domingo, 4 de novembro de 2012

O Estupefactante Aranhomem






O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-man, EUA, 2012)
Direção: Mar Webb (500 dias com ela)
Roteiro: James Vanderbilt (Zodíaco, Robocop), Alvin Sargent (Lua de Papel, Homem-Aranha 2 e 3) e Steve Kloves (série Harry Potter) 
Com: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field.

Daniel Fróes


Primeiro, o título do filme deveria ser "O Estupefactante Aranhomem".

Dito isto, o filme não é muito diferente do que promete - uma aventura adolescente com o aracnídeo da vizinhança.

Neste reboot, o pai de Peter é um bioquímico que estuda processos de mescla genética entre diferentes espécies. Ele foge de um perigo desconhecido, deixando Peter com os já conhecidos tios Ben e May.

Peter é menos "nerd" e mais "descolado" neste reboot. Ele anda de skate, é socialmente ativo na escola (faz parte do clube de debate) e mantém sua "veia fotográfica". É amigo (de certa forma) do valentão da escola (Flash), e conhecido de sua futura namorada, Gwen Stacy.

O enfoque da história é adolescente, os diálogos são adolescentes, o ritmo é adolescente, e isso não é uma coisa ruim, afinal o público alvo é o público adolescente. As personagens são mais críveis do que os 3 filmes anteriores, mais humanos - a menina bonita não é uma deusa inalcançável, o menino mau não é um monstro terrível, e o próprio Parker não é um nerd sociopata sem amigos.

As condições financeiras de Parker não são tão ruins quanto nos filmes anteriores, e há outras diferenças importantes, como a morte do tio Ben, que ainda é ocasionada pela "inação" de Peter.

O filme funciona razoavelmente bem como uma metáfora da fase adolescente da vida, onde o corpo muda pelos hormônios, onde o sexo se torna mais presente, onde queremos provar coisas, onde nos sentimos mais seguros de algumas coisas e menos seguros de outras.

A acabaram as coisas boas sobre o filme.

A história é boba e mau contada. Há coisas demais a serem "ditas", mas em pouco tempo e de forma corrida. Peter se comporta de uma forma quando está sem máscara, mas de outra muito diferente quando está travestido de Aranhomem - e não me parece que tenha sido de propósito, como para demonstrar nossa máscara social, mas sim um mau direcionamento da personagem.

Há muitas incongruências de realidade típicas de episódios de He-man: em alguns momentos o herói tem força e agilidade descomunais, e em outros ele apenas se aproxima dos limites humanos. Os carros quebram facilmente em alguns momentos, e são indestrutíveis em outros. Diretores e roteiristas de filmes de ação precisam aprender a lidar com essas coisas, urgentemente.

As capacidades intelectuais e conhecimentos de "ciências" de Peter também são  mostrados de forma confusa no filme, e ao final não sabemos se ele é realmente brilhante ou apenas sabe uma coisa aqui e ali que, somadas às anotações do pai, aparentam ser informações contundentes.

Não há construção da personagem em termos intelectuais, não acompanhamos o desenvolvimento do garoto. Vemos que ele tem algum conhecimento de mecânica porque ele tem uma tranca eletrônica na porta, mas de repente ele constrói em casa um lançador de teias. É inverossímil.

Assim como é inverossímil seu uniforme e mais ainda os óculos que ele usa, que não quebram.

Não posso falar muito de verossimilhanca com relação aos poderes - de Peter e de seu inimigo, Lagarto - mas uma coisa sempre me incomoda: o fato do poder "aranha" do Aranhomem não ter nada a ver com aranhas. Ele está mais pra Lagartixomem do que para Aranhomem, pela sua capacidade de se grudar nas coisas (algo que tentou ser sanado em Homem-Aranha 1, com as minigarras nas mãos e pés do herói, e a teia orgânica produzida por seu corpo).

Além disso, seu "sentido aranha" é, na verdade, místico. Sem contar que some e aparece de acordo com a necessidade do roteirista.

Algo que me parece muito mais "verossímil" é considerar o Aranhomem como um mutante que teve suas capacidades ativadas a partir do estresse causado pela aracnídea picada. Faria mais sentido.

Aliás, gostaria de avisar à bioquímica wannabe Gwen Stacy que aranhas não são insetos - ela se refere ao herói por bug-boy, algo como garoto-inseto.

Também vou alertar para um problema de direção de câmera: a inconsistência, em especial quando o Aranhomem está em ação. A "Visão POV" é utilizada hora sim, hora não, sem motivo aparente. Aquilo era pra vender jogo de Free Runing (LeParkour) com o herói, não?

O final do embate entre o herói e seu algoz é emblematicamente non-sense, porque o Lagarto salva o jovem, que poderia ter se salvo sozinho, sem grandes problemas.