domingo, 4 de novembro de 2012

O Estupefactante Aranhomem






O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-man, EUA, 2012)
Direção: Mar Webb (500 dias com ela)
Roteiro: James Vanderbilt (Zodíaco, Robocop), Alvin Sargent (Lua de Papel, Homem-Aranha 2 e 3) e Steve Kloves (série Harry Potter) 
Com: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field.

Daniel Fróes


Primeiro, o título do filme deveria ser "O Estupefactante Aranhomem".

Dito isto, o filme não é muito diferente do que promete - uma aventura adolescente com o aracnídeo da vizinhança.

Neste reboot, o pai de Peter é um bioquímico que estuda processos de mescla genética entre diferentes espécies. Ele foge de um perigo desconhecido, deixando Peter com os já conhecidos tios Ben e May.

Peter é menos "nerd" e mais "descolado" neste reboot. Ele anda de skate, é socialmente ativo na escola (faz parte do clube de debate) e mantém sua "veia fotográfica". É amigo (de certa forma) do valentão da escola (Flash), e conhecido de sua futura namorada, Gwen Stacy.

O enfoque da história é adolescente, os diálogos são adolescentes, o ritmo é adolescente, e isso não é uma coisa ruim, afinal o público alvo é o público adolescente. As personagens são mais críveis do que os 3 filmes anteriores, mais humanos - a menina bonita não é uma deusa inalcançável, o menino mau não é um monstro terrível, e o próprio Parker não é um nerd sociopata sem amigos.

As condições financeiras de Parker não são tão ruins quanto nos filmes anteriores, e há outras diferenças importantes, como a morte do tio Ben, que ainda é ocasionada pela "inação" de Peter.

O filme funciona razoavelmente bem como uma metáfora da fase adolescente da vida, onde o corpo muda pelos hormônios, onde o sexo se torna mais presente, onde queremos provar coisas, onde nos sentimos mais seguros de algumas coisas e menos seguros de outras.

A acabaram as coisas boas sobre o filme.

A história é boba e mau contada. Há coisas demais a serem "ditas", mas em pouco tempo e de forma corrida. Peter se comporta de uma forma quando está sem máscara, mas de outra muito diferente quando está travestido de Aranhomem - e não me parece que tenha sido de propósito, como para demonstrar nossa máscara social, mas sim um mau direcionamento da personagem.

Há muitas incongruências de realidade típicas de episódios de He-man: em alguns momentos o herói tem força e agilidade descomunais, e em outros ele apenas se aproxima dos limites humanos. Os carros quebram facilmente em alguns momentos, e são indestrutíveis em outros. Diretores e roteiristas de filmes de ação precisam aprender a lidar com essas coisas, urgentemente.

As capacidades intelectuais e conhecimentos de "ciências" de Peter também são  mostrados de forma confusa no filme, e ao final não sabemos se ele é realmente brilhante ou apenas sabe uma coisa aqui e ali que, somadas às anotações do pai, aparentam ser informações contundentes.

Não há construção da personagem em termos intelectuais, não acompanhamos o desenvolvimento do garoto. Vemos que ele tem algum conhecimento de mecânica porque ele tem uma tranca eletrônica na porta, mas de repente ele constrói em casa um lançador de teias. É inverossímil.

Assim como é inverossímil seu uniforme e mais ainda os óculos que ele usa, que não quebram.

Não posso falar muito de verossimilhanca com relação aos poderes - de Peter e de seu inimigo, Lagarto - mas uma coisa sempre me incomoda: o fato do poder "aranha" do Aranhomem não ter nada a ver com aranhas. Ele está mais pra Lagartixomem do que para Aranhomem, pela sua capacidade de se grudar nas coisas (algo que tentou ser sanado em Homem-Aranha 1, com as minigarras nas mãos e pés do herói, e a teia orgânica produzida por seu corpo).

Além disso, seu "sentido aranha" é, na verdade, místico. Sem contar que some e aparece de acordo com a necessidade do roteirista.

Algo que me parece muito mais "verossímil" é considerar o Aranhomem como um mutante que teve suas capacidades ativadas a partir do estresse causado pela aracnídea picada. Faria mais sentido.

Aliás, gostaria de avisar à bioquímica wannabe Gwen Stacy que aranhas não são insetos - ela se refere ao herói por bug-boy, algo como garoto-inseto.

Também vou alertar para um problema de direção de câmera: a inconsistência, em especial quando o Aranhomem está em ação. A "Visão POV" é utilizada hora sim, hora não, sem motivo aparente. Aquilo era pra vender jogo de Free Runing (LeParkour) com o herói, não?

O final do embate entre o herói e seu algoz é emblematicamente non-sense, porque o Lagarto salva o jovem, que poderia ter se salvo sozinho, sem grandes problemas.








sábado, 28 de julho de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA/Reino Unido, 2012). Direção de Christopher Nolan. Com Christian Bale, Tom Hardy, Gary Oldman, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine, Matthew Modine, Liam Neeson, Cillian Murphy.


Renato Cordeiro

Christopher Nolan falhou. O diretor sempre teve vícios, mas se metia em projetos com variados pontos altos que compensavam algumas deficiências. Os êxitos em filmes como A Origem e o próprio Batman - O Cavaleiro das Trevas justificaram por tempos o bordão "In Nolan, We Trust". Mas agora, os vícios do cineasta ressurgem misturados à quase absoluta falta de atrativos no capítulo que encerra a trilogia dedicada ao Homem Morcego. Há clichês, excesso de personagens, uma trama smplória e cenas de ação tediosas, ainda que os efeitos especiais, como era de se esperar, funcionem bem.

Se podemos citar um ponto alto deste "Batman 3" é a capacidade do filme em construir tensão. O grande ponto baixo é justamente não saber o que fazer com isso. A trama acumula uma série de situações desesperadoras para o herói, subjugado física e mentalmente pelo terrorista brutamontes chamado Bane. O confronto cria uma dimensão trágica de proporções ainda maiores das que verificamos no longa anterior, cuja história se passa oito anos antes. O problema de plots  como esse é que a aguardada reviravolta costuma não soar convincente. Nesse ponto, a produção falha miseravelmente.

