domingo, 6 de janeiro de 2013

Cine Concerto



Renato Cordeiro


Orquestra Sinfônica da Bahia interpreta John Williams. Este bem que poderia ser um título alternativo para o Cine Concerto, evento que neste sábado, 05 de dezembro, inaugurou as atividades em 2013 da OSBA (em foto extraída do perfil do músico Orley Souza no facebook). A apresentação dedicada a algumas das maiores trilhas do cinema teve o programa quase inteiramente voltado à obra do maestro que é, certamente, o maior parceiro do cineasta Steven Spielberg. Longas como E.T., Tubarão e Os Caçadores da Arca Perdida, entre outros, receberam partituras cuja fama rivaliza com os próprios filmes, fazendo a alegria do público que ontem lotou a Sala Principal do Teatro Castro Alves, em Salvador, com ingressos esgotados para a apresentação seguinte, deste domingo, dia 06.

Se é verdade que uma orquestra é a expressão do diretor-artístico, a OSBA incorporou na apresentação muito do despojamento do maestro Carlos Prazeres. O bom-humor marcou a apresentação desde o começo, com boa parte dos músicos que subiram ao palco trajados com fantasias mais ou menos identificadas com personagens do cinemão dos EUA - havia alguns que não tinham nada a ver com a ocasião, como Chapolin e um discutível Lanterna Verde, rendendo alguns momentos de galhofa em plena apresentação da orquestra. O público gargalhava e aplaudia com o entusiasmo típico de uma cidade que tem simpatia pela irreverência. Mas o elemento "música", nem por isso, ficou de lado.

O programa começou com a clássica vinheta da Fox, seguida por Assim falou Zaratustra, de Richard Straus, tema usado por Stanley Kubrik em 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Prazeres, professoral em seu paletó, gravata e insuspeito par de óculos, falou da influência de compositores clássicos na música feita para o cinema e comentou brevemente o papel da orquestra como recurso expressivo dentro dos filmes. Nesse campo, ele destaca o leitmotiv, a associação que uma música estabelece com eventos e personagens, algo que vem da experiência operística de Richard Wagner - apontado como uma das maiores influências de John Williams. A grande demonstração da aplicação dessa idéia vem logo a seguir, com uma trinca de composições feitas para a saga Star Wars - o tema principal, o de Luke e Lea e, por último, a Imperial March, composição que ajudou a imortalizar o vilão Darth Vader.

Em meio a uma noite de temas de John Williams, havia espaço ainda para dois ilustres "penetras" italianos: Ennio Morricone, lembrado com uma composição de Cinema Paradiso, e Nino Rota, que teve um medley de obras feitas para longas de Felinni, Zeffirelli e Copolla - este último, claro, foi o tema de O Poderoso Chefão. Quebrando o roteiro formado majoritariamente por obras dos anos 70 e 80, a OSBA executou o tema principal de Harry Potter e a Pedra Filosofal, que parece ter acertado em cheio o objetivo de contemplar, também, o público mais jovem. Pelo menos, foi nesta altura que este cinéfilo mais ouviu burburinhos entre a platéia, acompanhados dos mais enfáticos pedidos de silêncio.

Algumas obras executadas pela OSBA chamaram atenção pela proximidade em relação à execução original, a exemplo de E.T., enquanto outros tiveram certos improvisos, como o tema de Star Wars, que parecia ter o andamento um tanto mais rápido que a versão original. Com uma supresa reservada ao final, de tom pastelão na execução mas simpática na idéia, a Orquestra Sinfônica da Bahia fechou uma noite bastante agradável e didática para quem gosta de cinema e música - e, especialmente, das maravilhosas correlações entre essas duas coisas.

domingo, 4 de novembro de 2012

O Estupefactante Aranhomem






O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-man, EUA, 2012)
Direção: Mar Webb (500 dias com ela)
Roteiro: James Vanderbilt (Zodíaco, Robocop), Alvin Sargent (Lua de Papel, Homem-Aranha 2 e 3) e Steve Kloves (série Harry Potter) 
Com: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field.

Daniel Fróes


Primeiro, o título do filme deveria ser "O Estupefactante Aranhomem".

