quarta-feira, 6 de julho de 2011

Moby Dick


Moby Dick
(EUA, 1956) Direção de John Huston. Com Gregory Peck, Richard Basehart, Leo Genn, James Robertson Justice, Harry Andrews, Bernard Miles, Noel Purcell, Edric Connor, Orson Welles.


Renato Cordeiro

Moby Dick pode não ser exatamente um filme brilhante, mas tem coragem. A adaptação da obra de Herman Melville nadou contra a corrente da época e levou aos cinemas uma história sombria, marcada pela trágica incapacidade de um homem em superar o desejo de vingança, mesmo estando ciente de sua autodestruição. E se o plot não encontrou simpatia do público dos cinemas, imagine o susto de quem viu o eterno mocinho Gregory Peck, o Atticus Finch de O Sol É Para Todos, na pele de um tipo raivoso e insano. Como o Capitão Ahab, Peck defendeu um papel que, se não era vilanesco, certamente equipara-se ao monstruoso Doutor Josef Mengele que interpretou em Meninos do Brazil e o maucaráter Lewt McCanles de Duelo ao Sol.

O longametragem é narrado pelo jovem Ishmael, vivido por Richard Basehart, escolha estranha por se tratar de alguém com o dobro da idade do personagem. O "rapaz" está à procura de trabalho e acaba embarcando no baleeiro comandado por Ahab, um sujeito obcecado pela idéia de encontrar a gigantesca criatura que levou-lhe a perna e desfigurou o rosto. A missão, aos poucos, vai despertando dúvidas em Starbuck, braço direito do capitão, que planeja organizar um motim. A trama se desenrola em meio aos ataques contra baleias que servirão de fonte de alimentação e óleo. As cenas são embaladas por uma trilha sonora que denuncia, pelo tom aventureiro, uma posição favorável à caça, o que deve revirar o estômago de qualquer ambientalista. A música, a propósito, é por vezes inadequada e exagerada, diluindo, por exemplo, o momento em que Ahab faz uma bizarra proposta aos comandados, ainda na primeira metade do longa.

A direção de John Huston parece pintar belos quadros em vários momentos de Moby Dick. A impressão não é pra menos, já que parte das filmagens ocorreu em estúdio, tendo pinturas ao fundo, fazendo as vezes do céu. A fotografia ajuda muito a deixar o recurso funcional, o que não pode ser dito de algumas sequências em "alto mar", nas quais o chroma key, ainda menino, se faz bem evidente. Nada que desmereça o filme, que é brindado ainda pelo monólogo de Orson Welles como o Padre Mapple. O mesmo personagem seria vivido por Gregory Peck, na participação especial que foi o último papel da carreira, em um telefilme de 1998.

Nota: 6,0 (de dez)










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