Depois de derrotar Batman, Bane o aprisiona em uma masmorra especial e passa a dominar a cidade do personagem. Convenhamos, a forma como Bruce Wayne se recupera da surra é um tanto difícil de engolir. E apesar de ser um leigo em assuntos de coluna, imagino que as quedas subsequentes em tentativas de escalada promovidas pelo herói deveriam ter custado a espinha do dito cujo. A esta altura, os iniciados na mitologia do herói dos quadrinhos já terão percebido elementos das sagas A Queda do Morcego e Terra de Ninguém. O vilão perenemente mascarado e bem-interpretado por Tom Hardy cria um governo próprio em Gotham City e parece apenas estar esperando seu oponente "ressurgir", mas inexplicavelmente, quando isso finalmente acontece, Bane se mostra surpreso. 

E não, esse parágrafo acima não pode ser considerado spoiler. Isso é um filme de super-heróis, lembra? O herói tem que voltar. Mas não vamos entrar em maiores detalhes.

A segunda metade do filme de quase três horas torna-se crescentemente enfadonha. Na cidade sitiada, os personagens lutam para se estabelecer e criar uma resistência, mas tudo acontece rápido demais, é coisa demais ocorrendo ao mesmo tempo. Christopher Nolan já havia mostrado que tinha um jeito meio fast food de filmar. Basta lembrar a cena do capítulo anterior, O Cavaleiro das Trevas, quando o Comissário Gordon, que estava dado como morto, volta para a família. A porta se abre, vemos a esposa do policial encarar o marido, dar-lhe um tapa e, de outro ângulo, vemos o personagem de Gary Oldman entrar na casa, tudo em menos de dez segundos. As coisas estão lá, mas a pressa de Nolan arranca toda a profundidade. Agora, em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, esse mesmo problema se torna ainda mais evidente. Repare, por exemplo, como Nolan usa insistentemente o recurso da fala em off para costurar cenas e economizar tempo, ligando espaços diversos, saturando o filme.

Como se não bastasse, a trama co-escrita pelo diretor usa e abusa de clichês e situações simplesmente absurdas. Há várias daquelas passagens em que os personagens citam assuntos que você, cinéfilo mais atento, percebe que serão retomadas mais à frente, o que leva alguns pontos da trama a uma alta previsibilidade. Como se não bastasse, o terceiro ato inclui uma pavorosa sequência na qual policiais e bandidos se enfrentam em plena rua, com os primeiros rumando brava e estupidamente em direção aos inimigos que estão armados com metralhadoras. Um dos policiais de destaque um pouco maior na trama morre nesse combate e a câmera se aproxima de forma nada sutil, como se pudesse gritar: "está vendo, ele está morto mesmo!" É como um Gangues de Nova York mais tosco - e com o Batman no meio.

Christopher Nolan precisa ser mais do que um cineasta que escolhe bons projetos. Tem que começar a se preocupar em não sabotá-los.

Nota: 5,0 (de dez)












quinta-feira, 31 de maio de 2012

Christopher Lee - 90 anos


Daniel Fróes

O ator britânico Christopher Lee completou no último dia 27 nada mais nada menos que 90 anos de idade. Segue aqui uma nano retrospectiva da carreira do ator.

Primeiro, o rapaz mantêm o recorde do Guiness de mais aparições em créditos de filme na história. Não é pouca coisa. Na sua lista de filmes do IMDB (Internet Movie Database - imdb.com) constam 276 filmes, sendo que alguns estão EM ANDAMENTO (ele vai ser Saruman em O Hobbit).

Pra aumentar seu nível de awesomeness, ele é cantor, e no dia do seu aniversário lançou uma música de Heavy Metal intitulada Let legend mark me as the King (ele lançou um disco de Heavy Metal em homenagem a Carlos Magno, By the Sword and the Cross, em 2010).

Sua primeira atuação no cinema foi em 1947, e ficou famoso por trabalhar em filmes de terror, como no papel de monstro no filme The curse of Frankenstein (1957), no papel de Drácula no filme Horror of Dracula (1958), no papel de múmia em The Mummy (1959).

Já interpretou Sherlok Holmes, Mefistófeles e Lúcifer (o diabo), piratas, vampiros, condes, reis, vilões orientais, Dr. Jekyll, inimigo de James Bond (O Homem com a Pistola de Ouro), Rasputin, e até mesmo Morte, do universo de Discworld (num curta-metragem). Ele trabalhou em filmes de horror e terror, em comédias, em épicos, filmes de aventura, de ação, de espionagem.

Seus trabalhos mais aclamados recentemente foram nas trilogias Senhor dos Anéis e Guerra nas Estrelas (a nova trilogia). No primeiro, ele interpretou Saruman, o branco. No segundo, o famigerado conde com nome dúbio. Trabalhou em cinco filmes de Tim Burton, incluindo o novo Dark Shadows, e voltará a interpretar Saruman, como dito acima, em O Hobbit.

Ele também é bastante procurado para ser ator de voz de diversos personagens (de filme e video game), tendo cantado em duas trilhas sonoras distintas (The Wicker Man e The Return of Captain Invincible).

O rapaz também é Cavaleiro da Rainha da Inglaterra, tendo recebido a Ordem do Império Britânico em 2001.

Vale dar uma olhada na página dele da Wikipedia.

E não, ele não é parente de Stan Lee. Ou Rita Lee. Ou Bruce Lee.

Parabéns, Sir!










quarta-feira, 30 de maio de 2012

Os Vingadores


Os Vingadores (The Avengers, EUA, 2012)
Direção: Joss Wheldon (Serenity)
Roteiro: Joss Wheldon (Toy Story, Alien: Ressurrection, Titan AE, Serenity, A Cabana na Floresta) e Zak Penn (Inspetor Bugiganga, Atrás das Linhas Inimigas, Incrível Hulk)
Com: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow.



Daniel Fróes

Os vingadores é o ponto final de um plano de marketing.

As franquias de Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Hulk (esta última, de forma menos eficiente, passando por um reboot) foram criadas já pensando num produto final - o filme Os Vingadores.

Com exceção de Hulk, que teve problemas graves de formatação, encontramos no filme os heróis (e vilão) tal qual foram apresentados em seus filmes de origem, com pequenas evoluções decorridas do tempo entre as aventuras. Tony Stark ficou mais sério e menos bagunceiro (pra possibilitar existir alguma chance de ele se adequar à equipe) mas continua impertinente, piadista e irresponsável (sem contar auto-confiante); Thor continua um bobão de bom coração e Capitão América continua… Capitão América. Nick Fury também está compatível com os outros filmes, assim como sua equipe. Isso é um ponto positivo.

