quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

GPW - O fim de uma era

Ema


A GPW vai fechar.


Uma das mais importantes videolocadoras de Salvador, a GPW não é nem de longe a mais antiga. Nem é cheia de filiais. Nem tem café ou livraria nela. Aliás, muita gente não a conhece.

A GPW tinha a fama de ter filmes que "nenhuma outra tinha". Parte exagero, parte lenda, parte verdade, muitos clientes chegavam à GPW procurando por tal filme que, segundo foram informados, "se existisse em Salvador, tinha lá".

Por um bom período, a GPW foi, realmente, a salvação dos cinéfilos de Salvador. Tinha filmes antigos, cults, estrangeiros, documentários, que não eram encontrados em nenhum outro lugar.

Mas, em pouco tempo, mudou o foco e começou a investir pesado em filmes novos, que davam dinheiro. Os filmes antigos, cults, estrangeiros, foram perdendo força. Não desaparecendo, mas perdendo força. Quando eu trabalhei lá, era interessante notar que, nas prateleiras de lançamento, havia uma parte dedicada aos cult.

Já faz um tempo que existem locadoras em Salvador que possuem MUITOS filmes a mais que a GPW, mas a lenda se manteve. Era quase impossível encontrar, por exemplo, filmes B na GPW, seja terror, seja kung-fu. No máximo, filmes B de comédia, e olhe lá. Em compensação, até o Box de Tarkovski (por minha insistência) eles tinham.

Eu trabalhei na GPW como indicador por 8 meses, no ano de 2006. Apesar do salário baixo e do horário de trabalho que além de puxado, era pela noite (das 17h às 01h!), eu me divertia MUITO. Como minha função era ajudar clientes, fiz logo vários "amigos" por lá, que vinham realmente procurar saber da minha opinião sobre os filmes, discutir divergência de gostos, comentar novos lançamentos ou doces descobertas. Cada indicador tinha seu estilo, e se você era mesmo um cliente da loja, já sabia que indicador procurar. Havia os clientes que procuravam mais de um indicador, pra fazer um balanço entre as opiniões. Havia os que só falavam com o indicador específico.

Eu tinha meus clientes cativos, e era interessante ver que, em geral, apesar de ser na época estudante de cinema, eles sabiam mais sobre filmes do que eu. Continuam sabendo.

Eu chegava a fazer indicação de filmes por telefone, inclusive filmes pornô (!). Sim, porque uma das sessões mais lucrativas (e não muito grande) era a pornô, numa sala em separado, com um cheiro um pouco estranho, onde os clientes em geral nem olhavam pra você, mas ao mesmo tempo onde era possível se discutir política com pequenos comentários sobre este ou aquele atributo deste atriz ou daquele ator.

Mas era um negócio mal gerido. O dono resolveu investir prematuramente em Blue-Rays, que são caros, e que acabaram dando pouco lucro. Além disso, a locação de filmes têm diminuido em todos os lados, devido à pirataria - não estou aqui fazendo nenhum julgamento, apenas fazendo um comentário.

E deu no que deu. É o fim de uma era. Mas não se preocupe (tanto), já que há outras locadoras pela cidade que possuem todos os filmes (e mais) que a GPW possuia. Ok, todos não, mas quase.





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