Dito isto, o filme não é muito diferente do que promete - uma aventura adolescente com o aracnídeo da vizinhança.

Neste reboot, o pai de Peter é um bioquímico que estuda processos de mescla genética entre diferentes espécies. Ele foge de um perigo desconhecido, deixando Peter com os já conhecidos tios Ben e May.

Peter é menos "nerd" e mais "descolado" neste reboot. Ele anda de skate, é socialmente ativo na escola (faz parte do clube de debate) e mantém sua "veia fotográfica". É amigo (de certa forma) do valentão da escola (Flash), e conhecido de sua futura namorada, Gwen Stacy.

O enfoque da história é adolescente, os diálogos são adolescentes, o ritmo é adolescente, e isso não é uma coisa ruim, afinal o público alvo é o público adolescente. As personagens são mais críveis do que os 3 filmes anteriores, mais humanos - a menina bonita não é uma deusa inalcançável, o menino mau não é um monstro terrível, e o próprio Parker não é um nerd sociopata sem amigos.

As condições financeiras de Parker não são tão ruins quanto nos filmes anteriores, e há outras diferenças importantes, como a morte do tio Ben, que ainda é ocasionada pela "inação" de Peter.

O filme funciona razoavelmente bem como uma metáfora da fase adolescente da vida, onde o corpo muda pelos hormônios, onde o sexo se torna mais presente, onde queremos provar coisas, onde nos sentimos mais seguros de algumas coisas e menos seguros de outras.

A acabaram as coisas boas sobre o filme.

A história é boba e mau contada. Há coisas demais a serem "ditas", mas em pouco tempo e de forma corrida. Peter se comporta de uma forma quando está sem máscara, mas de outra muito diferente quando está travestido de Aranhomem - e não me parece que tenha sido de propósito, como para demonstrar nossa máscara social, mas sim um mau direcionamento da personagem.

Há muitas incongruências de realidade típicas de episódios de He-man: em alguns momentos o herói tem força e agilidade descomunais, e em outros ele apenas se aproxima dos limites humanos. Os carros quebram facilmente em alguns momentos, e são indestrutíveis em outros. Diretores e roteiristas de filmes de ação precisam aprender a lidar com essas coisas, urgentemente.

As capacidades intelectuais e conhecimentos de "ciências" de Peter também são  mostrados de forma confusa no filme, e ao final não sabemos se ele é realmente brilhante ou apenas sabe uma coisa aqui e ali que, somadas às anotações do pai, aparentam ser informações contundentes.

Não há construção da personagem em termos intelectuais, não acompanhamos o desenvolvimento do garoto. Vemos que ele tem algum conhecimento de mecânica porque ele tem uma tranca eletrônica na porta, mas de repente ele constrói em casa um lançador de teias. É inverossímil.

Assim como é inverossímil seu uniforme e mais ainda os óculos que ele usa, que não quebram.

Não posso falar muito de verossimilhanca com relação aos poderes - de Peter e de seu inimigo, Lagarto - mas uma coisa sempre me incomoda: o fato do poder "aranha" do Aranhomem não ter nada a ver com aranhas. Ele está mais pra Lagartixomem do que para Aranhomem, pela sua capacidade de se grudar nas coisas (algo que tentou ser sanado em Homem-Aranha 1, com as minigarras nas mãos e pés do herói, e a teia orgânica produzida por seu corpo).

Além disso, seu "sentido aranha" é, na verdade, místico. Sem contar que some e aparece de acordo com a necessidade do roteirista.

Algo que me parece muito mais "verossímil" é considerar o Aranhomem como um mutante que teve suas capacidades ativadas a partir do estresse causado pela aracnídea picada. Faria mais sentido.

Aliás, gostaria de avisar à bioquímica wannabe Gwen Stacy que aranhas não são insetos - ela se refere ao herói por bug-boy, algo como garoto-inseto.

Também vou alertar para um problema de direção de câmera: a inconsistência, em especial quando o Aranhomem está em ação. A "Visão POV" é utilizada hora sim, hora não, sem motivo aparente. Aquilo era pra vender jogo de Free Runing (LeParkour) com o herói, não?

