Dívida de Sangue (Blood Work, EUA, 2002) Direção de Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Jeff Daniels, Anjelica Huston, Wanda De Jesus, Tina Lifford.
Renato Cordeiro
Dívida de Sangue é um desperdício do talento de Clint Eastwood. Difícil acreditar que o homem que dirigiu Menina de Ouro pôde comandar, apenas dois anos antes, um trabalho tão sem personalidade, previsível e datado. O longamentragem já começa mal, com uma abertura que remete a alguns filmes policiais de expressão nula lançados nos anos 70. A câmera sobrevoa a Califórnia à noite, saxofone tocando ao fundo, até que acompanhamos o protagonista descer do carro para chegar à uma cena de crime, onde foram deixadas mensagens do assassino para o nosso herói. Se fosse uma paródia, seria bacana, mas não é o caso.
Em um aspecto, o filme lembra o bom suspense Na Linha de Fogo, de 1993, o mais antigo trabalho em que Eastwood atuou sem acumular a função de diretor. Ele assumia a idade como Frank Harrigan, um investigador que não se encontrava mais em condições de correr na escolta do presidente dos Estados Unidos. Em Dívida de Sangue, o ator faz um protagonista ainda mais vulnerável, desta vez o ex-agente do FBI Terry McCaleb. O sujeito se propõe a elucidar o assassinato de uma jovem, dois meses depois de ser submetido a um bem sucedido transplante de coração. A irmã da vítima usa um argumento contundente para convencer McCaleb a encarar a missão: o órgão que ele agora usa veio da garota morta. Daí o título brasileiro para o filme.
Embora o herói seja convincente e conte com a privilegiada carranca de Clint Eastwood, o filme não funciona, a começar pelos outros personagens. Falando nisso, ver Anjelica Huston em cena é uma satisfação eclipsada pelo papel que, apesar de importante para a trama, não tem o que acrescentar à carreira da intérprete. Ela faz uma cardiologista que acompanha o estado de saúde de Clint, deixando claro os riscos que corre por se lançar em uma investigação sendo um recém-transplantado. Outra falha está no já desgastado conflito entre o mocinho e os agentes da lei, configurada na relação entre McCaleb e dois detetives responsáveis pelo caso.
O roteiro é de Brian Helgeland, figura realmente imprevisível. Ao mesmo tempo em que já havia cuidado de textos que originaram Sobre Meninos e Lobos e Los Angeles - Cidade Proibida, participou de trabalhos menos inspirados, como Coração de Cavaleiro e Devorador de Pecados. Na adaptação de uma história de Michael Connelly, temos mais uma bola fora. O mistério é fácil de ser elucidado pelo espectador e, quando finalmente é revelado, abre caminho para um desenlace morno e cheio de diálogos estúpidos e frases de efeito idem. Constrangedor. Se não fosse a presença e o carisma de Clint Eastwood, Dívida de Sangue seria uma bomba.
Nota: 5,0 (de dez)
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