domingo, 27 de março de 2011

A Noite dos Mortos-Vivos


A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, EUA, 1968). Direção de George A. Romero. Com Duane Jones, Judith O'Dea, Karl Hardman, Marilyn Eastman, Keith Wayne, Judith Ridley, Kyra Schon.


Renato Cordeiro

Tem filme que envelhece mal. A primeira trilogia dos mortos, produzida por George A. Romero entre os anos 60 e 80, até despertava um certo grau de interesse, pelo ineditismo e as metáforas sociais, mas está longe de ser uma obra de grande qualidade. E se é verdade que o cineasta montou as bases dos filmes de mortos-vivos, também é preciso admitir que mesmo o seminal A Noite dos Mortos-Vivos perdeu uma parte do brilho. Me arrisco a dizer que o remake comandado por Tom Savini, em 1990, foi até necessário.

O filme tem méritos e motivos para ser considerado um clássico dos filmes de zumbi. Foi o primeiro a envolver os elementos típicos de uma produção do gênero. Na trama, mortos andam sobre a terra inexplicavelmente, obrigando um grupo de sobreviventes, desconhecidos uns dos outros, a lutar pela vida dentro de uma casa abandonada. Além de estarem cercados por uma terrível ameaça externa, terão conflitos entre eles mesmos.

Não é um esquema primoroso em criatividade: o faroeste No Tempo das Diligências, de John Ford, já mostrava uma situação parecida, 30 anos antes.
Em vez dos zumbis que devoram carne humana, John Wayne tinha de se virar contra índios, que como de costume, eram retratados como vilões carniceiros. Demoraria muito para aparecerem os chamados westerns revisionistas, que mostrariam que os peles-vermelhas não eram necessariamente uma corja sanguinária, assim como os exploradores brancos não eram todos um modelo de bravura e nobreza de espírito. É esta ousadia que marca o lugar de Noite dos Mortos-Vivos. O líder do grupo é um negro, e a história toda faz uma alusão ao macarthismo nos EUA: "aquelas pessoas que caminham em sua direção e se parecem com as pessoas que você amava estão tentando te matar".

Lamentavelmente, além da ousadia da trama, o filme não tem muito mais a oferecer do ponto de vista fílmico. Cortes bruscos, elipses irregulares, uma direção de atores que deixa passar algumas performances bem exageradas... Ao retomar os defuntos a partir de 2005, com o medíocre Terra dos Mortos, os aspectos técnicos estavam melhor resolvidos, mas as obras já não tinham muito o que dizer.
Assisti recentemente o último exemplar da franquia, Ilha dos Mortos, de 2009, e é pavoroso, no mau sentido do termo. Romero é cineasta limitado e não está mais à altura da própria criação, que já teve melhor tratamento de diretores como Zack Snyder, com seu Madrugada dos Mortos, e Danny Boyle, com Extermínio.

Nota: 6,0 (de dez)







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