O final do embate entre o herói e seu algoz é emblematicamente non-sense, porque o Lagarto salva o jovem, que poderia ter se salvo sozinho, sem grandes problemas.








sábado, 28 de julho de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA/Reino Unido, 2012). Direção de Christopher Nolan. Com Christian Bale, Tom Hardy, Gary Oldman, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine, Matthew Modine, Liam Neeson, Cillian Murphy.


Renato Cordeiro

Christopher Nolan falhou. O diretor sempre teve vícios, mas se metia em projetos com variados pontos altos que compensavam algumas deficiências. Os êxitos em filmes como A Origem e o próprio Batman - O Cavaleiro das Trevas justificaram por tempos o bordão "In Nolan, We Trust". Mas agora, os vícios do cineasta ressurgem misturados à quase absoluta falta de atrativos no capítulo que encerra a trilogia dedicada ao Homem Morcego. Há clichês, excesso de personagens, uma trama smplória e cenas de ação tediosas, ainda que os efeitos especiais, como era de se esperar, funcionem bem.

Se podemos citar um ponto alto deste "Batman 3" é a capacidade do filme em construir tensão. O grande ponto baixo é justamente não saber o que fazer com isso. A trama acumula uma série de situações desesperadoras para o herói, subjugado física e mentalmente pelo terrorista brutamontes chamado Bane. O confronto cria uma dimensão trágica de proporções ainda maiores das que verificamos no longa anterior, cuja história se passa oito anos antes. O problema de plots  como esse é que a aguardada reviravolta costuma não soar convincente. Nesse ponto, a produção falha miseravelmente.

Depois de derrotar Batman, Bane o aprisiona em uma masmorra especial e passa a dominar a cidade do personagem. Convenhamos, a forma como Bruce Wayne se recupera da surra é um tanto difícil de engolir. E apesar de ser um leigo em assuntos de coluna, imagino que as quedas subsequentes em tentativas de escalada promovidas pelo herói deveriam ter custado a espinha do dito cujo. A esta altura, os iniciados na mitologia do herói dos quadrinhos já terão percebido elementos das sagas A Queda do Morcego e Terra de Ninguém. O vilão perenemente mascarado e bem-interpretado por Tom Hardy cria um governo próprio em Gotham City e parece apenas estar esperando seu oponente "ressurgir", mas inexplicavelmente, quando isso finalmente acontece, Bane se mostra surpreso. 

E não, esse parágrafo acima não pode ser considerado spoiler. Isso é um filme de super-heróis, lembra? O herói tem que voltar. Mas não vamos entrar em maiores detalhes.

A segunda metade do filme de quase três horas torna-se crescentemente enfadonha. Na cidade sitiada, os personagens lutam para se estabelecer e criar uma resistência, mas tudo acontece rápido demais, é coisa demais ocorrendo ao mesmo tempo. Christopher Nolan já havia mostrado que tinha um jeito meio fast food de filmar. Basta lembrar a cena do capítulo anterior, O Cavaleiro das Trevas, quando o Comissário Gordon, que estava dado como morto, volta para a família. A porta se abre, vemos a esposa do policial encarar o marido, dar-lhe um tapa e, de outro ângulo, vemos o personagem de Gary Oldman entrar na casa, tudo em menos de dez segundos. As coisas estão lá, mas a pressa de Nolan arranca toda a profundidade. Agora, em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, esse mesmo problema se torna ainda mais evidente. Repare, por exemplo, como Nolan usa insistentemente o recurso da fala em off para costurar cenas e economizar tempo, ligando espaços diversos, saturando o filme.

Como se não bastasse, a trama co-escrita pelo diretor usa e abusa de clichês e situações simplesmente absurdas. Há várias daquelas passagens em que os personagens citam assuntos que você, cinéfilo mais atento, percebe que serão retomadas mais à frente, o que leva alguns pontos da trama a uma alta previsibilidade. Como se não bastasse, o terceiro ato inclui uma pavorosa sequência na qual policiais e bandidos se enfrentam em plena rua, com os primeiros rumando brava e estupidamente em direção aos inimigos que estão armados com metralhadoras. Um dos policiais de destaque um pouco maior na trama morre nesse combate e a câmera se aproxima de forma nada sutil, como se pudesse gritar: "está vendo, ele está morto mesmo!" É como um Gangues de Nova York mais tosco - e com o Batman no meio.

