quarta-feira, 22 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe


X-Men: Primeira Classe
(X-Men - First Class, EUA, 2011). Direção de Matthew Vaughn. Com James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence, January Jones, Rose Byrne, Nicholas Hoult, Caleb Landry Jones, Lucas Till, Jason Flemyng, James Remar, Matt Craven, Oliver Platt, Michael Ironside,
Hugh Jackman.


Renato Cordeiro

Quando Bryan Singer abandonou a direção de
X-Men - O Confronto Final para fazer Superman Returns, Matthew Vaughn foi o primeiro nome cotado para assumir o trabalho. Por causa do prazo apertado, desistiu do projeto e a tarefa passou para Brett Ratner, da trilogia A Hora do Rush. Anos mais tarde, Vaughn recebeu uma nova oportunidade de comandar um longametragem dos mutantes superpoderosos, desta vez um prequel, filme com trama que se passa antes da franquia anterior, exatamente como ocorreu com a saga Star Wars a partir de A Ameaça Fantasma. Felizmente, X-Men - Primeira Classe tem resultado incomparavelmente superior em relação ao obtido por George Lucas.

A história trata dos primórdios da amizade entre dois poderosos mutantes que se unem para combater uma ameaça para a humanidade. O gênio da genética Charles Xavier, telepata, acredita que a tolerância entre os diferentes pode levar à convivência entre humanos e mutantes, enquanto o sobrevivente do Holocausto Erik Lehnsherr, capaz de controlar campos magnéticos, tem argumentos em contrário cravados na própria pele. A sequência de abertura, inclusive, reaproveita a cena que dá início ao filme de 2000, passando-se em um campo de concentração. Lehnsherr é apresentado como um homem inteligente e sedutor, mas também transtornado pelos horrores da guerra e decidido a conseguir vingança contra aqueles que promoveram sua tragédia pessoal. O ator alemão Michael Fassbender dá vida ao personagem que tem contas a ajustar com nazistas e, em dado momento do filme, chega a protagonizar uma cena que lembra, em muito, um dos seus trabalhos anteriores, o excepcional Bastardos Inglórios.

Apesar da angústia do personagem de Fassbender, Primeira Classe
é uma obra assumidamente mais solar. A fria paleta de cores que se percebia desde X-Men - O Filme dá lugar a tons mais quentes, que realçam a leveza e bom-humor do trabalho de Matthew Vaughn, o mesmo responsável pelo simpático Stardust. Até o tema da aceitação da diferença é apresentado de forma mais leve, ainda que jamais banalizado. E se o futuro terrorista a ser conhecido como Magneto é o pólo sombrio do filme, seu aliado, Charles Xavier, interpretado pelo escocês James McCavoy, responde por algumas das cenas mais descontraídas do longametragem. Decidido a frustrar os planos do vilão Sebastian Shaw, Xavier recruta jovens superpoderosos que se tornarão a tal primeira classe - no caso, alunos de uma escola onde mutantes aprendem a lidar com as próprias habilidades.

A obra é repleta de referências da trilogia dirigida por Brett Ratner e Bryan Singer, agora na cadeira de produtor. Para o fã dos personagens, o espetáculo é garantido. Mas em termos absolutos, tem-se um filme apenas correto, sem qualquer cena que valha ser considerada memorável, mas que certamente diverte o suficiente para se esperar por novos filmes que continuem a mostrar o passado dos X-Men.

Nota: 6,0 (de dez)










terça-feira, 21 de junho de 2011

O Escarlate e o Negro


O Escarlate e o Negro (The Scarlet and the Black, EUA/Reino Unido, Itália, 1983). Direção de Jerry London. Com Gregory Peck, Christopher Plummer, John Gielgud, Raf Vallone, Kenneth Colley, Walter Gotell, Barbara Bouchet, Julian Holloway, Angelo Infanti.


Renato Cordeiro

A neutralidade da Igreja Católica durante o Holocausto não passou em branco na história, nem no cinema. Amém, de Costa-Gravas, é talvez um exemplo mais famoso de longametragem a tratar do assunto. Já O Escarlate e O Negro, talvez pela natureza televisiva, não chama tanta atenção, mas tem bons motivos para ser conferido. A trama é baseada na história real do Monsenhor Hugh O'Flaherty, que durante a ocupação alemã em Roma, liderava um grupo responsável por esconder judeus, refugiados e soldados aliados. O trabalho se torna ainda mais perigoso graças à presença do
novo Chefe da Polícia romana, o coronel nazista Herbert Kappler.

O ator preferido deste cinéfilo já havia vestido a batina no clássico As Chaves do Reino, que rendeu a Gregory Peck a primeira indicação ao Oscar, em 1944. A diferença é que o
Monsenhor O'Flaherty, com sua integridade moral e capa vermelha a cobrir as costas, mais parece um super-herói. O sacerdote tinha a fama de playboy, frequentando os mais distintos eventos, mas também era capaz de demonstrar as habilidades com boxe para se defender de perseguidores da Gestapo.

