segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Virtude Selvagem


Virtude Selvagem (The Yearling, EUA, 1946) Direção de Clarence Brown. Com Gregory Peck, Jane Wyman, Claude Jarman Jr., Chill Wills, Clem Bevans, Margaret Wycherly, Henry Travers, Forrest Tucker, Donn Gift.


Renato Cordeiro

Apesar de envelhecido,
Virtude Selvagem mantém a força de um sensível drama sobre como pode ser penosa a estrada para a maturidade, ainda mais quando se cresce no lar de pobres agricultores na Flórida pós-Guerra Civil. Em meio a uma vida marcada por sucessivas tragédias e algumas poucas esperanças, pais e filho desenvolvem uma crescente dificuldade em exercer os respectivos papéis por causa do conflito entre a inocência da criança e a dura realidade do mundo dos adultos.

Jody é o filho único dos Baxter, rodeado por uma natureza exuberante cuja fauna ameniza a solidão. O único amigo da mesma idade mora longe e não pode visitá-lo por conta de uma deficiência. Quando o pai, Penny Baxter, se vê obrigado a sacrificar um veado, Jody recebe a chance de adotar um animal, justamente o filhote do cervo. Mas aos poucos o bicho indisciplinado começa a criar problemas e abala até a relação familiar.

A direção correta torna o filme bastante dependente de outros elementos que, felizmente, funcionam bem, a exemplo do roteiro, a fotografia que parece feita de pinturas e o elenco principal. A trama chama a atenção pela inversão de papéis entre marido e mulher, sendo o primeiro o otimista conciliador e a segunda a figura de autoridade que impõe limites sobre o garoto. Pena que o filme tem como ponto fraco justamente aquele que deveria ser o maior trunfo, já que o ator-mirim Claude Jarman Jr, por vezes, carrega excessivamente no deslumbramento do personagem. Por outro lado, Gregory Peck é só carisma ao fazer o típico papel de bom pai que reprisaria anos mais tarde em longas como A Luz É Para Todos e O Sol É Para Todos. Mas o destaque é mesmo Jane Wayman, que na pele de Orry, constrói uma mulher ranzinza, dona de um coração endurecido pelas sucessivas mortes de filhos que sequer atingiram a adolescência.

O longametragem também tem sucesso ao evitar conferir aos pais uma vilania que seria fácil de ser alcançada. Em vez disso, a obra deixa transparente a mentalidade da época, quando
as famílias tinham nos filhos, desde cedo, mais do que laços de sangue, mas também colaboradores pela sobrevivência coletiva. Ainda que percebam as necessidades de Jody, as preocupações e atitudes dos Baxter são sempre justificadas pelo roteiro, o que faz de Virtude Selvagem uma fábula da ética do trabalho.

Nota: 6,0 (de dez)










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