Christopher Nolan precisa ser mais do que um cineasta que escolhe bons projetos. Tem que começar a se preocupar em não sabotá-los.

Nota: 5,0 (de dez)












quinta-feira, 31 de maio de 2012

Christopher Lee - 90 anos


Daniel Fróes

O ator britânico Christopher Lee completou no último dia 27 nada mais nada menos que 90 anos de idade. Segue aqui uma nano retrospectiva da carreira do ator.

Primeiro, o rapaz mantêm o recorde do Guiness de mais aparições em créditos de filme na história. Não é pouca coisa. Na sua lista de filmes do IMDB (Internet Movie Database - imdb.com) constam 276 filmes, sendo que alguns estão EM ANDAMENTO (ele vai ser Saruman em O Hobbit).

Pra aumentar seu nível de awesomeness, ele é cantor, e no dia do seu aniversário lançou uma música de Heavy Metal intitulada Let legend mark me as the King (ele lançou um disco de Heavy Metal em homenagem a Carlos Magno, By the Sword and the Cross, em 2010).

Sua primeira atuação no cinema foi em 1947, e ficou famoso por trabalhar em filmes de terror, como no papel de monstro no filme The curse of Frankenstein (1957), no papel de Drácula no filme Horror of Dracula (1958), no papel de múmia em The Mummy (1959).

Já interpretou Sherlok Holmes, Mefistófeles e Lúcifer (o diabo), piratas, vampiros, condes, reis, vilões orientais, Dr. Jekyll, inimigo de James Bond (O Homem com a Pistola de Ouro), Rasputin, e até mesmo Morte, do universo de Discworld (num curta-metragem). Ele trabalhou em filmes de horror e terror, em comédias, em épicos, filmes de aventura, de ação, de espionagem.

Seus trabalhos mais aclamados recentemente foram nas trilogias Senhor dos Anéis e Guerra nas Estrelas (a nova trilogia). No primeiro, ele interpretou Saruman, o branco. No segundo, o famigerado conde com nome dúbio. Trabalhou em cinco filmes de Tim Burton, incluindo o novo Dark Shadows, e voltará a interpretar Saruman, como dito acima, em O Hobbit.

Ele também é bastante procurado para ser ator de voz de diversos personagens (de filme e video game), tendo cantado em duas trilhas sonoras distintas (The Wicker Man e The Return of Captain Invincible).

O rapaz também é Cavaleiro da Rainha da Inglaterra, tendo recebido a Ordem do Império Britânico em 2001.

Vale dar uma olhada na página dele da Wikipedia.

E não, ele não é parente de Stan Lee. Ou Rita Lee. Ou Bruce Lee.

Parabéns, Sir!










quarta-feira, 30 de maio de 2012

Os Vingadores


Os Vingadores (The Avengers, EUA, 2012)
Direção: Joss Wheldon (Serenity)
Roteiro: Joss Wheldon (Toy Story, Alien: Ressurrection, Titan AE, Serenity, A Cabana na Floresta) e Zak Penn (Inspetor Bugiganga, Atrás das Linhas Inimigas, Incrível Hulk)
Com: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow.



Daniel Fróes

Os vingadores é o ponto final de um plano de marketing.

As franquias de Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Hulk (esta última, de forma menos eficiente, passando por um reboot) foram criadas já pensando num produto final - o filme Os Vingadores.

Com exceção de Hulk, que teve problemas graves de formatação, encontramos no filme os heróis (e vilão) tal qual foram apresentados em seus filmes de origem, com pequenas evoluções decorridas do tempo entre as aventuras. Tony Stark ficou mais sério e menos bagunceiro (pra possibilitar existir alguma chance de ele se adequar à equipe) mas continua impertinente, piadista e irresponsável (sem contar auto-confiante); Thor continua um bobão de bom coração e Capitão América continua… Capitão América. Nick Fury também está compatível com os outros filmes, assim como sua equipe. Isso é um ponto positivo.

