sábado, 3 de março de 2012

Ensaio Sobre a Cegueira


Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, EUA, 2008). Direção de Fernando Meirelles. Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Sandra Oh, Yûsuke Iseya, Jorge Molina, Katherine East, Scott Anderson, Maury Chaykin.


Renato Cordeiro

Ensaio Sobre a Cegueira é bom, enquanto filme. Mas como adaptação do premiado livro de Saramago, é melhor ainda. O diretor Fernando Meirelles comandou uma produção fiel a elementos que fazem da obra o que é. O romance não especifica o local onde a trama se desenrola, uma imprecisão reforçada pelo longametragem através das músicas de diversos países que compõem a trilha sonora, a diversidade de locações (incluindo as cidades de São Paulo e New York), e o anonimato dos personagens. O elenco também é, digamos, multinacional: temos os estadunidenses Juliane Moore, Mark Ruffallo e Danny Glover contracenando com o mexicano Gael García Bernal, a brasileira Alice Braga e o japonês Yusuke Iseya, vivendo o primeiro homem a ser afetado pela inexplicável cegueira que se alastra rapidamente pela população.

O caos e a desorientação são traduzidos por câmeras que saem de foco, enquadram mal e por várias vezes saturam para a máxima luminosidade ou a completa escuridão. São truques responsáveis por intensificar os momentos de tensão do filme, que usa a cegueira para mostrar do que as pessoas são capazes quando vislumbram a expectativa da impunidade. Quando os doentes são presos em um centro de quarentena onde as leis já não se aplicam, Ensaio Sobre a Cegueira faz lembrar o clássico O Homem Invisível, adaptado em 2000 por Paul Verhoeven. Outra referência inevitável são os filmes de George Romero: algumas tomadas de tom mais apocalíptico parecem ter saído diretamente de Madrugada dos Mortos.

Estabelecendo um paralelo com a atuação de Al Pacino em Perfume de Mulher, todos aqui têm o desafio de interpretar cegos que não usam óculos escuros, o que é bem mais difícil. Em Ensaio Sobre a Cegueira, por vezes os atores caem na armadilha de não "olhar" para a direção em que alguém está falando com eles, como se a perda deste reflexo viesse imediatamente para quem acaba de perder a visão. Mas este é apenas um pequeno defeito em um conjunto de boas interpretações, com destaque especial para Juliane Moore. Ela, que vive a única pessoa imune a doença, defende um papel de alta carga dramática e brilha nas poucas oportunidades em que precisa fingir estar contaminada.

Nota: 7,0 (de dez)

(adaptado de texto de 18 de setembro de 2008)







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