sábado, 9 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


Tropa de Elite 2 (Brasil, 2010). Direção de José Padilha. Com Wagner Moura, André Ramiro, Maria Ribeiro, Irandhir Santos, Milhem Cortaz, Pedro Van Held, Tainá Müller, Sandro Rocha, André Mattos, Seu Jorge.


Renato Cordeiro

Tropa de Elite 2 conseguiu o raro feito de estar à altura das imensas expectativas depositadas em uma continuação. Não apenas o personagem de Wagner Moura está mais maduro. O filme em si é mais complexo, mergulha muito mais profundamente nas causas do problema da segurança pública, aquilo que o obstinado policial chama de O Sistema.

Agora, Roberto Nascimento é Coronel do BOPE, cargo que não dura 20 minutos do filme, já que uma operação fracassada o leva a ser afastado do batalhão. Mas o sujeito, dono de uma astúcia maquiavélica, consegue sutilmente promover a própria imagem a ponto de ascender ao posto de subsecretário de segurança pública. No começo, a mudança parece ter sido pra melhor, já que o batalhão se torna uma máquina de guerra. Mas aos poucos, a situação reitera um dos argumentos principais do primeiro filme, o de que a guerra contra o crime estaria ganha, não fossem as pessoas e interesses que movimentam o jogo.

O desempenho de Wagner Moura é fantástico. A maquiagem faz apenas uma parte do processo de envelhecimento do personagem, que é composto meticulosamente, como de hábito na carreira do intérprete. Ele caminha quase como se tivesse levado um tiro em uma das pernas, em tempos idos. A respiração é mais ofegante e ruidosa. As pálpebras estremecem quando não consegue explicitar as emoções, especialmente quando diante do filho adolescente. No desenrolar da trama, o anti-herói que escandalizou o país em 2007 se torna uma figura mais confortável para o espectador.

Tropa de Elite 2 dificilmente terá diálogos fascistas ganhando as ruas, como ocorreu na obra anterior. O filme é mais conciliador, quase propositivo, e chega a forçar a barra eventualmente, em situações um tanto inverossímeis. Não que a obra deixe de lado a expectativa de uma catarse violenta, quando o público usará os punhos e as armas de Nascimento para fazer com os políticos corruptos o que lhe é negado na vida real. Ou melhor, o que o público não faz por que não quer, já que o voto deveria ser uma arma para acabar com o problema, em vez de preservá-lo.

O trabalho de Jodé Padilha começa com legendas que afirmam se tratar apenas uma obra de ficção, como se não estivesse apontando o dedo para quem é de direito. Mas aponta, sim. Estão lá os currais eleitorais em forma de favelas onde apenas determinados candidatos conseguem transitar, as milícias que dominam regiões inteiras com mão-de-ferro, e o papel irresponsável da mídia, que explora a tragédia diária da população com interesses ora comerciais, ora políticos, sempre condenáveis. Até a lei da ficha limpa é citada. E houve quem pensasse que faltaria assunto para um segundo Tropa de Elite.

Nota: 9,0 (de dez)




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