O filme não tem exatamente um roteiro maravilhoso - vilão pega grande força mágica dos mocinhos, que passam o filme tentando recuperá-la. Vilão usa força mágica pra trazer possível derrota aos mocinhos. Mocinhos brigam entre si. Mocinhos se juntam e vencem vilão, sem grandes perdas - mas os filmes anteriores também não têm.

Como só um problema de nível mundial poderia forçar a união entre estes personagens, o escolhido pra ser vilão foi o irmão de Thor, Loki. Que ou é incrivelmente poderoso e burro, ou é cercado por idiotas que o deixam fugir e ficar pegando objetos mágicos por aí. Eu votaria nas duas opções.

Pensando nesse assunto, Loki deve ter uma lábia muito boa. A todo momento alguém com um poder muito grande em mãos resolve, em vez de usar esse poder, dá-lo a Loki para que ele faça bom uso. Vai entender.

Como estamos falando de uma adaptação de gibis, o filme traz problemas inerentes ao gênero, como por exemplo, força a barra para manter o grupo unido. Com isso não quero dizer que Tony Stark não faria parte do grupo ou algo assim (é mais estranho Batman fazer parte da Liga da Justiça do que Tony Stark fazer parte dos Vingadores). Estou me referindo a total e completa diferença entre os níveis de poder das personagens - coisa muito difícil de lidar em qualquer história envolvendo super-heróis.

O filme tenta forçar a barra equivalendo os poderes de Homem-de-Ferro, Thor e Capitão América. Não dá. Homem-de-Ferro (HF daqui pra frente) possui uma armadura realmente poderosa, que deixa CA (Capitão América) literalmente no chinelo, mesmo com seu super-ultra escudo. CA é um homem no topo das capacidades físicas humanas, mas nenhum humano é imune a um tiro de .45. Nem tem força para levantar um tanque.

Se CA já é infinitamente inferior, em termos de poder, a HF, quem dirá a Thor, que é muitas vezes superior a HF. Há uma discrepância muito grande aí. E isso me incomodou muito.

Agora, se isso é um problema entre esses três, eu me pergunto: que diabos Viúva Negra e Gavião Arqueiro estão fazendo no campo de batalha contra alienígenas fortões com super tecnologia bélica? Desculpem, mas não dá pra engolir. Como se diz na Bahia, dois altos, por favor. Estes personagens são interessantes, e poderiam ter sido muito bem utilizados de outras maneiras (como foram, em parte do filme). Mas colocar eles no front é pedir muito para o senso de realidade do espectador. Me lembro da cena em que (SPOILER ALERT, mas é fraquinho) VN pede que CA a jogue para o alto, para que ela intercepte uma nave alienígena em alta velocidade. Se um ser humano parado é atingido por um automóvel a 50 km/h, ele provavelmente terá diversas fraturas pelo corpo todo, se não morrer. O que aconteceria se uma pessoa colidisse com um bólido extremamente denso com velocidade superior a 100 km/h? Pois é (FIM DO SPOILER).

Outro problema grave do filme é o Deus Ex Machina, ou como se diz em bom rpgês, a mão do mestre. Aconteceu duas vezes, e é claro, a favor dos mocinhos.
A primeira foi quando (SPOILER ALERT) nosos amigo Loki encostou a lança em Tony Stark, para dominar sua mente, e não conseguiu por causa do seu Capacitor de Fluxo Peitoral (eu sei que aquilo não é um capacitor de fluxo, calma). Simplesmente não faz sentido. Não funcionou porque dissipou a energia no Capacitor? Ok, ele usa em outra parte do corpo. Tem que ser no coração? Ok, então eu vou te matar, Tony Stark. Ponto.

A segunda foi quando (AINDA TEM SPOILER) Banner chega no campo de batalha (ou seria na urbes de batalha? Fiquei confuso agora), e se transforma em Hulk "porque sim". Desculpe galera, mas não dá pra engolir essa não. Demitam esse roteirista, por favor. 

