quarta-feira, 30 de maio de 2012

Os Vingadores


Os Vingadores (The Avengers, EUA, 2012)
Direção: Joss Wheldon (Serenity)
Roteiro: Joss Wheldon (Toy Story, Alien: Ressurrection, Titan AE, Serenity, A Cabana na Floresta) e Zak Penn (Inspetor Bugiganga, Atrás das Linhas Inimigas, Incrível Hulk)
Com: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow.



Daniel Fróes

Os vingadores é o ponto final de um plano de marketing.

As franquias de Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Hulk (esta última, de forma menos eficiente, passando por um reboot) foram criadas já pensando num produto final - o filme Os Vingadores.

Com exceção de Hulk, que teve problemas graves de formatação, encontramos no filme os heróis (e vilão) tal qual foram apresentados em seus filmes de origem, com pequenas evoluções decorridas do tempo entre as aventuras. Tony Stark ficou mais sério e menos bagunceiro (pra possibilitar existir alguma chance de ele se adequar à equipe) mas continua impertinente, piadista e irresponsável (sem contar auto-confiante); Thor continua um bobão de bom coração e Capitão América continua… Capitão América. Nick Fury também está compatível com os outros filmes, assim como sua equipe. Isso é um ponto positivo.

O filme não tem exatamente um roteiro maravilhoso - vilão pega grande força mágica dos mocinhos, que passam o filme tentando recuperá-la. Vilão usa força mágica pra trazer possível derrota aos mocinhos. Mocinhos brigam entre si. Mocinhos se juntam e vencem vilão, sem grandes perdas - mas os filmes anteriores também não têm.

Como só um problema de nível mundial poderia forçar a união entre estes personagens, o escolhido pra ser vilão foi o irmão de Thor, Loki. Que ou é incrivelmente poderoso e burro, ou é cercado por idiotas que o deixam fugir e ficar pegando objetos mágicos por aí. Eu votaria nas duas opções.

Pensando nesse assunto, Loki deve ter uma lábia muito boa. A todo momento alguém com um poder muito grande em mãos resolve, em vez de usar esse poder, dá-lo a Loki para que ele faça bom uso. Vai entender.

Como estamos falando de uma adaptação de gibis, o filme traz problemas inerentes ao gênero, como por exemplo, força a barra para manter o grupo unido. Com isso não quero dizer que Tony Stark não faria parte do grupo ou algo assim (é mais estranho Batman fazer parte da Liga da Justiça do que Tony Stark fazer parte dos Vingadores). Estou me referindo a total e completa diferença entre os níveis de poder das personagens - coisa muito difícil de lidar em qualquer história envolvendo super-heróis.

O filme tenta forçar a barra equivalendo os poderes de Homem-de-Ferro, Thor e Capitão América. Não dá. Homem-de-Ferro (HF daqui pra frente) possui uma armadura realmente poderosa, que deixa CA (Capitão América) literalmente no chinelo, mesmo com seu super-ultra escudo. CA é um homem no topo das capacidades físicas humanas, mas nenhum humano é imune a um tiro de .45. Nem tem força para levantar um tanque.

Se CA já é infinitamente inferior, em termos de poder, a HF, quem dirá a Thor, que é muitas vezes superior a HF. Há uma discrepância muito grande aí. E isso me incomodou muito.

Agora, se isso é um problema entre esses três, eu me pergunto: que diabos Viúva Negra e Gavião Arqueiro estão fazendo no campo de batalha contra alienígenas fortões com super tecnologia bélica? Desculpem, mas não dá pra engolir. Como se diz na Bahia, dois altos, por favor. Estes personagens são interessantes, e poderiam ter sido muito bem utilizados de outras maneiras (como foram, em parte do filme). Mas colocar eles no front é pedir muito para o senso de realidade do espectador. Me lembro da cena em que (SPOILER ALERT, mas é fraquinho) VN pede que CA a jogue para o alto, para que ela intercepte uma nave alienígena em alta velocidade. Se um ser humano parado é atingido por um automóvel a 50 km/h, ele provavelmente terá diversas fraturas pelo corpo todo, se não morrer. O que aconteceria se uma pessoa colidisse com um bólido extremamente denso com velocidade superior a 100 km/h? Pois é (FIM DO SPOILER).