O filme não tem exatamente um roteiro maravilhoso - vilão pega grande força mágica dos mocinhos, que passam o filme tentando recuperá-la. Vilão usa força mágica pra trazer possível derrota aos mocinhos. Mocinhos brigam entre si. Mocinhos se juntam e vencem vilão, sem grandes perdas - mas os filmes anteriores também não têm.

Como só um problema de nível mundial poderia forçar a união entre estes personagens, o escolhido pra ser vilão foi o irmão de Thor, Loki. Que ou é incrivelmente poderoso e burro, ou é cercado por idiotas que o deixam fugir e ficar pegando objetos mágicos por aí. Eu votaria nas duas opções.

Pensando nesse assunto, Loki deve ter uma lábia muito boa. A todo momento alguém com um poder muito grande em mãos resolve, em vez de usar esse poder, dá-lo a Loki para que ele faça bom uso. Vai entender.

Como estamos falando de uma adaptação de gibis, o filme traz problemas inerentes ao gênero, como por exemplo, força a barra para manter o grupo unido. Com isso não quero dizer que Tony Stark não faria parte do grupo ou algo assim (é mais estranho Batman fazer parte da Liga da Justiça do que Tony Stark fazer parte dos Vingadores). Estou me referindo a total e completa diferença entre os níveis de poder das personagens - coisa muito difícil de lidar em qualquer história envolvendo super-heróis.

O filme tenta forçar a barra equivalendo os poderes de Homem-de-Ferro, Thor e Capitão América. Não dá. Homem-de-Ferro (HF daqui pra frente) possui uma armadura realmente poderosa, que deixa CA (Capitão América) literalmente no chinelo, mesmo com seu super-ultra escudo. CA é um homem no topo das capacidades físicas humanas, mas nenhum humano é imune a um tiro de .45. Nem tem força para levantar um tanque.

Se CA já é infinitamente inferior, em termos de poder, a HF, quem dirá a Thor, que é muitas vezes superior a HF. Há uma discrepância muito grande aí. E isso me incomodou muito.

Agora, se isso é um problema entre esses três, eu me pergunto: que diabos Viúva Negra e Gavião Arqueiro estão fazendo no campo de batalha contra alienígenas fortões com super tecnologia bélica? Desculpem, mas não dá pra engolir. Como se diz na Bahia, dois altos, por favor. Estes personagens são interessantes, e poderiam ter sido muito bem utilizados de outras maneiras (como foram, em parte do filme). Mas colocar eles no front é pedir muito para o senso de realidade do espectador. Me lembro da cena em que (SPOILER ALERT, mas é fraquinho) VN pede que CA a jogue para o alto, para que ela intercepte uma nave alienígena em alta velocidade. Se um ser humano parado é atingido por um automóvel a 50 km/h, ele provavelmente terá diversas fraturas pelo corpo todo, se não morrer. O que aconteceria se uma pessoa colidisse com um bólido extremamente denso com velocidade superior a 100 km/h? Pois é (FIM DO SPOILER).

Outro problema grave do filme é o Deus Ex Machina, ou como se diz em bom rpgês, a mão do mestre. Aconteceu duas vezes, e é claro, a favor dos mocinhos.
A primeira foi quando (SPOILER ALERT) nosos amigo Loki encostou a lança em Tony Stark, para dominar sua mente, e não conseguiu por causa do seu Capacitor de Fluxo Peitoral (eu sei que aquilo não é um capacitor de fluxo, calma). Simplesmente não faz sentido. Não funcionou porque dissipou a energia no Capacitor? Ok, ele usa em outra parte do corpo. Tem que ser no coração? Ok, então eu vou te matar, Tony Stark. Ponto.

A segunda foi quando (AINDA TEM SPOILER) Banner chega no campo de batalha (ou seria na urbes de batalha? Fiquei confuso agora), e se transforma em Hulk "porque sim". Desculpe galera, mas não dá pra engolir essa não. Demitam esse roteirista, por favor. 

E finalmente (MAIS SPOILER) temos a batalha final, que é um enorme Deus Ex Machina sem fim. Principalmente em se tratando dos bichões gigantescos voadores - o primeiro se mostra dificílimo de destruir, os outros dois não passam de um origami de tão fácil que morrem. E os soldados rasos, que são gigantes, fortes e rápidos, são derrotados numa facilidade impressionante. Até GA consegue fazer um deles VOAR com um chute. Pois é (FIM DO SPOILER).

Claro, NÃO É ISSO QUE IMPORTA. Num filme desses, mais importante é se divertir. É verdade que ele seria mais completo se conseguisse fazer tudo ao mesmo tempo - ser coerente, ter um roteiro genial, ser bem feito e bem dirigido, e ser divertido. Isso é muito difícil. Mas o objetivo principal é alcançado.

Contudo, vale ressaltar: o filme é muito leve, é feito para jovens e crianças, não tem a densidade que Batman - The Dark Knight teve, por exemplo. É uma opção. Eu sempre acho que um pouco de densidade ajuda, mas não é obrigatório. Claro, segue a lógica dos outros filmes, então tem o mérito de ser coerente. Os filmes individuais dos heróis também são bem leves, sem grande densidade.

O filme é divertido. Muitas tiradas legais (algumas poderiam ter sido tiradas do filme, mas tudo bem), muita ação, excelentes efeitos especiais. A batalha final é chata, mesmo, mas não destrói o filme. Tem tensão, tem personagens interessantes, tem umas culhudas legais de se ver (culhuda = mentira, pra quem não sabe). No final, o saldo é positivo.










segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Mestre da Vida


O Mestre da Vida (Local Color, EUA, 2006) Direção: George Gallo. Com Armin Mueller-Stahl, Trevor Morgan, Ray Liotta, Charles Durning, Samantha Mathis, Ron Perlman, Diana Scarwid, Julie Lott, Tom Adams.


Renato Cordeiro

O Mestre da Vida faz a linha de filmes sobre professores relutantes, que tem entre outros exemplares Procurando Forrester, com Sean Connery, e O Homem Sem Face, com Mel Gibson. Mueller-Stahl vive o recluso pintor Nicholi Seroff, russo que domina a arte representativa e se vê alvo de insistentes pedidos de um jovem artista em busca de conhecimento. Acaba aceitando ter o rapaz como aprendiz e hóspede em uma casa no campo onde se passa a maior parte da história, que é apresentada como semiautobiográfica: o aspirante John Talia está para o diretor e roteirista George Gallo assim como Seroff está para o russo George Cherepov, que foi mentor de Gallo nos anos 70.

