segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Contágio


Contágio (Contagion, EUA/Emirados Árabes, 2011). Direção de Steven Soderbergh. Com Matt Damon, Laurence Fishburne, Marion Cotillard, Jude Law, Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Elliott Gould, Jennifer Ehle, Larry Clarke, Chin Han, John Hawkes, Anna Jacoby-Heron, Demetri Martin.


Renato Cordeiro

Dois anos antes da estréia de Contágio, em 2009, o H1N1 mostrou o quão despreparado o mundo estava para lidar com uma doença potencialmente pandêmica. Mesmo com o alerta da Organização Mundial de Saúde e a implantação dos protocolos de segurança adotados internacionalmente, esse tipo de gripe, poucos meses após ser identificado, matou milhares de pessoas ao se espalhar por mais de duzentos países, incluindo o Brasil. Felizmente, o vírus causou bem menos estragos do que se previa, o que fez a OMS ser acusada de pecar pelo excesso de cuidado. Este filme de Steven Soderbergh oferece uma visão do que poderia ocorrer se a entidade não apenas estivesse certa, mas o quadro fosse ainda muito, muito pior.

Contágio, provavelmente, é o melhor trabalho na linha de filmes que inclui O Enigma de Andrômeda, baseado em livro de Michael Crichton, e Epidemia, do diretor Wolfgang Petersen. Do primeiro, temos a cerebração e didatismo de uma legítima ficçãocientífica. Do segundo, a produção lembra, ainda que preserve maior seriedade, o subgênero do
filmecatástrofe, abordando as implicações da tragédia sobre a sociedade, tomada por um medo que a faz regredir ao estado mais primitivo e brutal.

O elenco estrelado tem características peculiares, a começar pelo fato de que são reaproveitados poucos nomes do Clubinho do Soderbergh. Matt Damon, Elliott Gould e Larry Clark estão entre os que já deram as caras em outros trabalhos do diretor, enquanto Laurence Fishburne, Kate Winslet, Marion Coitllard e Gwyneth Palthrow são comandados pelo cineasta pela primeira vez. Além disso, a natureza da história, que se passa em diversos locais, faz com que cada um dos atores esteja envolvido com um arco próprio dentro da trama, de modo que nenhum deles contracena com mais de dois dos outros atores de mais evidência. Damon, como o marido da primeira vítima, seria o mais próximo do que entendemos como um protagonista e tem cenas com Palthrow e Winslet, e só.

O roteiro de Scott Z. Burns é habilidoso em cuidar dos vários desdobramentos da transmissão da doença, dedicando boa parte do tempo a acompanhar a difícil tarefa das autoridades de saúde. Não por acaso, Fishburne, como o Dr. Ellis Cheever, interpreta o personagem mais interessante, um figurão do Centro de Controle de Doenças que precisa motivar e liderar os colegas contra uma ameaça que causa medo neles mesmos, sendo tomado por dúvidas e remorsos frente a decisões difíceis. Na outra ponta, está Jude Law, como um vaidoso jornalista blogueiro que acredita firmemente na idéia de que o governo sonega informações importantes à população. Ele empreende ações que aumentarão uma histeria capaz de ser tão devastadora quanto o próprio vírus.

Soderbergh imprime bom ritmo a uma obra que já é bem econômica, contando com pouco mais de uma hora e quarenta minutos. A câmera é discreta, sem muitos floreios, investindo em closes que denunciam os objetos pelos quais o vírus é trasmitido. Canecas, fichas de jogos de azar, interruptores e alimentos são enquadrados em uma sequência que, logo no início da obra, dá a dimensão do problema a ser encarado.
Usando várias narrações em off dos próprios personagens, o trabalho ganha um tom de urgência e agilidade favorecido pela trilha eficiente de Cliff Martinez, marcada por uma tensão contida, mesmo quando a obra assume contornos apocalípticos. Falando na música, há uma tocante cena final embalada por uma das melhores canções do U2, revelando o que existe de mais bonito na dimensão humana de uma tragédia.

