segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Orfanato


O Orfanato
(El Orfanato, México/Espanha, 2007). Direção de Juan Antonio Bayona. Com Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep, Mabel Rivera, Montserrat Carulla, Andrés Gertrúdix, Edgar Vivar, Geraldine Chaplin.


Renato Cordeiro

O drama cai bem ao horror. Em filmes que valorizam essa associação, o deleite do espectador não está nos sustos, nas vísceras e litros de sangue espalhados pelo chão, nem em uma alta contagem de corpos acumulados ao longo da narrativa. Em vez disso, temos personagens verossímeis, que tem amor, compaixão, medo, culpa, sentimentos capazes de gerar identificação com o público, fazê-lo se importar com o destino do protagonista.
O Orfanato é um dos mais felizes exemplos neste sentido. O filme assusta, e muito, é verdade. Mas no final pode arrancar algumas lágrimas do espectador, a exemplo do que aconteceu a este cinéfilo.

O acerto começa pelo elenco, incluindo a escolha de Belén Rueda, vista anteriormente em Mar Adentro, com Javier Bardem. A beleza madura da atriz espanhola confere doçura e pulso à personagem Laura, mãe adotiva do pequeno Simón, vivido pelo ator-mirim
Roger Príncep, um achado escolhido entre 400 candidatos ao papel. Junto a Fernando Cayo, que faz o marido de Laura, eles interpretam uma família que acaba de se mudar para um antigo orfanato onde viveu a protagonista. O Orfanato logo engrena para um típico filme de casa malassombrada, a exemplo de Os Outros, lembrando ainda, inevitavelmente, O Sexto Sentido e Ecos do Além. Simón começa a falar com o que Laura imagina ser um amigo imaginário, mas eventos estranhos vão se sucedendo, indicando que os fantasmas do passado, literalmente, estão à porta.

À exceção da câmera desnecessariamente nervosa
em certo momento da obra, quando Rueda corre na praia, Bayona se sai muito bem. Apostando na força do elenco para causar tensão, ele segue a linha do que se vê em longas como O Bebê de Rosemary, ou melhor, a linha do que não se vê. No momento mais assustador do longa de Polanski, a tela não mostra o motivo do horror da personagem de Mia Farrow, mas sim o efeito, o rosto da atriz, deixando por conta da imaginação do espectador o horror que ela presencia. Do mesmo modo, em uma das melhores cenas de O Orfanato, uma médium investiga os estranhos acontecimentos na casa de Laura e, mesmo com ótimos elementos cênicos que ajudam a intimidar o público, o que mais apavora é a face desfocada da atriz Geraldine Chaplin. Aliás, Geraldine, filha de Charles Chaplin, já entra em cena com toda a reverência, sendo melhor aproveitada nos poucos minutos de participação do que foi Zelda Rubinstein como a vidente dos três filmes de Poltergeist. E olha que a Tangina Barrons era ótima. Destaque ainda para a participação de Edgar Vivar, que ficou famoso no Brasil pelo personagem Seu Barriga no programa televisivo Chaves.

Também vale mencionar a excelente trilha sonora de Fernando Velázquez, bensucedida tanto nas cenas de maior tensão, quanto naquelas que prometem arrancar lágrimas do público. Segundo o IMDB, O Orfanato, produzido por Guillermo Del Toro, o mesmo de O Labirinto do Fauno, foi aplaudido de pé por dez minutos quando da exibição em Cannes. Quem quiser descobrir o motivo, que assista.

Nota: 8,0 (de dez)









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