O longa resgata memórias de Talia sobre o retiro de estudos com seu professor em uma paisagem convidativa à inspiração. Como seria de se esperar em um projeto como este, a beleza natural em torno dos protagonistas é capturada pelas câmeras de Gallo de modo a fazer jus àquelas emolduradas pelos personagens. Não causa surpresa, assim, que o diretor de fotografia do filme, Michael Negrin, seja também o narrador da história, como a versão madura de John Talia. O alter ego do protagonista, o diretor George Gallo, também ele pintor, é responsável por boa parte das peças apresentadas no longametragem.

O Mestre da Vida é até um bom filme, mas escorrega feio quando mergulha em uma trôpega dialética. Para valorar aquilo que une os protagonistas, a arte representativa, o roteiro sabota as falas e atitudes daqueles que defendem a arte progressiva, fazendo que com torne-se feia, sem sentido e presunçosa. A atuação de Ron Pearlman, exalando desdém como um amigo de Seroff, denuncia a maneira pejorativa como o projeto apresenta este tipo de arte, ou não-arte. Boa parte da produção associada a esse segmento pode até não valer um níquel furado, mas é uma pena que a película não aborde essa oposição de forma mais qualificada.

Nota: 7,0 (de dez)












sábado, 12 de maio de 2012

As Donas da Noite


As Donas da Noite (Wir sind die Nacht, Alemanha, 2010). Direção de Dennis Gansel. Com Karoline Herfurth, Nina Hoss, Jennifer Ulrich, Anna Fischer, Max Riemelt, Arved Birnbaum, Steffi Kühnert.


Renato Cordeiro

Enquanto alguns bons filmes de vampiro foram produzidos fora da Terra do Tio Sam, a Alemanha pariu um dos exemplares mais fracos dos últimos anos, considerando aqueles que tiveram uma produção mais significativa. Foram 6,5 milhões de euros gastos em uma produção que costura alguns maneirismos próprios de um segmento já muito maltratado do cinema de horror. Se, numa comparação forçosa, Deixe Ela Entrar corresponde a Entrevista com o Vampiro, então As Donas da Noite equivale a Anjos da Noite.

Um dos vários problemas desta produção é a construção preguiçosa de Lena, a protagonista. Pouco sabemos e pouco saberemos ao longo do filme sobre esta jovem maltrapilha que se torna objeto de desejo de Louise, a líder de um trio de vampiras, que reconhece na personagem um amor do passado. A trama não oferece algo sobre a garota que faça o espectador compreender ou se importar com o peso dos acontecimentos vividos por ela. Por exemplo, não soa convicente a crise de consciência que aos poucos toma conta de Lena quando se torna imortal e entra numa espiral de boemia sanguinária e transgressora. O remorso que se abate sobre a nova vampira parece atender apenas às necessidades imediatas de um roteiro que não demonstra qualquer traço de criatividade.

As Donas da Noite sequer consegue esboçar alguma provocação. Cria um clima homoerótico entre Lena e Louise, mas não o desenvolve. Dá para a antiga Lena um ar de junkie maltrapilha, mas não nos leva a descer com ela ao inferno que o filme tenta nos convencer que era a sua vida humana. Improvisa um romance entre a protagonista e o policial que não é explorado o suficiente para dar peso às inseguranças na semivida que Lena abraçou. Enquanto isso, o longametragem deixa de se dedicar a alguns elementos interessantes das companheiras de grupo, a exemplo da vampira que tem como filha uma mortal em idade avançada.

Em As Donas da Noite, a forma é tão desgastada quanto o conteúdo. A razoável sequência inicial, dentro de um avião, não encontra paralelos ao longo do resto da projeção. Se você gosta de filmes sobre vampiros e busca algo interessante feito fora dos EUA, vai encontrar aqui uma dupla decepção. Uma produção que, além de ruim, emula o que há de pior na parte do cinema estadunidense que se vende como sendo de horror.

Nota: 3,0 (de dez)










terça-feira, 1 de maio de 2012

O Incrível Hulk


O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, EUA, 2008). Direção de Louis Leterrier. Com Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth, William Hurt, Tim Blake Nelson, Ty Burrell, Christina Cabot, Peter Mensah, Lou Ferrigno, Paul Soles, Débora Nascimento, Greg Bryk, Chris Owens, Al Vrkljan, Adrian Hein, Robert Downey Jr. 


Renato Cordeiro

Tudo novo. O longa-metragem começa com a nova origem do monstro que atormenta o cientista Bruce Banner, agora vivido por Edward Norton. É uma rápida apresentação. A idéia não é fazer um "filme de origem", mas deixar claro que não se trata de uma continuação do criticado Hulk, dirigido por Ang Lee em 2003. Os produtores resolveram apostar na pancadaria e deixar a cerebração um tanto de lado - e ainda assim funcionou.

Na história, o atormentado Bruce Banner é mostrado em sua vida de isolamento, tentando achar uma cura para não mais se transformar em um monstro verde quando se enfurece ou é submetido a situações de tensão. Mas um acidente faz com que os militares estadunidenses descubram seu paradeiro e partam ao Rio de Janeiro em seu encalço. Que diabos faz um cientista em busca de paz parar em uma favela do Rio visivelmente violenta, não me pergunte. Mas as cenas de perseguição são boas.

Era o que os fãs queriam. Menos cerebração, boas cenas de ação, e de quebra, referências à mitologia dos gibis e à série estrelada pelo personagem nos anos 70. Espremidos entre uma pancadaria e outra, há uns poucos momentos dramáticos e uma boa química entre o par Norton e Liv Tyler. O ponto fraco, como costuma acontecer nestas adaptações, é a meia hora final. Tudo termina em porrada, como não poderia deixar de ser, afinal, é o Hulk. Mas a última luta é tediosa e causa constrangimento ver os coadjuvantes sem muito o que fazer no meio daquilo. Nada que comprometa mais um bom longa-metragem com personagens da Marvel Comics, que a exemplo do ótimo Homem de Ferro, agora produz as próprias adaptações. Até aqui, tudo bem.

Nota: 7,0 (de dez)


(Adaptado de texto de 18 de junho de 2008)















domingo, 29 de abril de 2012

Os Vingadores


Os Vingadores (The Avengers, EUA, 2012). Direção de Joss Whedon. Com Chris Evans, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson, Mark Ruffalo, Jeremy Renner, Clark Gregg, Cobie Smulders, Stellan Skarsgard, Gwyneth Palthrow.