Nota:
8,0 (de dez)










domingo, 30 de outubro de 2011

Miudins do Caio


Para quem curte decorar o próprio quarto com peças ligadas à sétima arte ou gostaria de apostar em um presente bem diferente para um cinéfilo, pode ser uma boa visitar o blog do artista Caio Muniz, que ficou famoso por fazer miniaturas sob encomenda, os Miudins. As peças criadas por ele podem ser dos mais variados temas, podendo inclusive reproduzir as feições da pessoa a ser presenteada. Mas, amante do cinema que é, Caio também dedicou algumas obras a personagens conhecidos das telonas. Algumas miniaturas estão à venda na loja Cinema e Coisa e Tal, do Cine Unibanco Glauber Rocha, mas também dá pra encomendar diretamente com Caio.

Mais informações aqui.










sábado, 29 de outubro de 2011

Martin Scorsese's Favorite Films




Martin Scorsese não apenas é um dos cineastas mais relevantes do cinema, mas é também um profundo conhecedor da história de Hollywood e voraz apreciador da sétima arte. Neste especial de 1993, ele fala sobre seus filmes preferidos, uma lista que incluiu Cidadão Kane, Duelo ao Sol, Rastros de Ódio, e Vidas Amargas.

Dica de Saymon Nascimento, do Esperando Godard.










sexta-feira, 28 de outubro de 2011

2º Festival de Cinema Universitário da Bahia


Estão prorrogadas, até 14 de novembro, as inscrições para o 2º Festival de Cinema Universitário da Bahia. A organização aponta que o motivo foi a greve dos Correios, sendo que a oportunidade vale para estudantes de qualquer universidade do país, que podem disputar com curtas de até 20 minutos. Vão ser distribuídos 14 mil reais em prêmios e os realizadores terão despesas com hospedagem e passagens pagas para vir a Salvador, onde o evento acontece, entre os dias 15 e 18 de março de 2012.

Mais informações aqui.










quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tiras em Apuros


Tiras em Apuros (Cop Out, EUA, 2010). Direção de Kevin Smith. Com Bruce Willis, Tracy Morgan, Kevin Pollak, Adam Brody, Guillermo Díaz, Juan Carlos Hernández, Ana de la Reguera, Sean William Scott.


Renato Cordeiro

A paródia não compensa. Um filme, para ser bom, precisa de mais do que isso, tem de funcionar a despeito das referências, das homenagens, do saudosismo. É claro que elementos como estes podem favorecer a apreciação, mas operam como igredientes que não determinam o sabor do prato. Tiras em Apuros sofre desse mal, esse não-cinema, sendo um dos piores exemplares das filmografias do ator Bruce Willis e do diretor Kevin Smith.

Curiosamente, o roteiro de Robb Cullen e Mark Cullen foi retirado da chamada Black List, que reúne os melhores roteiros não realizados em Hollywood. É a história de dois policiais, parceiros de longa data, que buscam uma antiga e valiosa figurinha de baseball, batendo de frente, no processo, com um grupo de criminosos. Há muito espaço para situações nonsense e talvez, se a filmagem seguisse o que estava no papel mais à risca, o trabalho teria sucesso. Mas não demora para se perceber que grande parte dos problemas de Tiras em Apuros está nas improvisações cômicas amarradas ao longo da história. O cineasta Kevin Smith apostou na espontaneidade do elenco, especialmente na de Tracy Morgan e Sean William Scott, para tentar extrair humor, obtendo resultados, no mínimo, irregulares.

Morgan, como o parceiro falastrão de Bruce Willis, busca fazer graça basicamente com sexo, grosseria e escatologia, que poderiam até funcionar, mas com ele descambam em um humor adolescente, senão infantil, mesmo. É um alívio cômico em um filme que não precisa disso, ou pelo menos não precisa em tão altas doses, já que se trata de uma comédia de ação, na qual as próprias situações já tendem a render parte das risadas. Assim, Morgan, um sujeito de rosto expressivo e naturalmente engraçado, se torna um elemento exagerado, acentuadamente maneirístico. Scott se sai melhor, por ter falas menos irritantes e possuir um talento mais lapidado, ainda que não seja, nem de longe, brilhante.

