sábado, 28 de janeiro de 2012

Archetype




Curtametragem sci-fi que vem fazendo relativo sucesso entre os nerds, Archetype tem direção de Aaron Sims, que não é exatamente um amador. Ele já trabalhou com artes conceituais e design de personagens em longas como O Planeta dos Macacos - A Origem, O Incrível Hulk e Peixe Grande e Suas Histórias Maravihosas. Archetype, terceiro curta da carreira, tem ares de carta de intenções de um novo cineasta pop com ares de Distrito 9.











sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne


As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne
(The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn, EUA, 2011) Direção de Steven Spielberg. Com Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Simon Pegg, Nick Frost, Cary Elwes, Toby Jones, Tony Curran, Sebastian Roché, Mackenzie Crook.



Renato Cordeiro

Depois de produzir a bomba Cowboys e Aliens e dirigir o piegas Cavalo de Guerra, Steven Spielberg volta a desperdiçar o talento, desta vez em um longametragem até promissor, já que tem tudo a ver com o memorável início de carreira do cineasta que se notabilizou por aventuras fantásticas. A adaptação dos quadrinhos de Hergé chega a lembrar os filmes de Indiana Jones, com as cenas de ação com humor pastelão, os cenários internacionais e a trama do tipo gincana, que pode ser divertida se não se concentrar em uma sucessão de McGuffins.

Ok, vamos às apresentações. Para quem não conhece, McGuffin é um termo inventado por Alfred Hitchcock para definir aquele objeto ou tarefa que é importante para o protagonista e ajuda a mover a história. Um exemplo muito citado é a mala de conteúdo misterioso a ser recuperada por John Travolta e Samuel L. Jackson em Pulp Fiction. O objeto nem precisa necessariamente ser importante para a trama ou ter muitas explicações, desde que cumpra o papel de manter o personagem na trama. E no caso de Tintin, há, de certa forma, três Mcguffins, que são partes de um mapa do tesouro que ele busca encontrar.

Nada contra a trama gincana, desde que não fique tão em primeiro plano. O que torna Indiana Jones e A Última Cruzada tão divertido não é a procura pelo Cálice Sagrado, mas a relação entre o herói e o pai, uma interação que vai se desenvolvendo em paralelo à busca pela relíquia. E apesar de contar com um bom coadjuvante que faz as vezes de alívio cômico, em Tintin temos a gincana pela gincana, o que pode deixar o espectador sentindo que está sendo jogado de um lado para o outro, sem que nada importante esteja, de fato, avançando.

Do ponto de vista técnico, claro, As Aventuras de Tintim é irrepreensível. Os créditos de abertura, muito bons, lembram bastante o começo de Prenda-Me Se For Capaz. Se trata-se de uma animação com captura de movimentos, até então considerado um termo equivocado pela chamada "Academia de Hollywood", este cinéfilo não entrará na discussão. Mas é fato que as cenas criadas no filme dão vazão ao gênio de Spielberg em criar belas imagens, como a ótima perseguição em uma Marrocos cheia de ladeiras e possibilidades. Bem que a música de John Williams poderia ser mais vibrante.

Nota: 5.0 (de dez)











quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Missão Madrinha de Casamento


Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, EUA, 2011). Direção de Paul Feig. Com Kristen Wiig, Terry Crews, Jessica St. Clair, Maya Rudolph, Tom Yi, Elaine Kao, Michael Hitchcock, Kali Hawk, Joe Nunez, Rebel Wilson, Melissa McCarthy.


R. Dantas

Tive uma epifania outro dia. Talvez minha missão seja ver filmes com potencial bagaceira e salvar você, incauto leitor, de perder preciosas horas de sua vida.