Renato Cordeiro

Os Vingadores coroa com sucesso o plano de firmar personagens dos quadrinhos da editora Marvel no cinema pop. É um processo que já vem de longa data e que pôde ser percebido por elementos em comum de cinco produções, a partir de 2008: O Incrível Hulk, Thor, Capitão América - O Primeiro Vingador e os dois primeiros longas do Homem de Ferro. Cada um destes filmes, em maior ou menor grau, dialogavam com os demais e com o grande blockbuster que estava por vir, reunindo os heróis em uma mesma trama. E se pelo menos Thor e Homem de Ferro 2 ficaram bem a desejar, Os Vingadores, ainda que não seja memorável, é até divertido.

O plot é bobo e fácil de resumir: heróis com habilidades extraordinárias são convocados pelo governo dos EUA para dar cabo de uma ameaça alienígena que pode escravizar a humanidade. Nada diferente do que se vê nos quadrinhos dedicados a super-equipes. O diretor Joss Whedon, que redigiu o roteiro com base em história de Zack Penn, costura estes e outros clichês dos quadrinhos, a exemplo dos combates entre personagens que serão futuros aliados e o herói dado como morto no final da trama. Mas o que falta de criatividade narrativa sobra em boas sequências de ação, diálogos ágeis e bom-humor.

Por vezes, o filme mais parece uma comédia de aventura, já que todos os protagonistas conseguem espaço para alguma situação engraçada, com inevitável destaque para o Homem de Ferro de Robert Downey Jr., que tem a maior parte dos melhores momentos. Curiosamente, até o Hulk entra na ciranda de risos, tendo a truculência utilizada como pilar de uma condição de alívio cômico - por sinal, bem eficiente. A ação também tem destaque pela clareza da câmera de Whedon, que se revela um talentoso diretor para momentos de ação mais elaborados, embora tenha suas falhas. Entre as passagens mais interessantes, há um planossequência durante o combate final que intercala os integrantes da equipe. Entre os momentos ruins, estão algumas lutas ambientadas no escuro, especialmente aquela envolvendo Víuva Negra e Hawkeye, mais conhecido no Brasil pelo nome de Gavião Arqueiro.

Quando se pensa em filmes de super-heróis, difícil não lembrar do sucesso de X-Men 2, cuja trama envolve uma grande quantidade de mutantes da mesma editora em uma produção da Fox. Embora não tenha uma trama tão interessante, Os Vingadores chega à altura da performance deste longa de 2003, dando um pouco de espaço a cada um dos personagens e exercitando a interação entre os mesmos. A vantagem de Joss Whedon é que ele não tem de dedicar tanto tempo aos protagonistas, que já foram apresentandos no cinema. À excessão do Dr. Banner, alter ego do Hulk, todos são vividos pelos mesmos atores vistos nas telonas anteriormente. Por sinal, Mark Ruffalo compõe o cientista de forma ainda mais interessante em relação às performances de Eric Bana e Edward Norton, fazendo um trabalho de voz e uma economia gestual que sinalizam o perene grau de controle que exerce sobre a contraparte monstruosa.

Nota: 6,0 (de dez)









terça-feira, 24 de abril de 2012

O Homem Sem Face


O Homem Sem Face (The Man Without a Face, EUA, 1993). Direção de Mel Gibson. Com Mel Gibson, Nick Stahl, Margaret Whitton, Fay Masterson, Gaby Hoffmann, Geoffrey Lewis, Richard Masur, Michael DeLuise, Ethan Phillips, Jean De Baer, Jack De Mave, Justin Kanew.


Renato Cordeiro

A carreira de diretor de Mel Gibson pode ter um momento oscarizado como o ótimo Coração Valente e polêmico como A Paixão de Cristo, mas o começo foi exageradamente banal. Típica narrativa a abordar a relação preofessor-aluno, O Homem Sem Face carrega vários clichês do gênero, mas até que funciona. Por outro lado, se pudesse ser um pouco menos emotivo e um tanto mais ousado, o primeiro filme do astro como diretor poderia ser algo mais do que um aparente ensaio.

A trama mostra o jovem Chuck Norstadt às voltas com a preparação para uma prova que pode fazê-lo seguir os passos do falecido pai. Entre as preocupações dele estão as questões de latim, para as quais ele encontra como luz no fim do túnel o temido McLoad, um homem que vive sozinho em uma casa isolada da mesma pequena cidade. Aos poucos, o garoto consegue convencer o professor a dar aulas particulares, fazendo pequenos serviços em contrapartida. A amizade deles será ameaçada pelo preconceito passou a rondar a vidade de McLoad desde o acidente que deformou-lhe o rosto.
 
Um dos equívocos do filme reside no personagem vivido pelo próprio Gibson, que é bem mais complexo na obra na qual o longa se baseia, de autoria de Isabelle Holland. Se o ator-diretor não optasse por suaviza-lo, a reclusão do desfigurado ex-professor McLeod seria ainda mais compreensível e o filme fugiria mais facilmente das comparações com tantos outros que apresentam mestres relutantes. Não que uma produção tenha de fugir das fórmulas como o diabo foge da cruz, mas O Homem Sem Face não tem muito mais o que acrescentar. A coisa parece funcionar mais pelo bom desempenho do Gibson, que carrega o próprio filme nas costas.

Nota: 6,0 (de dez) 









  

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Clube do Imperador


O Clube do Imperador (The Emperor's Club, EUA, 2002). Direção de Michael Hoffman. Com Kevin Kline, Emile Hirsch, Embeth Davidtz, Rob Morrow, Edward Herrmann, Harris Yulin, Paul Dano, Rishi Mehta, Jesse Eisenberg, Gabriel Millman, Chris Morales, Patrick Dempsey.


Renato Cordeiro

O senhor Hundert é um dedicado professor de História que busca inspirar os alunos de uma escola tradicional através das grandes realizações de homens como César, Augusto e Platão. Em dado momento da primeira aula, pergunta aos estudantes como a História se lembrará deles. E em uma trama tão envolvida no valor do mérito e da grandiosidade das conquistas humanas, o protagonista deixa claro que a própria realização está no desenvolvimento dos alunos. E assim como ocorreu com os grandes imperadores, a ambição que o motiva também pode arruiná-lo.