As tramas paralelas não empolgam nem tornam os personagens centrais mais interessantes. As cenas de ação, que já não eram especialidade de Kevin Smith, variam entre as enfadonhas e as corretas, com direito a uma tediosa perseguição de carros em um cemitério. Na verdade, os clichês remeteriam aos anos 80, década cujas comédias policiais o cineasta pretende reverenciar, mas as
manjadas situações apresentadas ao longo da trama poderiam ser associadas mesmo a alguns filmes contemporâneos, desses que fazem algum burburinho quando lançados para depois cair em merecido esquecimento.

Nota: 4,0 (de dez)










quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Meu País


Meu País (Brasil, 2010). Direção de André Ristum. Com Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella, Anita Capriol, Paulo José, Eduardo Semerjian, Nicola Siri, Luciano Chirolli, Stephanie de Jongh.

Renato Cordeiro

As rugas vêm fazendo bem a Rodrigo Santoro. Ele, que já era um bom ator, tem em Meu País absoluto controle sobre o papel de Marcos. Rosto cansado, tenso, gestos duros, a boca levemente em arco sinalizando uma seriedade perene que é, ao mesmo tempo, a zona de conforto deste homem de negócios que vive na Itália, tocando as atividades da família da esposa. Ele retorna à terra natal quando recebe uma ligação informando que o pai, que mora no Brasil, sofreu um derrame.

O primeiro longa de ficção de André Ristum apresenta tom marcadamente memorialístico, ainda que tenha poucos flashbacks ao longo da projeção, aparecendo em imagens granuladas, quase como fotografias desgastadas pelo tempo. O passado, na verdade, se encontra em tudo o que rodeia os personagens. Desde o momento em que Marcos chega em casa, as lembranças da infância, inevitavelmente, vão se apoderando do sujeito, através de cômodos, documentos, brinquedos e a presença dos familiares, que geram situações conflituosas. De um lado, está o irmão mais novo, Tiago, um rapaz inconsequente, imaturo, que mantém em segredo dívidas de jogos de azar. Do outro, uma irmã recém-descoberta, Manuela, que tem distúrbios mentais e era mantida escondida em uma instituição. É ela quem consolida no protagonista a jornada de reencontro prometida no cartaz do filme.

O longa aposta no minimalismo da composição dos personagens, especialmente no caso do protagonista, o que aumenta a responsabilidade de Santoro. É fácil compreender a tensão entre ele, o responsável, e Tiago, o hedonista inconsequente vivido apenas de forma corrreta por Raymond. Mas a trama deixa implícitas as motivações de Marcos em sair do país e relutar em voltar, além de manter tamanho distanciamento do pai a ponto de chamá-lo pelo nome, Armando. O papel coube ao sempre cativante Paulo José, responsável por mostrar que, em boa medida, Meu País é um filme sobre culpa e redenção inscritos em círculo familiar.

Vale destacar ainda a performance da belíssima Anita Capriol como a mulher de Marcos, papel mais difícil do que aparenta. No começo, ela incentiva o retorno do marido ao Brasil, dando o suporte emocional que se espera de uma esposa, mas logo perceberá que, obviamente, o altruísmo exige um preço, que ao que parece, seu companheiro conhece bem. Por sua vez, Débora Falabella, que já teve outras experiências com papéis de pessoas transtornadas, entrega aqui desempenho superior como a meia-irmã de Marcos, causando impacto mesmo em uma cena silenciosa registrada em uma câmera de segurança da instituição onde se encontra. Como curiosidade, há um momento entre ela e Rodrigo Santoro que remete diretamente à Cazuza - O Tempo Não Pára. Seria o cinema brasileiro se permitindo a autorreferência?

Sem entrar em spoilers, pode haver um certo descontentamento ao final da projeção para quem não gosta de finais abertos. Mas este não é um longametragem "sem fim". A narrativa tradiconal, independente de ser desenvolvida em um livro, telenovela ou longametragem, é trabalhada de modo a resolver todas as tramas que nela existem, sejam as principais, sejam as secundárias. Mas existem longas que propõem uma ruptura com este princípio, e trabalhos coreanos como o excelente Memórias de Um Crime são um bom exemplo neste sentido. No caso do longametragem Meu País, o foco, de fato, é o personagem vivido por Rodrigo Santoro. Ainda que haja um plot, o protagonista não necessariamente será guiado por isso, mas por seus próprios conflitos, bem conduzidos pela câmera sensível de Ristum.

