segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Reds


Reds
(EUA, 1981) Direção de Warren Beatty. Com Warren Beatty, Diane Keaton, Edward Herrmann, Jerzy Kosinski, Jack Nicholson, Paul Sorvino, Maureen Stapleton, Nicolas Coster, M. Emmet Walsh, Ian Wolfe, Bessie Love, MacIntyre Dixon, Pat Starr.


Renato Cordeiro

"Para criar reputação como jornalista, precisa estar no lugar certo e na hora certa. E o lugar certo, agora, é a Rússia". A fala marca o momento em que Jack Reed tenta convencer a colega e ex-amante Louise Bryant a embarcar para o olho do furacão vermelho que marcou a Revolução Russa em 1917, registrada mais tarde no clássico escrito por ele, Dez Dias Que Abalaram o Mundo. O
livrorreportagem se tornou uma referência do gênero, mas Reds vai além do filme político em tom documental e cativa, também, pela história de amor por trás da obra.

São mais de três horas de um filme épico que poderia ser dividido em duas partes, com a primeira tendo início a partir do momento em que os protagonistas se conhecem. A aproximação inicial é motivada - ou tem como desculpa - um interesse profissional. Louise quer entrevistar Reed, acaba pedindo uma crítica para o livro que ela está escrevendo e a paixão vai tomando conta dos dois. Já na segunda metade do filme, vemos os desdobramentos da viagem a Petrogrado
, hoje São Petesburgo. A cena de desembarque é ótima, bem filmada, boa recriação da época a partir de uma locação na Finlândia, utilizada por causa de problemas que a produção enfrentou com o governo soviético, que barrou o solo russo.

O uso de depoimentos ao longo do filme é um dos vários pontos fortes de Reds, e foi favorecido por uma sábia decisão de Warren Beatty. O filme foi lançado em 1981, mas as gravações com diferentes personalidades ocorreu já a partir dos anos 70. De outra forma, personalidades como o escritor Henry Miller, que morreu em 1980, dificilmente teriam dado sua contribuição a obra. Vale notar como o
tom documental das falas dos idosos nem sempre está associada apenas às lembranças. Aquilo que dizem, e como dizem, resgata também alguns preconceitos e estados de espírito próprios da época. 

As implicações políticas de um filme desse tipo são evidentes. Em plena Guerra Fria, Warren Beatty dirigiu, produziu e coescreveu um longametragem sobre o único ocidental a receber a honraria de ser enterrado nas muralhas do Kremlin. Era um estadunidense apaixonado por um país que, nos anos 80, era divulgado como a terra dos vilões dos filmes de ação e espionagem. Por outro lado, o roteiro sugere que Reed teve momentos de vaidade pelo status adquirido junto aos bolcheviques e, mais tarde, decepção em ver o rumo que a revolução tomou. Mesmo assim, Reds teve o reconhecimento da crítica e da Academia, que rendeu-lhe 3 Oscars, além de outras nove indicações, incluindo as quatro categorias de atuação, voltadas aos atores e atrizes principais e coadjuvantes.

Falando no elenco, Warren Beatty, perfeito, faz do célebre jornalista um sujeito disperso, desajeitado, tímido e apaixonado pelo que faz. Inicialmente de poucas palavras, passa a falar pelos cotovelos sempre que lhe pedem análises politicas. Diane Keaton tem um papel desafiador, pois faz uma mulher que adotou um feminismo agressivo como forma de demarcar a independência, mas não estava preparada para um relacionamento com um homem que a vê como um igual. A química entre os atores é ótima, uma interação que cria o terreno propício para que simples frases ditas ganhem uma outra dimensão. Depois de uma briga com a mulher, Jack volta arrependido, vê o perdão no sorriso de Louise e olha pra trás, num misto de vergonha e alegria. Uma comovente cena entre eles em uma estação de trem, mais tarde, dá dez a zero em muitos pretensos filmes românticos.

Nota: 8,0 (de dez)









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