domingo, 6 de janeiro de 2013

Cine Concerto



Renato Cordeiro


Orquestra Sinfônica da Bahia interpreta John Williams. Este bem que poderia ser um título alternativo para o Cine Concerto, evento que neste sábado, 05 de dezembro, inaugurou as atividades em 2013 da OSBA (em foto extraída do perfil do músico Orley Souza no facebook). A apresentação dedicada a algumas das maiores trilhas do cinema teve o programa quase inteiramente voltado à obra do maestro que é, certamente, o maior parceiro do cineasta Steven Spielberg. Longas como E.T., Tubarão e Os Caçadores da Arca Perdida, entre outros, receberam partituras cuja fama rivaliza com os próprios filmes, fazendo a alegria do público que ontem lotou a Sala Principal do Teatro Castro Alves, em Salvador, com ingressos esgotados para a apresentação seguinte, deste domingo, dia 06.

Se é verdade que uma orquestra é a expressão do diretor-artístico, a OSBA incorporou na apresentação muito do despojamento do maestro Carlos Prazeres. O bom-humor marcou a apresentação desde o começo, com boa parte dos músicos que subiram ao palco trajados com fantasias mais ou menos identificadas com personagens do cinemão dos EUA - havia alguns que não tinham nada a ver com a ocasião, como Chapolin e um discutível Lanterna Verde, rendendo alguns momentos de galhofa em plena apresentação da orquestra. O público gargalhava e aplaudia com o entusiasmo típico de uma cidade que tem simpatia pela irreverência. Mas o elemento "música", nem por isso, ficou de lado.

O programa começou com a clássica vinheta da Fox, seguida por Assim falou Zaratustra, de Richard Straus, tema usado por Stanley Kubrik em 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Prazeres, professoral em seu paletó, gravata e insuspeito par de óculos, falou da influência de compositores clássicos na música feita para o cinema e comentou brevemente o papel da orquestra como recurso expressivo dentro dos filmes. Nesse campo, ele destaca o leitmotiv, a associação que uma música estabelece com eventos e personagens, algo que vem da experiência operística de Richard Wagner - apontado como uma das maiores influências de John Williams. A grande demonstração da aplicação dessa idéia vem logo a seguir, com uma trinca de composições feitas para a saga Star Wars - o tema principal, o de Luke e Lea e, por último, a Imperial March, composição que ajudou a imortalizar o vilão Darth Vader.

Em meio a uma noite de temas de John Williams, havia espaço ainda para dois ilustres "penetras" italianos: Ennio Morricone, lembrado com uma composição de Cinema Paradiso, e Nino Rota, que teve um medley de obras feitas para longas de Felinni, Zeffirelli e Copolla - este último, claro, foi o tema de O Poderoso Chefão. Quebrando o roteiro formado majoritariamente por obras dos anos 70 e 80, a OSBA executou o tema principal de Harry Potter e a Pedra Filosofal, que parece ter acertado em cheio o objetivo de contemplar, também, o público mais jovem. Pelo menos, foi nesta altura que este cinéfilo mais ouviu burburinhos entre a platéia, acompanhados dos mais enfáticos pedidos de silêncio.

Algumas obras executadas pela OSBA chamaram atenção pela proximidade em relação à execução original, a exemplo de E.T., enquanto outros tiveram certos improvisos, como o tema de Star Wars, que parecia ter o andamento um tanto mais rápido que a versão original. Com uma supresa reservada ao final, de tom pastelão na execução mas simpática na idéia, a Orquestra Sinfônica da Bahia fechou uma noite bastante agradável e didática para quem gosta de cinema e música - e, especialmente, das maravilhosas correlações entre essas duas coisas.