Nota: 7,0 (de dez)










segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Meu Mestre, Minha Vida


Meu Mestre, Minha Vida (Lean On Me, 1989, EUA). Direção de John G. Avildsen. Com Morgan Freeman, Beverly Todd, Robert Guillaume, Alan North, Lynne Thigpen, Robin Bartlett, Michael Beach, Ethan Phillips, Sandra Reaves-Phillips, Sloane Shelton, Tony Todd.


Renato Cordeiro

Um cara errado em um lugar errado parece uma idéia tão errada que pode até dar certo, como demonstra a cinebiografia do educador Joe Clark, Meu Mestre, Minha Vida. O homem é convocado para dar jeito em uma escola marcada pela violência estudantil, a falta de controle dos professores e o descaso da prefeitura. Como um técnico de futebol que cai de paraquedas para salvar o time do rebaixamento, ele é um último recurso para uma situação desesperadora: a Eastside High School está para ser tomada pelo governo do estado, por causa do péssimo desempenho escolar. Ex-professor do centro de ensino, o sujeito autoritário e orgulhoso aceita a missão de se tornar diretor do inferno e fazer com que, em um espaço de menos de um ano, a escola melhore o desempenho em uma prova de conhecimentos básicos.

O filme começa de um jeito pouco inventivo, fazendo uma colagem de cenas de delinquência.
Drogas, volência entre alunos e até contra os professores são apresentadas em um resumo embalado pela canção Welcome to the Jungle, dos Guns N' Roses. A princípio, o espectador pode se perguntar se Meu mestre, Minha Vida será mais um daqueles trabalhos que fazem parecer fácil lidar com um caos que, mais de vinte anos depois, ainda desafia escolas de diversos países. Mas o protagonista, afeito à utilização de métodos pouco ortodoxos, adota ações drásticas que até convencem o público das chances de uma virada de mesa.

Joe Clark é apresentado como um sujeito capaz de incorporar, a um só tempo, paixão pelo trabalho e um pragmatismo carregado de agressividade. Comete vários excessos, pisa nos alunos e subordinados e não demontra arrependimento, mas é sagaz o suficiente para adequar um discurso de incentivo para cada platéia, ainda que a mensagem linha dura seja a mesma. Se o homem parece um típico palestrante motivacional ao cobrar empenho dos alunos, com o dedo indicador em riste, também pode discursar feito um pastor, com as mãos para cima e ritmo de fala característico, quando justifica os próprios atos para os pais dos estudantes, ou como um técnico de futebol, ao exigir que os docentes cumpram com o dever.
Morgan Freeman, a melhor coisa do longametragem, tem aqui um dos melhores papéis da carreira, sem aparentar qualquer esforço.

É inevitável que Meu Mestre, Minha Vida lembre outro trabalho conhecido do diretor John G. Avildsen, Karatê Kid, lançado quatro anos antes. O ajuste disciplinar também rende passagens que tem ao fundo a trilha assinada pelo mesmo músico do longa de 1984, Bill Conti. Já o personagem Joe Clark funciona como uma versão do Sr. Myiagi, ainda que, em vez da arte marcial, use a educação para disciplinar e libertar os pupilos de Eastside. A câmera o trata com a mesma reverência dispensada ao mestre vivido por Pat Morita, especialmente na cena final, que descamba em um sentimentalismo um tanto excessivo.

Nota: 6,0 (de dez)










quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Despertar de Rita


O Despertar de Rita (Educating Rita, Reino Unido, 1983). Direção de Lewis Gilbert. Com Michael Caine, Julie Walters, Michael Williams, Maureen Lipman, Jeananne Crowley, Malcolm Douglas.