Missão Madrinha de Casamento é um filme sobre a loucura que acomete as mulheres, sejam noivas ou não, na iminência do dia mais importante de suas vidas (?!). Kristen Wiig é Annie, madrinha de casamento e amiga de infância de Lilian (Maya Rudolph). Annie é pobre, dona de uma confeitaria falida, não tem namorado e divide apartamento com dois irmãos esquisitos. Impossível sentir alguma identificação com ela, as situações em que se coloca – como dançar desajeitadamente na frente de um policial ou falar de seus problemas pessoais com os clientes da joalheria onde trabalha de favor – são ridículas e umas duas vezes senti tanta vergonha que quase parei de ver o filme, mas fiquei com preguiça de levantar da cama.

Os problemas começam quando Annie conhece a mais nova amiga – rica e linda – de Lilian. Annie, como madrinha, deveria ser responsável por organizar desde o chá de panela até o casamento, mas o fato de não ter grana e ser meio desajustada a impede de desempenhar com sucesso seu papel, lugar que Helen (Rose Byrne) assume com prazer e um certo desdém pela amiga pobre de Lil.

Então somos apresentados à amiga gorda e desajeitada que arrota e peida em público e diante de uma intoxicação alimentar não hesita em usar a pia do banheiro da loja chique como vaso sanitário. A casada, infeliz com a família que construiu e que tenta desesperadamente reaver o tempo perdido. A moça que casou cedo e só teve um homem na vida, que só faz sexo no escuro e debaixo das cobertas. E temos a noiva, tão sem brilho que quase esqueci dela.

Missão Madrinha de Casamento tenta com afinco ser engraçado, mas falha horrivelmente. As situações não são plausíveis, o elenco não é carismático e eu só conseguia pensar que Annie é severamente destituída de suas faculdades mentais.

Se houvesse mais cenas como a da mulher vomitando na cabeça da outra talvez fosse até engraçado. Eu sei que humor escatológico é forçar a amizade, mas essa foi a única vez em que ri alto vendo o filme.

Vale mencionar o policial Nathan Rhodes (Chris O'Dowd), o bom moço que com seu maravilhoso senso de humor quase salva o filme. Quase.










quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

35 Movies in One Minute


Ótima sacada. O vídeo reúne vários elementos visuais diretamente relacionados a longas-metragens de Alfred Hitchcock, Steven Spielbeg e Martin Scorsese, entre outros. A brincadeira leva o nome 35 Movies in One Minute. O desafio é descobrir todas as produções mencionadas.

Dica de Davi Boaventura, do Cachorro Abandonado.






segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Mr. Holland - Adorável Professor


Mr. Holland - Adorável Professor (Mr. Holland's Opus, EUA, 1995). Direção de Stephen Herek. Com Richard Dreyfuss, Glenne Headly, Jay Thomas, Olympia Dukakis, William H. Macy, Alicia Witt, Terrence Howard, Damon Whitaker, Jean Louisa Kelly, Forest Whitaker.


Renato Cordeiro

Richard Dreyfuss engrandece e torna bem melhor um filme que estava destinado a ser apenas uma diversão passageira. O longametragem, ainda que não seja espetacular, é competente, com direção correta, roteiro sem furos e, como tinha de ser em um projeto como esse, boa trilha sonora. Mas o trunfo é mesmo o desempenho comovente do ator principal, que dá veracidade a Mr. Holland - Adorável Professor e rendeu uma merecida indicação ao Oscar.

Uma das principais diferenças entre este filme e tantas produções que tratam da dura vida dos professores é que não temos aqui um recorte episódico da carreira do protagonista. Em vez disso, acompanhamos a trajetória do jovem compositor Glenn Holland, que por causa de dificuldades financeiras resolve ensinar música em uma escola. A princípio, ele abraça a atividade apenas como um emprego temporário, mas acaba se mantendo no trabalho e começa a se afeiçoar à profissão, entre realizações e frustrações, em passagens pontuadas por alunos que o cativam e que por ele são cativados.

Como sempre, este cinéfilo não entregará spoilers, mas chama a atenção para os dez minutos finais. Praticamente sem falas, Richard Dreyfuss consegue transmitir perfeitamente as emoções do educador, tornando aceitável um desfecho que exagera um pouco no sentimentalismo. Outro ponto alto é aquele no qual Holland explica aos alunos a desafiadora história de Beethoven, momento embalado pela Sétima Sinfonia e potencializado por uma triste notícia que impacta sobre a vida pessoal do professor.