Como é típico de filmes sobre professores, O Clube do Imperador aborda a relação com o estudante como algo mais do que uma transmissão de conteúdos, mas também de valores. Vivido com o carisma de sempre pelo ótimo Kevin Kline, Hundert é um sujeito que nasceu em missão acadêmica: disciplinado, educado, tímido e meritocrático. Ele passa a medir forças com um novo estudante, Sedgewick Bell, o arrogante e orgulhoso filho de um influente senador. A relação, inicialmente difícil, vai ganhando contornos de respeito à medida que o rapaz começa a mostrar algum progresso e faz nascer no professor uma centelha de esperança.

O diretor Michael Hoffman faz aqui um trabalho de absoluta sobriedade, sem qualquer cena particularmente chamativa do ponto de vista técnico. O foco e os fortes são os atores, incluindo o ótimo jovem elenco. Temos aqui alguns nomes que viriam a ser mais conhecidos anos depois, como Jesse Eisenberg, de A Rede Social, Emile Hirsh, de Na Natureza Selvagem, e Paul Dano, de Sangue Negro. Uma curiosidade é a rápida participação de um ex-astro adolescente, Patrick Dempsey.

Nota: 7,0 (de dez)









sexta-feira, 16 de março de 2012

Prometheus TED

Ótima sacada. O novo filme de Ridley Scott, Prometheus, que marca a volta do cineasta ao universo de Alien, ganhou um vídeo viral que simula uma palestra em uma das consagradas conferências TED. O expositor é ninguém menos que Paul Weiland, empresário que é um dos personagens do filme. O discurso é aquele típico da sci-fi: o homem que busca superar os limites e favorecer um novo passo a ser dado pela humanidade. Pearce carrega um tanto demais na interpretação, mas até que pode funcionar.














quinta-feira, 15 de março de 2012

O Poderoso Chefão - 40 Anos




Há 40 anos, chegava aos cinemas um monumento da sétima arte. O Poderoso Chefão é um daqueles casos de obra perfeita nos elementos constituintes. Direção, elenco, trama, fotografia, trilha sonora, tudo tem excelência. Se é possível destacar apenas uma única coisa entre tanta beleza, do comando excepcional de Copolla à música imortal de Nino Rota, este cinéfilo ficaria com a assombrosa interpretação de Marlon Brando. O vídeo acima dispensa comentários.

Embora eu procure evitar adjetivar demais o texto, há de se fazer exceções de vez em quando.













quarta-feira, 14 de março de 2012

2º Festival de Cinema Universitário da Bahia


Começa nesta quinta-feira, dia 15, a segunda edição do Festival de Cinema Universitário da Bahia. O evento tem sede em Salvador e reúne 10 curtas na mostra competitiva e outros 40 na informativa. A abertura, no Cine Cena Unijorge, terá uma homenagem ao cineasta baiano Sérgio Machado, diretor de Cidade Baixa e Quincas Berro D'Água.

Mas detalhes aqui.










terça-feira, 13 de março de 2012

Entre os Muros da Escola


Entre os Muros da Escola (Entre les murs, França, 2008). Direção de Laurent Cantet. Com François Bégaudeau, Agame Malembo-Emene, Angélica Sancio, Arthur Fogel, Boubacar Toure.

Renato Cordeiro

Entre os Muros da Escola é um excelente retrato dos desafios atuais da educação. A ação se passa na França, mas as angústias em cena poderiam facilmente ocorrer no Brasil e outros países. Os muros da escola são porosos, não podem impedir que a sala de aula se torne o microcosmo de uma sociedade doente. Quem está acostumado aos filmes que fazem parecer fácil a missão dos educadores vai perceber aqui um quadro mais complexo e pouco convidativo a um final feliz.

François Marin leciona francês em uma classe que parece o pesadelo de qualquer professor: há estudantes indisciplinados, desmotivados e marcados pelas tensões sociais, com destaque para aquelas de natureza étnica. Marroquinos, asiáticos e franceses têm as diferenças expostas no dia a dia da classe, por vezes com uma violência que vai além da verbal. Marin acredita ou quer acreditar que pode ter sucesso com os alunos estimulando os conhecimentos e interesses que já possuem e se nega a tentar controlá-los com mão de ferro, talvez até por não saber como fazer isso. Em função da postura adotada, tem de confrontar continuamente com os jovens, que são bem habilidosos em apontar as fragilidades do professor. Apesar de bem intencionado, ele acaba sendo levado gradualmente ao limite, e passa a cometer erros que não serão esquecidos.

O filme não traz tomadas em outras salas, mas através de Marin temos noção das dificuldades dos colegas professores, especialmente nos momentos em que se reúnem para discutir a situação dos estudantes. O filme já começa com os docentes se encontrando para debater o ano letivo e se apresentar uns aos outros. Em poucos segundos de fala de cada veterano, é notório que os sorrisos amarelos de canto de boca refletem um constrangimento que não está ligado apenas à vergonha de um momento de exposição, mas se refere também ao leve desespero de quem sabe o que vai enfrentar nos próximos meses.

A câmera na mão e a ausência de trilha sonora ajudam a conferir realismo ao longametragem, que também se vale de diálogos muito eficientes. Nos embates entre Merin e os estudantes, as falas simples mostram o professor tentando recuperar a imagem desgastada, enquanto os alunos parecem fazer do desafio à atutoridade um esporte. Já as discussões entre os educadores revelam questões difíceis de resolver. Qual o momento em que é preciso abandonar um jovem? Qual culpa caberá a ele neste processo? Qual a medida certa do reconhecimento que se pode dar a um estudante frente às expectativas nele depositadas? As atuações também chamam a atenção. Quase todos os personagens compartilham do mesmo nome dos intérpretes, a exceção do problemático Soulemayne, vivido por Franck Keita, cuja gestualística é simplesmente perfeita.

Nota: 8,0 (de dez)










segunda-feira, 12 de março de 2012

20 Pôsteres Ilustrados


Um site reuniu 20 pôsteres que lembram um costume marcante do cinema "de antigamente": os cartazes feitos a partir de ilustrações. Na verdade, grande parte de longas antigos tinha a peça publicitária seguindo este padrão, como podemos perceber em algumas produções de Alfred Hitchcock e Orson Welles. Mais adiante, nos anos 80, os pôsteres ilustrados deram as caras quase apenas no cinemão, como no caso de Star Wars, Indiana Jones e Férias Frustradas. Hoje, é opção mais comum em dramas como A Família Savage.

Dica de Camilla Costa. Mais pôsteres aqui.










sábado, 3 de março de 2012

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, EUA, 2008). Direção de Fernando Meirelles. Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Sandra Oh, Yûsuke Iseya, Jorge Molina, Katherine East, Scott Anderson, Maury Chaykin.