Renato Cordeiro

Quase sempre, os filmes sobre a relação entre professor e estudante fazem parecer que o problema está no aluno, aquele ser desprovido de luz que precisa do mestre para poder se desenvolver. É verdade que existem aqueles outros longas, como O Homem Sem Face e Encontrando Forrester, que apresentam profissionais já aposentados ou exilados que recuperam o gosto pelo ensino quando alimentados pelo genuíno desejo dos pupilos de aprender. O Despertar de Rita estabelece uma clara diferença entre os exemplos citados ao mostrar como protagonista não um ex-professor recluso, mas alguém saturado com o meio universitário, ainda dentro da academia.

O filme não se dedica muito aos bastidores dos departamentos ou à vida dos professores, mas sugere, pelas falas e expressões do amargurado personagem de Michael Cane, que a vida dos intelectuais pode ser marcada por uma petulância e vaidade capazes de apagar a chama de qualquer educador. Frank Bryant
é um sujeito desarrumado e alcóolatra que não se importa sequer com a própria reputação, acreditando que o fato de ter se tornado um profissional medíocre é até adequado, considerando-se a mediocridade dos estudantes. O elemento deflagrador do revés é a chegada de uma estudante especial, a desbocada cabeleireira Rita, que vê no estudo da literatura uma forma de recuperar as rédeas da própria vida. Bryant percebe rapidamente que a jovem tem um interesse verdadeiro pela arte, mas receia estar lançando mais uma pessoa ao buraco negro que o consumiu.

A câmera de Lewis Gilbert, que assinou três filmes de 007 entre os anos de 1967 e 1979, não tenta inovar ou chamar atenção. Isso acaba colaborando para que as cenas nas quais os protagonistas contracenam denunciem a natureza teatral do filme, baseado em peça de William Russell, também responsável pelo roteiro. Poucos cortes, movimentos de câmera econômicos e trilha sonora inexistente dão a tônica mesmo quando Caine e Julie Walters conversam em campo aberto. Os dois, aliás, estão perfeitos, especialmente Walters, que chama atenção pelo trabalho de voz, que aliada ao figurino e penteado, faz com que, aos 33 anos, o papel de uma jovem de 27 soe como se tivesse mais de 40. Um envelhecimento precoce que parece acompanhar a infelicidade da personagem.


Nota: 7,0 (de dez)










quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Stayin' Alive In The Wall

Mash Up inspirado que mescla os temas de dois famosos longas, Os Embalos de Sábado à Noite, monumento da disco que consolidou a carreira de John Travolta, e The Wall, musical inspirado no álbum homônimo da banda de rock psicodélico Pink Floyd. No vídeo, a canção Another Brick In The Wall ganha versos de Stayn' Alive, com direito aos característicos vocais dos Bee Gees.

Agradecimentos a Adriano Câmara, pela dica.

















terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um Tira À Beira da Neurose


Um Tira À Beira da Neurose
(Gun Shy, EUA, 2000) Direção de Eric Blakeney. Com Liam Neeson,
Oliver Platt, Sandra Bullock, Jose Zuñiga, Richard Schiff, Andy Lauer, Mitch Pilegi.


Renato Cordeiro

Existem filmes que quase dão certo e por isso mesmo terminam em um lamento, sendo que Um Tira À Beira da Neurose é um caso típico. A comédia policial produzida por Sandra Bullock oscila entre o morno e o decepcionante, especialmente quando descamba para uma conclusão que mergulha em clichês do gênero. É possível que o espectador médio não faça muitas perguntas e engula situações inverossímeis uma vez ou outra, mas o trabalho força a barra e é pouco inventivo.

Uma coisa positiva no filme são as tramas paralelas, que até se desenvolvem melhor do que a história principal, sobre um agente do FBI vítima de algo como um estresse pós-traumático, depois de quase morrer em uma operação na qual trabalhou disfarçado. Mesmo apavorado, Charlie Mayou é convencido a se manter infiltrado na organização como forma de capturar bandidos que estão para fechar um grande negócio criminoso. A partír daí, acompanhamos o personagem de Liam Neeson se dedicando a outras duas situações que se desdobram em paralelo: a paixão pela enfermeira vivida por Sandra Bullock e os desabafos no grupo de terapia do qual participa.

