quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Meu País


Meu País (Brasil, 2010). Direção de André Ristum. Com Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella, Anita Capriol, Paulo José, Eduardo Semerjian, Nicola Siri, Luciano Chirolli, Stephanie de Jongh.

Renato Cordeiro

As rugas vêm fazendo bem a Rodrigo Santoro. Ele, que já era um bom ator, tem em Meu País absoluto controle sobre o papel de Marcos. Rosto cansado, tenso, gestos duros, a boca levemente em arco sinalizando uma seriedade perene que é, ao mesmo tempo, a zona de conforto deste homem de negócios que vive na Itália, tocando as atividades da família da esposa. Ele retorna à terra natal quando recebe uma ligação informando que o pai, que mora no Brasil, sofreu um derrame.

O primeiro longa de ficção de André Ristum apresenta tom marcadamente memorialístico, ainda que tenha poucos flashbacks ao longo da projeção, aparecendo em imagens granuladas, quase como fotografias desgastadas pelo tempo. O passado, na verdade, se encontra em tudo o que rodeia os personagens. Desde o momento em que Marcos chega em casa, as lembranças da infância, inevitavelmente, vão se apoderando do sujeito, através de cômodos, documentos, brinquedos e a presença dos familiares, que geram situações conflituosas. De um lado, está o irmão mais novo, Tiago, um rapaz inconsequente, imaturo, que mantém em segredo dívidas de jogos de azar. Do outro, uma irmã recém-descoberta, Manuela, que tem distúrbios mentais e era mantida escondida em uma instituição. É ela quem consolida no protagonista a jornada de reencontro prometida no cartaz do filme.

O longa aposta no minimalismo da composição dos personagens, especialmente no caso do protagonista, o que aumenta a responsabilidade de Santoro. É fácil compreender a tensão entre ele, o responsável, e Tiago, o hedonista inconsequente vivido apenas de forma corrreta por Raymond. Mas a trama deixa implícitas as motivações de Marcos em sair do país e relutar em voltar, além de manter tamanho distanciamento do pai a ponto de chamá-lo pelo nome, Armando. O papel coube ao sempre cativante Paulo José, responsável por mostrar que, em boa medida, Meu País é um filme sobre culpa e redenção inscritos em círculo familiar.

Vale destacar ainda a performance da belíssima Anita Capriol como a mulher de Marcos, papel mais difícil do que aparenta. No começo, ela incentiva o retorno do marido ao Brasil, dando o suporte emocional que se espera de uma esposa, mas logo perceberá que, obviamente, o altruísmo exige um preço, que ao que parece, seu companheiro conhece bem. Por sua vez, Débora Falabella, que já teve outras experiências com papéis de pessoas transtornadas, entrega aqui desempenho superior como a meia-irmã de Marcos, causando impacto mesmo em uma cena silenciosa registrada em uma câmera de segurança da instituição onde se encontra. Como curiosidade, há um momento entre ela e Rodrigo Santoro que remete diretamente à Cazuza - O Tempo Não Pára. Seria o cinema brasileiro se permitindo a autorreferência?

Sem entrar em spoilers, pode haver um certo descontentamento ao final da projeção para quem não gosta de finais abertos. Mas este não é um longametragem "sem fim". A narrativa tradiconal, independente de ser desenvolvida em um livro, telenovela ou longametragem, é trabalhada de modo a resolver todas as tramas que nela existem, sejam as principais, sejam as secundárias. Mas existem longas que propõem uma ruptura com este princípio, e trabalhos coreanos como o excelente Memórias de Um Crime são um bom exemplo neste sentido. No caso do longametragem Meu País, o foco, de fato, é o personagem vivido por Rodrigo Santoro. Ainda que haja um plot, o protagonista não necessariamente será guiado por isso, mas por seus próprios conflitos, bem conduzidos pela câmera sensível de Ristum.

Nota: 7,0 (de dez)










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