Renato Cordeiro

Ensaio Sobre a Cegueira é bom, enquanto filme. Mas como adaptação do premiado livro de Saramago, é melhor ainda. O diretor Fernando Meirelles comandou uma produção fiel a elementos que fazem da obra o que é. O romance não especifica o local onde a trama se desenrola, uma imprecisão reforçada pelo longametragem através das músicas de diversos países que compõem a trilha sonora, a diversidade de locações (incluindo as cidades de São Paulo e New York), e o anonimato dos personagens. O elenco também é, digamos, multinacional: temos os estadunidenses Juliane Moore, Mark Ruffallo e Danny Glover contracenando com o mexicano Gael García Bernal, a brasileira Alice Braga e o japonês Yusuke Iseya, vivendo o primeiro homem a ser afetado pela inexplicável cegueira que se alastra rapidamente pela população.

O caos e a desorientação são traduzidos por câmeras que saem de foco, enquadram mal e por várias vezes saturam para a máxima luminosidade ou a completa escuridão. São truques responsáveis por intensificar os momentos de tensão do filme, que usa a cegueira para mostrar do que as pessoas são capazes quando vislumbram a expectativa da impunidade. Quando os doentes são presos em um centro de quarentena onde as leis já não se aplicam, Ensaio Sobre a Cegueira faz lembrar o clássico O Homem Invisível, adaptado em 2000 por Paul Verhoeven. Outra referência inevitável são os filmes de George Romero: algumas tomadas de tom mais apocalíptico parecem ter saído diretamente de Madrugada dos Mortos.

Estabelecendo um paralelo com a atuação de Al Pacino em Perfume de Mulher, todos aqui têm o desafio de interpretar cegos que não usam óculos escuros, o que é bem mais difícil. Em Ensaio Sobre a Cegueira, por vezes os atores caem na armadilha de não "olhar" para a direção em que alguém está falando com eles, como se a perda deste reflexo viesse imediatamente para quem acaba de perder a visão. Mas este é apenas um pequeno defeito em um conjunto de boas interpretações, com destaque especial para Juliane Moore. Ela, que vive a única pessoa imune a doença, defende um papel de alta carga dramática e brilha nas poucas oportunidades em que precisa fingir estar contaminada.

Nota: 7,0 (de dez)

(adaptado de texto de 18 de setembro de 2008)







quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

John Williams - 80 Anos



Renato Cordeiro

Indiana Jones, Guerra nas Estrelas, Tubarão, Superman - O Filme. A menos que você seja de outro mundo, certamente conhece o tema de pelo menos um destes longas-metragens. É essa a medida do sucesso do maestro John Williams: a capacidade de usar a música para amplificar o caráter clássico de determinadas produções.

Na verdade, vale dizer que as composições deste novaiorquino tem vida própria, para além da mera apreciação na banda sonora de um filme. Basta lembrar que a partitura para Superman - O Filme é considerada definitiva, além de ser obrigatória em qualquer peça audiovisual dedicada ao herói dos quadrinhos. O mesmo acontece com vários personagens icônicos do cinema, a exemplo do Darth Vader de Guerra nas Estrelas. Uma das explicações para este fenômeno é o uso do leitmotiv, uma ferramenta muito usada por aquele que é considerado a grande fonte de influências de Williams, Richard Wagner, para associar diretamente músicas e personagens. O termo aqui é muito associado ao chamado "motivo", que a grosso modo seria um trecho sempre repetido na composição, demarcando a presença de um personagem ou situação. Como aquela música de Tubarão, executada sempre que o filme sugere que o bicho está por perto.

John Williams é também um admirador do trabalho de Bernard Herrmann, que escreveu vários dos temas de Hitchcock. Não por acaso, quando Herrmann já havia morrido e Hitchcock estava cuidando do último filme, Trama Macabra, Williams ficou encarregado dos temas. Ele ainda trabalhou com outros cineastas consagrados, como Oliver Stone, Brian de Palma e Jean-Jacques Annaud. Mas, claro, foi com o diretor Steven Speilberg que ele fez uma das parcerias mais prolíficas já vistas na sétima arte, tornando impensável separar as carreiras dos dois profissionais.

Abaixo e também no site da Educadora FM você confere um programa de rádio produzido por este cinéfilo, com uma amostra da obra monumental do mestre que faz 80 anos neste dia 8 de fevereiro.













terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres


Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
(The Girl With the Dragon Tatoo, EUA/Alemanha/Reino Unido/Suécia, 2011). Direção de David Fincher. Com Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, Robin Whright, Goran Visnjic.


Bee

É incrível como certas circunstâncias fazem com que a gente descubra que não está livre de preconceitos. Quando a trilogia Millenium de Stieg Larsson começou a pipocar nas livrarias, eu fiquei bastante curiosa. Primeiro por ser um best seller, segundo por talvez quem sabe conter alguma conexão com o seriado homônimo, do qual muitas pessoas que são referência na minha vida gostavam. E aí um belo dia em uma viagem para São Paulo, me encontro com uma amiga dessas de coração mesmo, que ama livros, inteligente, etc, etc. E ela comenta que ganhou o primeiro, começou a ler, achou legal, mas que não era lá essas coca-cola todas não.

E bum! Minha curiosidade pelo livro acabou sem eu nem mesmo saber de verdade do que se tratava. Vitória da afinidade!

E agora, sai o filme. Mas não é só um filme. Ele é dirigido pelo D-Ê-I-V-I-D-I-F-I-N-C-H-E-R, uma dessas pessoas que eu agradeço todos os dias que existem só porque ele dirigiu Fight Club. Minto, era também porque eu já tinha assistido sete filmes dele, e não tinha desgostado de nenhum. Tinha coisas melhores e piores, mas Fight Club era o diamante brilhando no meu cérebro. E olha! Eu também tinha achado o trailler interessante, coisa que hoje em dia é cada vez mais raro. E ainda tinha o novo James Bond Daniel Craig, então ele já tinha elementos o suficiente para que eu quisesse assisti-lo.

E aí... Eu fui. E gostei muito!!!

Não é o muuuuuuuito, como eu gosto de muitos filmes clássicos e marcantes, como o próprio Fight Club. É o muito de alguém que não olhou para o relógio nenhuma vez, que ficou tensa, que gostou da história, da trilha sonora, da interpretação, do elenco, da fotografia e principalmente do que é na verdade o carro chefe da história: a personagem Lisbeth Salander. Dito isso, vamos ao filme propriamente.

