domingo, 19 de junho de 2011

Chuva


Chuva (Lluvia, Argentina, 2008). Direção de Paula Hernández. Com Valeria Bertuccelli, Ernesto Alterio.


Renato Cordeiro

Se é verdade que cada cinéfilo guarda na mente um filme a ser rodado um dia, o terceiro longametragem de Paula Hernández fulminou, ao menos em parte, um dos devaneios deste blogueiro. Chuva começa com uma situação típica de uma grande metrópole, um engarrafamento monstruoso que poderia muito bem ocorrer nas ruas do Rio Vermelho, em Salvador, ou na Avenida Paulista, em São Paulo. Mas este se torna ainda mais irritante por causa do mau tempo sobre Buenos Aires, cidade palco do inesperado encontro entre Roberto e Alma. A segunda, presa no próprio carro, vê o primeiro entrar de súbito e sentar no banco do carona, enquanto, pelas ruas congestionadas, pessoas com caras de poucos amigos parecem estar à sua procura. E é assim, de modo abrupto e inesperado, que os personagens começam a se conhecer.

O filme não é muito diferente de tantos outros que seguem a fórmula solitários unidos descobrem um ao outro. Ainda assim, é eficiente em manter o interesse pelo par central, bem interpretado e favorecido pelo trabalho da cineasta argentina, que também assina o roteiro. A história começa no carro de Alma, embalada pela canção Slow, que mais parece um plágio pra lá de descarado de Lost Cause, de Beck. A câmera sobre o painel do veículo destaca a chuva do lado de fora, e tudo isso deixa óbvio que o temporal reflete o estado de espírito da mulher. O mesmo vale para Roberto, cuja vida aparentemente mais estável reserva algumas angústias não-resolvidas. E mesmo depois das cenas no engarrafamento, quando o longa ganha novos cenários, a chuva se faz presente, sempre colaborando para unir os protagonistas.

A história sonega algumas informações sobre os personagens, algo que pode ser negativo para o espectador que fizer certas cobranças à trama. Mas a história, essencialmente, são Roberto e Alma. Chuva resulta em um filme que se por um lado
não rende maior espetáculo, dada a falta de ambição, também não peca na direção de atores e no tom intimista, que sem êxtase, agrada.

Nota: 6,0 (de dez)










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