Vale mencionar o bom trabalho de maquiagem que torna convincente a marca do tempo sobre o personagem-título. A montagem sóbria insere cenas históricas responsáveis por facilitar a compreensão da passagem do tempo e cenas como aquela que se passa em um cemitério. No bom elenco de apoio, que traz William H. Macy, Terrence Howard e rápida aparição de Forest Whitaker, o destaque é a veterana Olympia Dukakis, que vive a diretora da escola. De quebra, canções de John Lennon.

Nota: 7,0 (de dez)










quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Planeta Terror


Planeta Terror (Planet Terror, EUA, 2007). Direção de Robert Rodriguez. Com Freddy Rodríguez, Rose McGowan, Marley Shelton, Naveen Andrews, Josh Brolin, Michael Biehn, Jeff Fahey, Bruce Willis, Michael Parks, Jerili Romeo, Stacy Ferguson, Tom Savini, Carlos Gallardo, Quentin Tarantino, Michael Parks.


Renato Cordeiro

A idéia básica do projeto Grindhouse, de Robert
Rodriguez e Quentin Tarantino, é bem interessante: recriar a experiência setentista de assistir filmes de segunda em cinemas de terceira. Ao longo de Planeta Terror, o segmento dirigido por Rodriguez, as imagens apresentam defeitos clássicos de filmes desgastados, além de buracos na narrativa que simulam remendos nas fitas de rolo da época. As salas de exibição aqui em Salvador chegaram a ter problemas com alguns espectadores desavisados.

A produção é caprichada, e o elenco, estelar e adequado à proposta do projeto. Além de Bruce Willis, que faz uma participação especial, muitos vão reconhecer o ator Naveem Andrews, o Sayid da série Lost. Infelizmente, depois da primeira metade de projeção, os rostos estrelados pouco podem fazer para impedir que Planeta Terror se torne previsível e maçante.

O esquema básico dos filmes de zumbi está presente no longa, com desconhecidos que precisam se unir para sobreviver a uma horda de desmortos. Mas falta recheio. A refilmagem de Madrugada dos Mortos, por exemplo, conquista pela exploração do drama de seus heróis. Já Todo Mundo Quase Morto parodia, com sobriedade britância, os elementos clássicos do gênero. Quanto a Planeta Terror, tenta se apoiar em escatologias e non-sense. Uma piada que não tem fôlego pra seus 107 minutos.

Nota: 5,0 (de dez)

(escrita originalmente em 25 de dezembro de 2007)










quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Blade Runner Sketchbook


Blade Runner, filme policial futurista dos anos 80, é considerado um dos melhores trabalhos da carreira irregular de Ridley Scott. O longa, inspirado em romance de Phillip K. DIck, também ajudou a consolidar a trajetória do ator Harrison Ford, que faz um detetive com todo o jeitão de filme noir. Para quem gosta desta ficção ou mesmo aprecia design, uma dica é conferir um site que oferece, online, uma versão do livro Blade Runner sketchbook.

O trabalho reúne vários desenhos de produção assinados por Syd Mead, Charles Knode, Mentor Huebner, Michael Kaplan e o próprio Ridley Scott. Mais informações aqui.











terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras


Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras (Sherlock Holmes: A Game of Shadows, EUA, 2011). Com Robert Downey Jr., Jude Law, Jared Harris, Noomi Rapace, Stephen Fry, Kelly Reilly, Geraldine James, Rachel McAdams, Eddie Marsan, Paul Anderson.


Renato Cordeiro

É bem verdade que Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras supera o primeiro filme, mas isso não quer dizer que se trate de um trabalho muito melhor. A sequência mantém a trama rasa, cenas de luta por vezes confusas e a interação entre Downey Jr. e Law continua marcada por diálogos rápidos que parecem tentar mascarar as falas de qualidade irregular. Por outro lado, entre os pontos positivos, o longa consegue um feito um tanto incomum, que é melhorar ao longo da segunda metade.