Primeiro quero ressaltar que inicialmente eu achei a escolha da tradução do nome do livro medonhamente assustadora. Porque transformar The Girl With The Dragon Tatoo em Os Homens Que Não Amavam as Mulheres me pareceu excessivamente doente, uma dessas ações desenfreadas do povo do marketing querendo chamar um público alvo diferente. Até que eu descobri que esse é mesmo o nome original em sueco: Män som hatar kvinnor, que chega a ser até pior, traduzindo-se como "Os homens que odiavam as mulheres". Uma coisa que me chamou a atenção logo no início foi ver que ao lado da informação de que o filme se baseava em um livro, vinha também a editora original do mesmo, e eu não me lembrava de ter visto isso nunca na minha vida nos créditos de um filme. Outra foi perceber que o filme - hollywoodiano - não se passava nos Estados Unidos e sim na própria Suécia, conforme a história original. Isso foi realmente uma surpresa agradável.

Sem querer falar muito sobre a história, Os homens que não amavam as mulheres é um mistério "moderno", em que os personagens se utilizam da tecnologia disponível hoje para levantar informações, coletar e processar pistas sobre um crime que ocorreu muitos anos no passado, de uma forma que não é surreal nem tampouco insulta nossa inteligência. A fotografia é muito bem utilizada, e a trilha sonora também, misturando a música com os sons do ambiente, como o vento ou o barulho do aspirador de pó.

A história em si é interessante o suficiente, mas é na tensão e na construção dos personagens que o filme arrebata - especialmente em nos mostrar quem é Lisbeth Salander (Mara), uma jovem sob a tutela do estado, brilhante e desajustada, que se torna uma das investigadoras do caso. A narrativa paralela alternando Lisbeth e Mikael Blomkvist (Craig), um jornalista em desgraça por publicar acusações não comprovadas sobre um grande empresário, é muito eficaz, e ouso dizer - se é que aprendi alguma coisa sobre cinema com Renato Cordeiro, Daniel Fróes e as críticas de Pablo Villaça - que talvez a melhor coisa do filme seja a edição. Pois é exatamente a montagem das cenas que faz com ele que funcione de uma forma tão interessante, em que o tempo é muito bem administrado para não torná-lo um filme chato. Chamo a atenção também para a direção de arte que retrata bem as diferenças entre os personagens nos ambientes que os rodeiam e para a ótima condução do elenco de apoio. Adorei a participação de Stellan Skarsgard (e não apenas por ele ser o pai de Alexander Skarsgard, embora isso ajude). Enfim, é um filme que me conquistou.

Fincher é um cara que tem intimidade com a tensão e não deixa nada a desejar. Usando boas ferramentas a seu dispor, uma história interessante e bons atores, ele nos presenteia com essa obra, que me fez rever meus preconceitos e me deixou com vontade de ler a trilogia. Pena que a minha próxima década já está comprometida com a leitura das Crônicas de Gelo e Fogo. E que algumas críticas de outras pessoas bastante relevantes que leram o primeiro livro me desanimaram para o segundo.

Frase do filme:
Lisbeth Salander: May I kill him?

Pra ver:
Final de semana sem pressa, balde de pipoca, sala boa - de preferência com o som muito bom, vai valer a pena.










sábado, 28 de janeiro de 2012

Archetype




Curtametragem sci-fi que vem fazendo relativo sucesso entre os nerds, Archetype tem direção de Aaron Sims, que não é exatamente um amador. Ele já trabalhou com artes conceituais e design de personagens em longas como O Planeta dos Macacos - A Origem, O Incrível Hulk e Peixe Grande e Suas Histórias Maravihosas. Archetype, terceiro curta da carreira, tem ares de carta de intenções de um novo cineasta pop com ares de Distrito 9.











sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne


As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne
(The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn, EUA, 2011) Direção de Steven Spielberg. Com Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Simon Pegg, Nick Frost, Cary Elwes, Toby Jones, Tony Curran, Sebastian Roché, Mackenzie Crook.



Renato Cordeiro

Depois de produzir a bomba Cowboys e Aliens e dirigir o piegas Cavalo de Guerra, Steven Spielberg volta a desperdiçar o talento, desta vez em um longametragem até promissor, já que tem tudo a ver com o memorável início de carreira do cineasta que se notabilizou por aventuras fantásticas. A adaptação dos quadrinhos de Hergé chega a lembrar os filmes de Indiana Jones, com as cenas de ação com humor pastelão, os cenários internacionais e a trama do tipo gincana, que pode ser divertida se não se concentrar em uma sucessão de McGuffins.

Ok, vamos às apresentações. Para quem não conhece, McGuffin é um termo inventado por Alfred Hitchcock para definir aquele objeto ou tarefa que é importante para o protagonista e ajuda a mover a história. Um exemplo muito citado é a mala de conteúdo misterioso a ser recuperada por John Travolta e Samuel L. Jackson em Pulp Fiction. O objeto nem precisa necessariamente ser importante para a trama ou ter muitas explicações, desde que cumpra o papel de manter o personagem na trama. E no caso de Tintin, há, de certa forma, três Mcguffins, que são partes de um mapa do tesouro que ele busca encontrar.

Nada contra a trama gincana, desde que não fique tão em primeiro plano. O que torna Indiana Jones e A Última Cruzada tão divertido não é a procura pelo Cálice Sagrado, mas a relação entre o herói e o pai, uma interação que vai se desenvolvendo em paralelo à busca pela relíquia. E apesar de contar com um bom coadjuvante que faz as vezes de alívio cômico, em Tintin temos a gincana pela gincana, o que pode deixar o espectador sentindo que está sendo jogado de um lado para o outro, sem que nada importante esteja, de fato, avançando.

Do ponto de vista técnico, claro, As Aventuras de Tintim é irrepreensível. Os créditos de abertura, muito bons, lembram bastante o começo de Prenda-Me Se For Capaz. Se trata-se de uma animação com captura de movimentos, até então considerado um termo equivocado pela chamada "Academia de Hollywood", este cinéfilo não entrará na discussão. Mas é fato que as cenas criadas no filme dão vazão ao gênio de Spielberg em criar belas imagens, como a ótima perseguição em uma Marrocos cheia de ladeiras e possibilidades. Bem que a música de John Williams poderia ser mais vibrante.

Nota: 5.0 (de dez)