. No Brasil, a onda de importar essas caras famosas teve capítulos bem recentes, que incluem Dustin Hoffman e Bruce Willis. Abaixo, o BF elenca uma pequena relação de peças estreladas.



Tênis Air Mag, com direito a participação do Doc Brown.




Dustin Hoffman Vs Ricardo Macchi. Hilário.





Voz de Marlon Brando para comercial da Pepsi.





De Niro e Billy Cristal no Dia de Ação de Graças.





Segundo da série de quatro estilosos comerciais do Vittoria Coffe com Al Pacino.





George Clooney em um dos vários comerciais do Nespresso.





Viral com Jennifer Anniston.





John Travolta, pagando mico à moda anos 80.





Mais uma propaganda surreal dos japas, agora com Schwarzenegger.





Gisele e Stallone.





Bruce Willis mandando chutar paraquedas.





Ellen Page levando uma surra da tecnologia.














domingo, 11 de setembro de 2011

Ferris Bueller's Quiz


Que o filme Curtindo a Vida Adoidado mora no coração de muitos cinéfilos, não é novidade. Mas quem quiser conferir o quanto se lembra do clássico da Sessão da Tarde pode clicar aqui.









sábado, 10 de setembro de 2011

Air Mag


Essa é para quem adora a trilogia De Volta Para o Futuro, ou pelo menos para os fãs do ator Michael J. Fox. A Nike lançou uma réplica do tênis usado por Marty McFly na segunda parte da cinessérie. São apenas 1500 pares do Air Mag. É preciso participar de um leilão no eBay, que termina no dia 18. Tentei acessar o site e parece que a procura anda alta...

O dinheiro arrecadado será destinado à Michael J. Fox
Foundation, entidade que financia pesquisas sobre o Mal de Parkinson, doença que o ator descobriu possuir nos anos 90. Abaixo, a entrevista de Fox para David Letterman, tratando da luta contra a doença e, claro, o Air Mag.













sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Gran Torino


Gran Torino
(EUA/Alemanha, 2008). Direção de Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes, Dreama Walker.


Renato Cordeiro

Quando se descobriu que Clint Eastwood fazia um novo trabalho nos idos de 2008, a suspeita inicial era a de que se tratasse de um novo e último filme como o inspetor Dirty Harry. A confusão tinha sua razão de ser, já que o carrancudo
Walt Kowalski também é um sujeito hábil em lidar com a violência urbana. E se também é possível perceber semelhanças com outros tipos durões interpretados pelo californiano, existe uma profunda diferença na abordagem humana do herói de Gran Torino.

A trama começa bem, apresentando Kowalski no velório da esposa e logo depois um evento de luto na casa do agora viúvo. É evidente a aversão que os filhos e netos egoístas e insensíveis despertam no protagonista, que dá mais atenção à cadela da esposa, o belo Gran Torino 1972 parado na garagem e os vizinhos coreanos do bairro onde mora. A princípio, a aproximação com os chamados hmong é difícil, especialmente depois que um jovem da comunidade tenta roubar o valioso carro. Kowalski, a princípio relutante, passa a se tornar um mentor do rapaz e vai resgatando a paternidade que saiu dos trilhos no passado, um lamento que guarda em silêncio. Do mesmo modo, o veterano passa a conhecer e apreciar a companhia dos coreanos, que nada mais eram do que inimigos de guerra.

Sob diversos aspectos, a obra trata da busca por redenção, além de servir como um resumo da carreira do diretor-ator. Ainda que a contragosto, o protagonista é um samaritano, lembrando o padre de O Cavaleiro Solitário, remake de Eastwood para o clássico Os Brutos Também Amam. Já o fato de ter sido veterano da Guerra da Coréia remete imediatamente a O Destemido Senhor da Guerra. A viuvez do homem que ia à igreja só pra fazer companhia para a esposa equivale ao pistoleiro que tomou jeito em Os Imperdoáveis.

Embora a melhor interpretação de Clint ainda seja o tutor de Hillary Swank em Menina de Ouro, ele tem um trabalho superior como o veterano rabugento, demonstrando completo domínio sobre cada ruga da face desde o início do longametragem, quando observa os monstros nos quais os netos vem se tornando. A voz é um aspecto que chama a atenção pelo desgaste evidente, algo que Eastwood utiliza de forma competente para a composição do personagem, às vezes aborrecido e cansado, outras vezes assustador.