E finalmente (MAIS SPOILER) temos a batalha final, que é um enorme Deus Ex Machina sem fim. Principalmente em se tratando dos bichões gigantescos voadores - o primeiro se mostra dificílimo de destruir, os outros dois não passam de um origami de tão fácil que morrem. E os soldados rasos, que são gigantes, fortes e rápidos, são derrotados numa facilidade impressionante. Até GA consegue fazer um deles VOAR com um chute. Pois é (FIM DO SPOILER).

Claro, NÃO É ISSO QUE IMPORTA. Num filme desses, mais importante é se divertir. É verdade que ele seria mais completo se conseguisse fazer tudo ao mesmo tempo - ser coerente, ter um roteiro genial, ser bem feito e bem dirigido, e ser divertido. Isso é muito difícil. Mas o objetivo principal é alcançado.

Contudo, vale ressaltar: o filme é muito leve, é feito para jovens e crianças, não tem a densidade que Batman - The Dark Knight teve, por exemplo. É uma opção. Eu sempre acho que um pouco de densidade ajuda, mas não é obrigatório. Claro, segue a lógica dos outros filmes, então tem o mérito de ser coerente. Os filmes individuais dos heróis também são bem leves, sem grande densidade.

O filme é divertido. Muitas tiradas legais (algumas poderiam ter sido tiradas do filme, mas tudo bem), muita ação, excelentes efeitos especiais. A batalha final é chata, mesmo, mas não destrói o filme. Tem tensão, tem personagens interessantes, tem umas culhudas legais de se ver (culhuda = mentira, pra quem não sabe). No final, o saldo é positivo.










segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Mestre da Vida


O Mestre da Vida (Local Color, EUA, 2006) Direção: George Gallo. Com Armin Mueller-Stahl, Trevor Morgan, Ray Liotta, Charles Durning, Samantha Mathis, Ron Perlman, Diana Scarwid, Julie Lott, Tom Adams.


Renato Cordeiro

O Mestre da Vida faz a linha de filmes sobre professores relutantes, que tem entre outros exemplares Procurando Forrester, com Sean Connery, e O Homem Sem Face, com Mel Gibson. Mueller-Stahl vive o recluso pintor Nicholi Seroff, russo que domina a arte representativa e se vê alvo de insistentes pedidos de um jovem artista em busca de conhecimento. Acaba aceitando ter o rapaz como aprendiz e hóspede em uma casa no campo onde se passa a maior parte da história, que é apresentada como semiautobiográfica: o aspirante John Talia está para o diretor e roteirista George Gallo assim como Seroff está para o russo George Cherepov, que foi mentor de Gallo nos anos 70.

O longa resgata memórias de Talia sobre o retiro de estudos com seu professor em uma paisagem convidativa à inspiração. Como seria de se esperar em um projeto como este, a beleza natural em torno dos protagonistas é capturada pelas câmeras de Gallo de modo a fazer jus àquelas emolduradas pelos personagens. Não causa surpresa, assim, que o diretor de fotografia do filme, Michael Negrin, seja também o narrador da história, como a versão madura de John Talia. O alter ego do protagonista, o diretor George Gallo, também ele pintor, é responsável por boa parte das peças apresentadas no longametragem.

O Mestre da Vida é até um bom filme, mas escorrega feio quando mergulha em uma trôpega dialética. Para valorar aquilo que une os protagonistas, a arte representativa, o roteiro sabota as falas e atitudes daqueles que defendem a arte progressiva, fazendo que com torne-se feia, sem sentido e presunçosa. A atuação de Ron Pearlman, exalando desdém como um amigo de Seroff, denuncia a maneira pejorativa como o projeto apresenta este tipo de arte, ou não-arte. Boa parte da produção associada a esse segmento pode até não valer um níquel furado, mas é uma pena que a película não aborde essa oposição de forma mais qualificada.

Nota: 7,0 (de dez)












sábado, 12 de maio de 2012

As Donas da Noite


As Donas da Noite (Wir sind die Nacht, Alemanha, 2010). Direção de Dennis Gansel. Com Karoline Herfurth, Nina Hoss, Jennifer Ulrich, Anna Fischer, Max Riemelt, Arved Birnbaum, Steffi Kühnert.