A curva ascendente de O Jogo das Sombras acontece, entre outros motivos, por uma aposta na própria mitologia da cinessérie, ainda no segundo capítulo. Já sabemos que o roteiro terá várias cenas em flashback que mostrarão como Sherlock Holmes premedita as ações e sabota as dos adversários, e o longa consegue apresentar estas passagens de forma ainda mais divertida, a exemplo de uma passagem dentro de um trem.
Essa idéia também rende um bom momento no final do filme, quando as expectativas do protagonista são quebradas diante do seu arquiinimigo, Moriarty, vivido com adorável fleuma britânica pelo ótimo Jared Harris.

Sem entregar detalhes do filme, vale apontar que é também no final que acontece a melhor utilização de um recurso típico do cinema de Guy Ritchie, o voice over, quando a narração dos atores conduz a apresentação de uma cena da qual não participam. A qualidade das interpretações e a edição correta garantem o sucesso da passagem, marcada por uma tensão crescente. Por outro lado, Ritchie escorrega em certos maneirismos. Um deles,
próprio da franquia, é a adoção de câmera lenta e som distorcido, que tem como exemplo a fuga dos heróis por um bosque onde são atacados até por tiros de morteiros, lembrando muito a correria de Downey Jr. em meio a uma série de explosões no longametragem anterior.

E se estamos falando de um filme com um autêntico Sherlock Holmes, cabe uma discussão à parte. A caraterização continua sendo a de uma espécie de James Bond vitoriano, mas isso não é necessariamente algo que deprecia O Jogo das Sombras, que poderia ser fiel aos livros de Conan Doyle e continuar sendo uma diversão esquecível. E falando em diversão, destaque para a cena de Downey como um relutante cavaleiro, com direito a uma trilha que remete ao tema de Ennio Morricone para Os Abutres Têm Fome.

Nota: 5,0 (de dez)










segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra


Cavalo de Guerra (War Horse, EUA, 2011). Direção de Steven Spielberg. Com Jeremy Irvine, Tom Hiddleston, David Thewlis, Emily Watson, Peter Mullan, Benedict Cumberbatch, Toby Kebbell, David Kross, Eddie Marsan, Geoff Bell, Niels Arestrup.


Renato Cordeiro

Há dois filmes dentro de Cavalo de Guerra que oferecem atrito um ao outro. Um é o drama que mostra não apenas as batalhas ambientadas na Primeira Guerra Mundial, mas também as vidas de pessoas comuns que foram marcadas pelo conflito. O outro parece uma dessas aventuras infantis protagonizadas por animais "humanizados", a exemplo de cães ou macacos que fazem cestinhas no basquete ou são agentes secretos.

Steven Spielberg é um cineasta que tem o dom para encantar, para extrair a criança que pode existir em cada espectador, sendo E.T. - O Extraterrestre o maior exemplo neste sentido. Assim, a idéia de ver um filme sobre um soldado de quatro patas não é necessariamente ruim, e a produção é até feliz em utilizar o cavalo Joey como o elemento de ligação das histórias amarradas pelo longametragem. Dá vontade de saber mais sobre a dura vida de um idoso e sua neta em uma França ocupada ou sobre os protagonistas do melhor momento de Cavalo de Guerra, quando dois soldados, um alemão e outro inglês, se unem para salvar o bicho. Mas em vez de explorar um pouco mais essas histórias, o filme insere planos com o animal fazendo algum ato ou pose nobre, arrastando o espectador de volta à um poço de pieguice.