Enquanto diretor, Eastwood chega a ser bem explícito e por vezes piegas ao demonstrar a melancolia do personagem, quase sempre denunciada por closes no protagonista. Faz falta alguns planos mais abertos, especialmente nas cenas que se passsam na varanda da casa de Kowalski. Por outro lado, o cineasta compensa com momentos inspirados, como aquele em que o protagonista encara três marginais com mãos nuas e a sequência de imagens que intercalam os trabalhos desenvolvidos pelo jovem coreano com a supervisão de Walt. As imagens sinalizam que o sujeito obviamente mantém viva a crença na ética do trabalho e defende o valor dos homens à moda antiga.

Nota: 7,0 (de dez)


Abaixo, o clipe da música Gran Torino, com Jamie Cullum. Tambem é possível encontrar uma tocante versão com introdução de Clint Eastwood, a mesma que toca ao final do filme.













quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Arraste-Me Para o Inferno


Arraste-Me Para o Inferno (Drag Me to Hell, EUA, 2009) Direção de Sam Raimi. Com Alison Lohman, Justin Long, Jessica Lucas, Lorna Raver, David Paymer, Dileep Rao, Reggie Lee.


Renato Cordeiro

É bem verdade que Arraste-Me Para o Inferno está anos-luz à frente das asneiras do cinema de horror que vem ganhando os telões. Mas considerando o potencial do cineasta que sacudiu o gênero na primeira metade dos anos 80 e que conseguiu merecido respeito da crítica após Homem-Aranha 2, este novo filme de Sam Raimi fica devendo.

A trama tem foco em uma protagonista interessante, uma jovem bancária boazinha, pero no mucho. Ela deseja ganhar uma promoção, o que a leva a recusar um empréstimo para uma humilde senhora cigana que acaba se mostrando uma mistura de Baba Yaga com Chuck Norris. Para piorar, a velhinha entende de maldições, e faz com que a mocinha seja perseguida por demônios bem parecidos com aqueles da clássica trilogia Evil Dead, do mesmo diretor.

As semelhanças entre Arraste-me Para o Inferno e os três filmes estrelados por Bruce Campbell incluem ainda os enquadramentos alucinantes, o humor escatológico e até alguns elementos da trilha sonora. Até aí, seria o suficiente para garantir uma agradável sessão de cinema. Mas o cineasta Sam Raimi esqueceu (ou não se importou) com o fato de que, às vezes, é importante não entregar a compreensão total das cenas, de mão beijada, ao espectador. Ele investe, desde o começo do longa-metragem, em pequenas tomadas desnecessárias, que levam o espectador mais atento a antecipar diversos momentos da projeção - um problema particularmente indesejável em um filme de horror.


É um trabalho funcional, vale reconhecer. O diretor não perdeu o jeito e dosa bem os momentos de humor, além de ter bom domínio dos clichês do gênero, como os sustos favorecidos por rápidas intervenções da trilha sonora. Não são recursos dos mais originais, mas dão certo. Talvez essa nota aí embaixo seja mais um pequeno protesto de quem sabe que Sam Raimi tem muito mais a oferecer.

Nota: 6,0 (de dez)

(escrita em 16 de agosto de 2009)










quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Escorregando para a Glória


Escorregando para a Glória (Blades of Glory, EUA, 2007) Direção de Josh Gordon e Will Speck. Com Will Ferrell, Jon Heder, Will Arnett, Amy Poehler, Jenna Fischer, William Fichtner, Craig T. Nelson, Romany Malco, Nick Swardson, Scott Hamilton, Andy Richter, Greg Lindsay, Rob Corddry.


Renato Cordeiro

O pôster não é lá muito convidativo, o título brasileiro é sofrível e o produtor é o mesmo do irregular Com a Bola Toda. Motivos de sobra para o espectador desistir de ver Escorregando Para a Glória. Mas ainda que seja outra paródia d
o mundo do esporte, o filme apresenta resultados bem superiores, graças a uma história adequadamente esdrúxula, que tira bom proveito dos atores principais. É um daqueles trabalhos que faz por merecer o selo "não mudará sua vida, mas diverte".