Como na maioria das vezes, o interesse amoroso não passa de um tique nervoso dos roteiros hollywoodianos, que tem sempre que pôr algum romance nas histórias. Pelo menos, em Gun Shy o affair entre Neeson e Bullock colabora com a história, já que as condições em que se encontram ajuda a realçar a fragilidade e transparência involuntária do protagonista. Por sua vez, as sessões coletivas de terapia são uma boa ferramenta para que o espectador tenha mais clareza de quem é o agente, ainda que o recurso se desperdice ao retratar pessoas não muito engraçadas, tornando ainda mais difícil para o filme arrancar um sorriso do espectador.

A grosso modo, Um Tira À Beira da Neurose seria algo como a versão policial de Máfia no Divã, embora o trabalho de Eric Blakeney seja menos inventivo. O roteiro até se desenvolve bem e cria boas sequências, como aquela em que acompanhamos, intercalados, os posicionamentos sobre uma operação criminosa por parte da polícia e dos dois lados da transação. Algo assim também ocorre em uma narração em off de Neeson, quase que apresentando fatos que se passam em uma cena envolvendo dois superiores do agente. A comédia poderia funcionar melhor se tivesse menos soluções óbvias e diálogos mais afiados.

Nota: 5,0 (de dez)










segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Virtude Selvagem


Virtude Selvagem (The Yearling, EUA, 1946) Direção de Clarence Brown. Com Gregory Peck, Jane Wyman, Claude Jarman Jr., Chill Wills, Clem Bevans, Margaret Wycherly, Henry Travers, Forrest Tucker, Donn Gift.


Renato Cordeiro

Apesar de envelhecido,
Virtude Selvagem mantém a força de um sensível drama sobre como pode ser penosa a estrada para a maturidade, ainda mais quando se cresce no lar de pobres agricultores na Flórida pós-Guerra Civil. Em meio a uma vida marcada por sucessivas tragédias e algumas poucas esperanças, pais e filho desenvolvem uma crescente dificuldade em exercer os respectivos papéis por causa do conflito entre a inocência da criança e a dura realidade do mundo dos adultos.

Jody é o filho único dos Baxter, rodeado por uma natureza exuberante cuja fauna ameniza a solidão. O único amigo da mesma idade mora longe e não pode visitá-lo por conta de uma deficiência. Quando o pai, Penny Baxter, se vê obrigado a sacrificar um veado, Jody recebe a chance de adotar um animal, justamente o filhote do cervo. Mas aos poucos o bicho indisciplinado começa a criar problemas e abala até a relação familiar.

A direção correta torna o filme bastante dependente de outros elementos que, felizmente, funcionam bem, a exemplo do roteiro, a fotografia que parece feita de pinturas e o elenco principal. A trama chama a atenção pela inversão de papéis entre marido e mulher, sendo o primeiro o otimista conciliador e a segunda a figura de autoridade que impõe limites sobre o garoto. Pena que o filme tem como ponto fraco justamente aquele que deveria ser o maior trunfo, já que o ator-mirim Claude Jarman Jr, por vezes, carrega excessivamente no deslumbramento do personagem. Por outro lado, Gregory Peck é só carisma ao fazer o típico papel de bom pai que reprisaria anos mais tarde em longas como A Luz É Para Todos e O Sol É Para Todos. Mas o destaque é mesmo Jane Wayman, que na pele de Orry, constrói uma mulher ranzinza, dona de um coração endurecido pelas sucessivas mortes de filhos que sequer atingiram a adolescência.

O longametragem também tem sucesso ao evitar conferir aos pais uma vilania que seria fácil de ser alcançada. Em vez disso, a obra deixa transparente a mentalidade da época, quando
as famílias tinham nos filhos, desde cedo, mais do que laços de sangue, mas também colaboradores pela sobrevivência coletiva. Ainda que percebam as necessidades de Jody, as preocupações e atitudes dos Baxter são sempre justificadas pelo roteiro, o que faz de Virtude Selvagem uma fábula da ética do trabalho.

Nota: 6,0 (de dez)










segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Luke, Eu Sou Seu Pai.




É mesmo um divisor de águas na vida de uma pessoa. Tudo bem, Vader nunca disse Luke, eu sou seu pai, mas quem se importa?

Com agradecimentos a Adriano Câmara, pela dica.