Um herói sem profundidade, sem personalidade, é algo tedioso, seja homem ou animal. Em Cavalo de Guerra o problema já começa nos primeiros minutos do filme, que se passam na fazenda da família Narracott, onde também existe um ganso que se revela um alívio cômico tão chato quanto o Jar Jar Binks, de Star Wars. Vemos então uma obra promissora ser gradativamente sabotada por animais que são nada mais que caricaturas, "o cavalo herói", o "ganso engraçado", roubando espaço de personagens que poderiam ser melhor aproveitados. O problema não é apenas do roteiro, mas também dos planos excessivos que Spielberg dedica a esses animais, inclusive no final do longa.

Verdade seja dita, Spielberg tem bons momentos, como uma execução promovida por soldados alemães, a corrida do cavalo em uma trincheira e o planossequência que começa em uma trincheira e abre em um plano aberto, em uma das batalhas. É uma pena então que o cineasta de primeiro time insista em usar seu talento em obras menores, seja como o diretor de lixos como o quarto filme da série Indiana Jones, seja como produtor de bombas como Transformers 2. No começo dos anos 90, este cinéfilo, ainda garoto, corria pra TV sempre que começava a atração anunciada como "um filme de Steven Spielberg". Costumava ser uma marca de qualidade.

Nota: 5,0 (de dez)










sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Serkis ao Oscar


Renato Cordeiro

Boa parte das críticas a respeito do remake O Planeta dos Macacos - A Origem, de 2011, destacou a qualidade da expressão corporal de Andy Serkis, que deu vida ao símio César através de recursos de captura de movimento. Até concordo que há um trabalho de atuação e, importante dizer, muito bom. Mas daí a dar a ele um Oscar de Melhor Ator, como tem defendido a campanha da Fox, é um tanto demais.

Não se trata de desqualificar o trabalho do sujeito, mas de discutir a natureza do mérito, que não é a mesma de uma atuação tradicional. Qual o limite entre o desempenho do ator e o que vemos em cena, após toda a imersão de recursos eletrônicos? Afinal de contas, de alguma forma, estes efeitos também contribuem para a caracterização do personagem. Inclusive, convidaria qualquer leitor a reassistir o já clássico A Bela e A Fera, animação de 1991 que é um assombro em termos de, digamos, expressão corporal. Reparem a cena em que o pai da Bela é raptado, a maneira intensa como a protagonista entra em prantos, lembrando algumas interpretações poderosas de Bette Davis em filmes antigos como Vitória Amarga. Se um animador é capaz de fazer isso sozinho, imagine contando com a gestualística de um Andy Serkis?

É claro, alguém pode dizer que, se Nicole Kidman pode levar um Oscar em As Horas pelo nariz postiço que usou para viver Virginia Woolf, Serkis não deveria ser tirado do páreo. Este raciocínio tem que ser levado como uma brincadeira. Você pode até entrar na teoria de que Kidman recebeu uma compensação por não ter faturado a estatueta anteriormente por Moulin Rouge, mas dizer que maquiagem rende Oscar leva a inevitáveis absurdos, como afirmar que Marlon Brando trapaceou ao implantar algodão dentro da boca para viver um bochechudo Don Corleone, papel que o premiou por O Poderoso Chefão. Ou querer tomar de volta o Oscar póstumo de Heath Ledger pela insana interpretação como o Coringa em Batman - O Cavaleiro das Trevas. Maquiagem ajuda na caracterização, modifica a fisionomia, e só.

Acredito que o que acontece é que, de tempos em tempos, um profissional que não pertence a uma categoria que pode ser premiada com o Oscar simplesmente dá uma contribuição espetacular às obras das quais participa. Desde garoto, por exemplo, eu acho que deveria haver algum reconhecimento para adestradores de animais, especialmente aqueles que cuidaram dos animais vistos em Babe - O Porquinho Atrapalhado. Melhor seria então enquadrar profissionais como Andy Serkis em uma categoria à parte, que exigiria uma criteriosa avaliação dos jurados. Não que uma medida desse tipo possa ser implantada em curto prazo, por um motivo simples: Serkis é o melhor em um campo onde, praticamente, só existe ele. Mais fácil e justo seria, acredito, ceder ao ator um Oscar honorário.