O contraponto do benfeitor irlandês é o igualmente obstinado Kappler, vivido por Christopher Plummer. O nazista recebe a missão de dominar o coração da Itália, mas vê no Monsenhor um espinhoso obstáculo, por causa da imunidade diplomática do padre. Logo ao chegar, o chefe da polícia alemã determina uma faixa que delimita a soberania do Vaticano, obrigando
O'Flaherty a usar perigosos artifícios para manter suas atividades.

Em meio à direção morna e a produção modesta, um destaque negativo vai para a trilha pouco inspirada do mestre Ennio Morriconne. Outro problema são os esforços para remover do Papa Pio XII a aura de indiferença ante o nazismo, rendendo momentos que oscilam entre os patéticos e os repulsivos. Pode até ser que ele tenha sido injustiçado pela história, mas não será neste telefilme que encontrará redenção. Felizmente, o longametragem se detém no que interessa, o duelo de vontades entre o religioso e o coronel. Vale a pena prestar a atenção na sequência final, que explica os impressionantes desdobramentos da história.

Nota: 6,0 (de dez)










segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Enigma de Fermat


O Enigma de Fermat (La Habitación de Fermat, Espanha, 2007). Direção de Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña. Com Lluís Homar, Alejo Sauras, Elena Ballesteros, Santi Millán, Federico Luppi.


Renato Cordeiro

Alguns exemplares do cinema europeu mostram a competência de realizadores pelo mundo afora em criar obras que facilmente seriam consideradas hollywoodianas. Assim como o inglês Danny Boyle teve em Extermínio o êxito ao explorar os elementos dos filmes de zumbi, o longa espanhol O Enigma de Fermat tem desenvoltura para fazer frente a pérolas das tramas de jogos doentios, como Jogos Mortais, do jeito que a Terra do Tio Sam costuma fazer. Com bem menos sangue, é verdade.

A trama acompanha quatro matemáticos que se encontram ao aceitar um misterioso convite para um evento onde será apresentado um grande enigma. Cada um recebe um nome fictício, que faz alusão a um respectivo gênio da ciência que abraçaram. No entanto, uma vez chegando ao local da reunião, o grupo se vê em uma armadilha meticulosamente preparada para pôr à prova suas habilidades. Não demora para que descubram que, à medida que os desafios aparecem, a sala onde estão vai se tornando menor. Enquanto tentam sobreviver às ameaças incessantes, eles tentam descobrir o que os levou a parar naquela situação.

O longa dispensa grandes efeitos especiais e aposta na tensão vivida pelos protagonistas, que a cada teste, vão se tornando mais desesperados. O ritmo ágil é favorecido pela metragem adequada, de pouco mais de 80 minutos, além dos atores competentes. Destaque para Lluís Homar, figura vista em Abraços Partidos e A Má Reputação, de Almodóvar.

Nota: 7,0 (de dez)










domingo, 19 de junho de 2011

Chuva


Chuva (Lluvia, Argentina, 2008). Direção de Paula Hernández. Com Valeria Bertuccelli, Ernesto Alterio.


Renato Cordeiro

Se é verdade que cada cinéfilo guarda na mente um filme a ser rodado um dia, o terceiro longametragem de Paula Hernández fulminou, ao menos em parte, um dos devaneios deste blogueiro. Chuva começa com uma situação típica de uma grande metrópole, um engarrafamento monstruoso que poderia muito bem ocorrer nas ruas do Rio Vermelho, em Salvador, ou na Avenida Paulista, em São Paulo. Mas este se torna ainda mais irritante por causa do mau tempo sobre Buenos Aires, cidade palco do inesperado encontro entre Roberto e Alma. A segunda, presa no próprio carro, vê o primeiro entrar de súbito e sentar no banco do carona, enquanto, pelas ruas congestionadas, pessoas com caras de poucos amigos parecem estar à sua procura. E é assim, de modo abrupto e inesperado, que os personagens começam a se conhecer.

O filme não é muito diferente de tantos outros que seguem a fórmula solitários unidos descobrem um ao outro. Ainda assim, é eficiente em manter o interesse pelo par central, bem interpretado e favorecido pelo trabalho da cineasta argentina, que também assina o roteiro. A história começa no carro de Alma, embalada pela canção Slow, que mais parece um plágio pra lá de descarado de Lost Cause, de Beck. A câmera sobre o painel do veículo destaca a chuva do lado de fora, e tudo isso deixa óbvio que o temporal reflete o estado de espírito da mulher. O mesmo vale para Roberto, cuja vida aparentemente mais estável reserva algumas angústias não-resolvidas. E mesmo depois das cenas no engarrafamento, quando o longa ganha novos cenários, a chuva se faz presente, sempre colaborando para unir os protagonistas.

A história sonega algumas informações sobre os personagens, algo que pode ser negativo para o espectador que fizer certas cobranças à trama. Mas a história, essencialmente, são Roberto e Alma. Chuva resulta em um filme que se por um lado
não rende maior espetáculo, dada a falta de ambição, também não peca na direção de atores e no tom intimista, que sem êxtase, agrada.

Nota: 6,0 (de dez)