Renato Cordeiro

Enquanto alguns bons filmes de vampiro foram produzidos fora da Terra do Tio Sam, a Alemanha pariu um dos exemplares mais fracos dos últimos anos, considerando aqueles que tiveram uma produção mais significativa. Foram 6,5 milhões de euros gastos em uma produção que costura alguns maneirismos próprios de um segmento já muito maltratado do cinema de horror. Se, numa comparação forçosa, Deixe Ela Entrar corresponde a Entrevista com o Vampiro, então As Donas da Noite equivale a Anjos da Noite.

Um dos vários problemas desta produção é a construção preguiçosa de Lena, a protagonista. Pouco sabemos e pouco saberemos ao longo do filme sobre esta jovem maltrapilha que se torna objeto de desejo de Louise, a líder de um trio de vampiras, que reconhece na personagem um amor do passado. A trama não oferece algo sobre a garota que faça o espectador compreender ou se importar com o peso dos acontecimentos vividos por ela. Por exemplo, não soa convicente a crise de consciência que aos poucos toma conta de Lena quando se torna imortal e entra numa espiral de boemia sanguinária e transgressora. O remorso que se abate sobre a nova vampira parece atender apenas às necessidades imediatas de um roteiro que não demonstra qualquer traço de criatividade.

As Donas da Noite sequer consegue esboçar alguma provocação. Cria um clima homoerótico entre Lena e Louise, mas não o desenvolve. Dá para a antiga Lena um ar de junkie maltrapilha, mas não nos leva a descer com ela ao inferno que o filme tenta nos convencer que era a sua vida humana. Improvisa um romance entre a protagonista e o policial que não é explorado o suficiente para dar peso às inseguranças na semivida que Lena abraçou. Enquanto isso, o longametragem deixa de se dedicar a alguns elementos interessantes das companheiras de grupo, a exemplo da vampira que tem como filha uma mortal em idade avançada.

Em As Donas da Noite, a forma é tão desgastada quanto o conteúdo. A razoável sequência inicial, dentro de um avião, não encontra paralelos ao longo do resto da projeção. Se você gosta de filmes sobre vampiros e busca algo interessante feito fora dos EUA, vai encontrar aqui uma dupla decepção. Uma produção que, além de ruim, emula o que há de pior na parte do cinema estadunidense que se vende como sendo de horror.

Nota: 3,0 (de dez)










terça-feira, 1 de maio de 2012

O Incrível Hulk


O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, EUA, 2008). Direção de Louis Leterrier. Com Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth, William Hurt, Tim Blake Nelson, Ty Burrell, Christina Cabot, Peter Mensah, Lou Ferrigno, Paul Soles, Débora Nascimento, Greg Bryk, Chris Owens, Al Vrkljan, Adrian Hein, Robert Downey Jr. 


Renato Cordeiro

Tudo novo. O longa-metragem começa com a nova origem do monstro que atormenta o cientista Bruce Banner, agora vivido por Edward Norton. É uma rápida apresentação. A idéia não é fazer um "filme de origem", mas deixar claro que não se trata de uma continuação do criticado Hulk, dirigido por Ang Lee em 2003. Os produtores resolveram apostar na pancadaria e deixar a cerebração um tanto de lado - e ainda assim funcionou.

Na história, o atormentado Bruce Banner é mostrado em sua vida de isolamento, tentando achar uma cura para não mais se transformar em um monstro verde quando se enfurece ou é submetido a situações de tensão. Mas um acidente faz com que os militares estadunidenses descubram seu paradeiro e partam ao Rio de Janeiro em seu encalço. Que diabos faz um cientista em busca de paz parar em uma favela do Rio visivelmente violenta, não me pergunte. Mas as cenas de perseguição são boas.