Abaixo, um dos muitos vídeos que engrossam a campanha para que Andy Serkis seja indicado ao Oscar de Melhor Ator.













terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Filmography 2011




Excelente montagem de cenas de 230 filmes de 2011. São quase seis minutos de trechos bem amarrados de produções diversas, como Melancolia, Capitão América e Rio, embalados por músicas de nomes como Radiohead e Kashiwa Daisuke. A qualidade dos cortes e a sincronia quase perfeita com a trilha sonora impressionam. Para ter acesso à relação completa dos longas que compõem o vídeo, clique aqui.

Dica de Danielle Pimenta.










segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Lemon Tree


Lemon Tree (Etz Limon, Israel, Alemanha, França, 2008) Direção de Eran Riklis. Com Hiam Abbass, Doron Tavory, Ali Suliman, Rona Lipaz-Michael, Tarik Kopty, Amos Lavi, Amnon Wolf, Smadar Jaaron, Danny Leshman, Hili Yalon.


Renato Cordeiro

Uma pequena fábula sobre as relações de poder toma lugar na propriedade de Salma Zidane, uma viúva palestina que vê seu limoeiro ameaçado pelo novo vizinho: ninguém menos do que o Ministro da Defesa de Israel. O argumento é o de que as árvores encobrem parte do perímetro da propriedade do sujeito, o que oferece risco à segurança. A partir daí, Zidane trava uma batalha na justiça para manter a plantação de pé. E o que era para ser um simples caso do tipo Davi Vs Golias ganha repercussão midiática e proporções políticas.

Salma está ciente da própria insignificância dentro do grande plano das coisas, morando em um território ocupado, mas encara o desafio de peitar o Ministro da Defesa. "Já tive tristeza demais na vida", desabafa ao jovem advogado que pergunta por que a cliente quer apelar para levar o caso adiante. E ainda que por vezes otimista, o longa denuncia uma séria dificuldade enfrentada por quem busca se defender em um local que não conta com soberania, apresentando a Autoridade Palestina como uma entidade de pouca serventia.

Filmes como A Culpa É de Fidel, Adeus Lênin! e este Lemon Tree mostram situações políticas retratadas no microcosmo de protagonistas simples, à mercê da História. E se nos longas citados temos protagonistas femininas, como a menina rebelde do primeiro e a mãe desorientada do segundo, a mulher vivida pela bela Hiam Abass se diferencia, entre outras coisas, por sofrer ainda pressões de gênero. Ela encontra um advogado que se prontifica em ajudá-la e os dois se apaixonam, mas o (ex)cunhado a ameaça para que não "desonre" a memória do falecido. Não por acaso, será em uma figura feminina que a protagonista encontrará o apoio mais valioso: a própria mulher do ministro, vivida por Rona Lipaz-Michael.

Com direção discreta, que dá espaço para o silêncio e a gestualística resignada da personagem principal, o cineasta Eran Riklis constrói um drama no qual a resistência é quase uma forma de tocar a vida, sendo a justiça a via de combate. E nessa curiosa jornada que enaltece a importância das instituições, do aparato jurídico mesmo em situações de conflito, encontra em Abass uma atriz capaz de retratar com perfeição a dignidade da protagonista frente a uma grande adversidade.

Nota: 7,0 (de dez)










domingo, 1 de janeiro de 2012

Missão Impossível - Protocolo Fantasma


Missão Impossível - Protocolo Fantasma (Mission: Impossible - Ghost Protocol, EUA, 2011). Direção de Brad Bird. Com Tom Cruise, Jeremy Renner, Simon Pegg, Paula Patton, Michael Nyqvist, Vladimir Mashkov, Anil Kapoor, Léa Seydoux, Josh Holloway, Tom Wilkinson, Michelle Monaghan, Ving Rhames.