Dois grandes patinadores de gelo se vêem obrigados a unir forças em uma competição para duplas. O primeiro problema é que eles são rivais fervorosos, que terão de aprender a pôr as diferenças de lado. O segundo problema é que são homens, os primeiros a formar dupla em um grande evento da modalidade. É claro, o plot abre caminho para cenas de constrangimento em tons de homofobia que rendem as melhores cenas do filme, especialmente durante os treinamentos dos rivais.

Will Ferrell está particularmente bem, enquanto Jon Heder arrancaria risos até involuntariamente. Além deles, destaque para o veterano Craig T. Nelson, vivendo o treinador que ajuda-os a se preparar para coreografias absolutamente hilárias, embaladas por canções selecionadas para tornar as passagens ainda mais hilárias, incluindo hits do Queen e Aerosmith.

A produção é feliz em dar ao filme um tom de seriedade que torna a experiência ainda mais engraçada, levando a cenas gostosamente ridículas, como aquele em que o par central treina uma perigosa manobra sob orientações do mentor e uma trilha sonora em tom heróico. Outra grande qualidade
de Escorregando Para a Glória é a economia: são apenas bem utilizados 93 minutos de projeção, menos que bombas como Vovó Zona 2 e outras películas do gênero que mais parecem instrumentos de tortura.

Nota: 7,0 (de dez)








terça-feira, 6 de setembro de 2011

Dívida de Sangue


Dívida de Sangue
(Blood Work, EUA, 2002) Direção de
Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Jeff Daniels, Anjelica Huston, Wanda De Jesus, Tina Lifford.


Renato Cordeiro

Dívida de Sangue é um desperdício do talento de Clint Eastwood. Difícil acreditar que o homem que dirigiu Menina de Ouro pôde comandar, apenas dois anos antes, um trabalho tão sem personalidade, previsível e datado. O longamentragem já começa mal, com uma abertura que remete a alguns filmes policiais de expressão nula lançados nos anos 70. A câmera sobrevoa a Califórnia à noite, saxofone tocando ao fundo, até que acompanhamos o protagonista descer do carro para chegar à uma cena de crime, onde foram deixadas mensagens do assassino para o nosso herói. Se fosse uma paródia, seria bacana, mas não é o caso.

Em um aspecto, o filme lembra
o bom suspense Na Linha de Fogo, de 1993, o mais antigo trabalho em que Eastwood atuou sem acumular a função de diretor. Ele assumia a idade como Frank Harrigan, um investigador que não se encontrava mais em condições de correr na escolta do presidente dos Estados Unidos. Em Dívida de Sangue, o ator faz um protagonista ainda mais vulnerável, desta vez o ex-agente do FBI Terry McCaleb. O sujeito se propõe a elucidar o assassinato de uma jovem, dois meses depois de ser submetido a um bem sucedido transplante de coração. A irmã da vítima usa um argumento contundente para convencer McCaleb a encarar a missão: o órgão que ele agora usa veio da garota morta. Daí o título brasileiro para o filme.

Embora o herói seja convincente e conte com a privilegiada carranca de Clint Eastwood, o filme não funciona, a começar pelos outros personagens. Falando nisso, ver Anjelica Huston em cena é uma satisfação eclipsada pelo papel que, apesar de importante para a trama, não tem o que acrescentar à carreira da intérprete. Ela faz uma cardiologista que acompanha o estado de saúde de Clint, deixando claro os riscos que corre por se lançar em uma investigação sendo um recém-transplantado. Outra falha está no já desgastado conflito entre o mocinho e os agentes da lei, configurada na relação entre McCaleb e dois detetives responsáveis pelo caso.

O roteiro é de Brian Helgeland, figura realmente imprevisível. Ao mesmo tempo em que já havia cuidado de textos que originaram Sobre Meninos e Lobos e Los Angeles - Cidade Proibida, participou de trabalhos menos inspirados, como Coração de Cavaleiro e Devorador de Pecados.
Na adaptação de uma história de Michael Connelly, temos mais uma bola fora. O mistério é fácil de ser elucidado pelo espectador e, quando finalmente é revelado, abre caminho para um desenlace morno e cheio de diálogos estúpidos e frases de efeito idem. Constrangedor. Se não fosse a presença e o carisma de Clint Eastwood, Dívida de Sangue seria uma bomba.

Nota: 5,0 (de dez)