Outro problema grave do filme é o Deus Ex Machina, ou como se diz em bom rpgês, a mão do mestre. Aconteceu duas vezes, e é claro, a favor dos mocinhos.
A primeira foi quando (SPOILER ALERT) nosos amigo Loki encostou a lança em Tony Stark, para dominar sua mente, e não conseguiu por causa do seu Capacitor de Fluxo Peitoral (eu sei que aquilo não é um capacitor de fluxo, calma). Simplesmente não faz sentido. Não funcionou porque dissipou a energia no Capacitor? Ok, ele usa em outra parte do corpo. Tem que ser no coração? Ok, então eu vou te matar, Tony Stark. Ponto.

A segunda foi quando (AINDA TEM SPOILER) Banner chega no campo de batalha (ou seria na urbes de batalha? Fiquei confuso agora), e se transforma em Hulk "porque sim". Desculpe galera, mas não dá pra engolir essa não. Demitam esse roteirista, por favor. 

E finalmente (MAIS SPOILER) temos a batalha final, que é um enorme Deus Ex Machina sem fim. Principalmente em se tratando dos bichões gigantescos voadores - o primeiro se mostra dificílimo de destruir, os outros dois não passam de um origami de tão fácil que morrem. E os soldados rasos, que são gigantes, fortes e rápidos, são derrotados numa facilidade impressionante. Até GA consegue fazer um deles VOAR com um chute. Pois é (FIM DO SPOILER).

Claro, NÃO É ISSO QUE IMPORTA. Num filme desses, mais importante é se divertir. É verdade que ele seria mais completo se conseguisse fazer tudo ao mesmo tempo - ser coerente, ter um roteiro genial, ser bem feito e bem dirigido, e ser divertido. Isso é muito difícil. Mas o objetivo principal é alcançado.

Contudo, vale ressaltar: o filme é muito leve, é feito para jovens e crianças, não tem a densidade que Batman - The Dark Knight teve, por exemplo. É uma opção. Eu sempre acho que um pouco de densidade ajuda, mas não é obrigatório. Claro, segue a lógica dos outros filmes, então tem o mérito de ser coerente. Os filmes individuais dos heróis também são bem leves, sem grande densidade.

O filme é divertido. Muitas tiradas legais (algumas poderiam ter sido tiradas do filme, mas tudo bem), muita ação, excelentes efeitos especiais. A batalha final é chata, mesmo, mas não destrói o filme. Tem tensão, tem personagens interessantes, tem umas culhudas legais de se ver (culhuda = mentira, pra quem não sabe). No final, o saldo é positivo.










2 comentários:

  1. A lança de Loki não funcionou em HF por que não tocou NELE, tocou num dispositivo eletrônico que estava embaixo da roupa.
    Se alguém tenta enfiar uma agulha em vc e ela esbarra no celular que esta no bolso do seu paletó, ela não te fura. Foi assim que eu entendi a cena.

    Apontar disparates de leis da Física num filme onde a premissa básica são super-heróis, ETs, Deuses Nórdicos e um cara que recebe uma dose massiva de radiação e vira um gigante verde indestrutível é meio sem sentido...

    Infelizmente esses filmes são feitos pra agradar o maior numero de espectadores possível. Nessa conta, entram as crianças e adolescentes, que são o maior público de cinema, disparado. Pra ter censura que permita a entrada desse público e pra que a trama seja assimilada pelo público infanto-juvenil, eles não podem pegar muito pesado.

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    1. Olá!

      Verdade, a lança não "tocou a pele" de Tony Star. Mas nos outros também não, tocou na roupa. Na verdade, como eu escrevi depois, não importa muto isso, apenas achei uma solução fácil, mas que não atrapalha o filme.

      Quanto a apontar disparates, veja bem, existe uma "coerência interna" no universo do filme. Uma coisa que sempre me incomodou, desde criança, era quando He-man, num episódio, levantava uma montanha, e no outro, não conseguia levantar uma pedra pouco menor que ele. As leis da física estão distorcidas, mas mesmo elas seguem uma "lei interna". O filme não está trabalhando, por exemplo, num universo sem inércia, ou sem gravidade. Mas de novo, isso não importa muito.

      Verdade, para que o público alvo possa entrar, eles têm que "pegar leve". Não sou contra. Só preferiria temas mais pesados. Mas aí, é querer demais.

      Abraço!

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