Renato Cordeiro

O diretor da animação Os Incríveis começa a carreira de obras live action com pé direito, fazendo do quarto Missão Impossível uma diversão leve e eficiente. O longa reafirma uma clara diferença com os filmes do agente 007, ou pelo menos aqueles que antecederam Cassino Royale. Se as aventuras de James Bond jamais primavam por uma dimensão autoral do cineasta sobre os filmes e cada longa parecia bastante com o anterior,
a franquia inspirada na telessérie setentista ganhou, em cada capítulo, um tom característico do "diretor da vez". Assim, Brian De Palma destila toda a bagagem hitchcokiana, John Woo injeta cenas de ação mirabolantes e estilizadas, J.J. Abrams capricha na carga emocional e, em Protocolo Fantasma, Brad Bird aposta no bom-humor. E ainda que não seja um primor em criatividade, o trabalho vale o ingresso e sinaliza uma retomada de fôlego para a cinessérie.

Aliás, fôlego é o que não falta para o protagonista, o agente Ethan Hunt, vivido pelo quase cinquentão Tom Cruise com direito a muita correria e proezas físicas que dispensaram dublês. Felizmente, o ator tem aqui um papel que é mais do que apenas um conduíte para as sequências carregadas de adrenalina. Hunt é um tanto mais complexo, um tanto mais humano, ainda que seja um típico herói de ação. Este é um dos elementos positivos do quarto Missão Impossível, que também ganha pontos ao aproximar a franquia da sua fonte de origem, a homônima série setentista, cujas tramas tinham à frente uma equipe, e não apenas o líder, como vinha acontecendo nos três primeiros filmes. Ainda que Cruise tenha mais destaque, é notório o espaço maior concedido aos colaboradores do agente Ethan Hunt.

Naturalmente, a opção por um tom mais descontraído rende farta munição para o talento de Simon Pegg, que volta a desempenhar bem o papel de alívio cômico. Na pele do agente Benji Dunn, ele é responsável pelas bugigangas capazes de proezas típicas dos filmes de 007 e que serão usadas pelo grupo formado ainda pelo misterioso William Brandt, vivido por Jeremy Renner, e Jane Carter, papel de Paula Patton. Renner, apontado como possível sucessor de Cruise em uma provável extensão da franquia, se sai bem no papel de um assessor especial da agência IMF que possui um passado ligado ao de Hunt. Não que a carga dramática e as interações de personagens sejam brilhantes, mas são convincentes e não causam atrito com a história.

Desta vez, os heróis tem de impedir que um terrorista consiga pôr as mãos em códigos de lançamentos de mísseis que podem dar início a uma guerra nuclear... mas na verdade, a trama pouco importa. O plot segue o padrão de um típico filme de espionagem, amarrarando maravilhas tecnológicas, locações internacionais, bailes de gala e um vilão que ameaça o mundo. O preço que o Protocolo Fantasma paga pela trama pouco envolvente é a perda de ritmo na segunda metade do longa, marcada sobretudo por uma tediosa perseguição de carros - aliás, este cinéfilo diria que sequências automobilisticas são o Calcanhar de Aquiles dos filmes de ação, com exceções honrosas como a de Ronin, com Robert De Niro.

No geral, o saldo
de Protocolo Fantasma é positivo. As situações são bem orquestradas por Brad Bird, que demonstra sobriedade com as passagens de ação desde o começo do filme, durante a fuga em uma prisão. O diretor também se sai bem em cenas mais tensas como as que ocorrem na Burj Khalifa, a torre mais alta do mundo. É onde os agentes tentarão se passar, ao mesmo tempo, por comprador e vendedor para enganar, em separado, as duas partes de uma transação que precisam impedir. Por sua vez, o roteiro, apesar de pecar pela mediocridade do plot, se sai bem ao trabalhar alguns detalhes, como os óculos de escalada de Hunt. Destaque ainda para o epílogo, que faz boa conexão com o capítulo anterior e mostra um bem-vindo esforço de humanização do protagonista. Lembrou alguns bons momentos dos filmes de Jason Bourne, guardadas as devidas proporções.

Nota: 7.0 (de dez)