Era o que os fãs queriam. Menos cerebração, boas cenas de ação, e de quebra, referências à mitologia dos gibis e à série estrelada pelo personagem nos anos 70. Espremidos entre uma pancadaria e outra, há uns poucos momentos dramáticos e uma boa química entre o par Norton e Liv Tyler. O ponto fraco, como costuma acontecer nestas adaptações, é a meia hora final. Tudo termina em porrada, como não poderia deixar de ser, afinal, é o Hulk. Mas a última luta é tediosa e causa constrangimento ver os coadjuvantes sem muito o que fazer no meio daquilo. Nada que comprometa mais um bom longa-metragem com personagens da Marvel Comics, que a exemplo do ótimo Homem de Ferro, agora produz as próprias adaptações. Até aqui, tudo bem.

Nota: 7,0 (de dez)


(Adaptado de texto de 18 de junho de 2008)















domingo, 29 de abril de 2012

Os Vingadores


Os Vingadores (The Avengers, EUA, 2012). Direção de Joss Whedon. Com Chris Evans, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson, Mark Ruffalo, Jeremy Renner, Clark Gregg, Cobie Smulders, Stellan Skarsgard, Gwyneth Palthrow.


Renato Cordeiro

Os Vingadores coroa com sucesso o plano de firmar personagens dos quadrinhos da editora Marvel no cinema pop. É um processo que já vem de longa data e que pôde ser percebido por elementos em comum de cinco produções, a partir de 2008: O Incrível Hulk, Thor, Capitão América - O Primeiro Vingador e os dois primeiros longas do Homem de Ferro. Cada um destes filmes, em maior ou menor grau, dialogavam com os demais e com o grande blockbuster que estava por vir, reunindo os heróis em uma mesma trama. E se pelo menos Thor e Homem de Ferro 2 ficaram bem a desejar, Os Vingadores, ainda que não seja memorável, é até divertido.

O plot é bobo e fácil de resumir: heróis com habilidades extraordinárias são convocados pelo governo dos EUA para dar cabo de uma ameaça alienígena que pode escravizar a humanidade. Nada diferente do que se vê nos quadrinhos dedicados a super-equipes. O diretor Joss Whedon, que redigiu o roteiro com base em história de Zack Penn, costura estes e outros clichês dos quadrinhos, a exemplo dos combates entre personagens que serão futuros aliados e o herói dado como morto no final da trama. Mas o que falta de criatividade narrativa sobra em boas sequências de ação, diálogos ágeis e bom-humor.

Por vezes, o filme mais parece uma comédia de aventura, já que todos os protagonistas conseguem espaço para alguma situação engraçada, com inevitável destaque para o Homem de Ferro de Robert Downey Jr., que tem a maior parte dos melhores momentos. Curiosamente, até o Hulk entra na ciranda de risos, tendo a truculência utilizada como pilar de uma condição de alívio cômico - por sinal, bem eficiente. A ação também tem destaque pela clareza da câmera de Whedon, que se revela um talentoso diretor para momentos de ação mais elaborados, embora tenha suas falhas. Entre as passagens mais interessantes, há um planossequência durante o combate final que intercala os integrantes da equipe. Entre os momentos ruins, estão algumas lutas ambientadas no escuro, especialmente aquela envolvendo Víuva Negra e Hawkeye, mais conhecido no Brasil pelo nome de Gavião Arqueiro.

Quando se pensa em filmes de super-heróis, difícil não lembrar do sucesso de X-Men 2, cuja trama envolve uma grande quantidade de mutantes da mesma editora em uma produção da Fox. Embora não tenha uma trama tão interessante, Os Vingadores chega à altura da performance deste longa de 2003, dando um pouco de espaço a cada um dos personagens e exercitando a interação entre os mesmos. A vantagem de Joss Whedon é que ele não tem de dedicar tanto tempo aos protagonistas, que já foram apresentandos no cinema. À excessão do Dr. Banner, alter ego do Hulk, todos são vividos pelos mesmos atores vistos nas telonas anteriormente. Por sinal, Mark Ruffalo compõe o cientista de forma ainda mais interessante em relação às performances de Eric Bana e Edward Norton, fazendo um trabalho de voz e uma economia gestual que sinalizam o perene grau de controle que exerce sobre a contraparte monstruosa.

Nota: 6,0 (de dez)