quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Despertar de Rita


O Despertar de Rita (Educating Rita, Reino Unido, 1983). Direção de Lewis Gilbert. Com Michael Caine, Julie Walters, Michael Williams, Maureen Lipman, Jeananne Crowley, Malcolm Douglas.


Renato Cordeiro

Quase sempre, os filmes sobre a relação entre professor e estudante fazem parecer que o problema está no aluno, aquele ser desprovido de luz que precisa do mestre para poder se desenvolver. É verdade que existem aqueles outros longas, como O Homem Sem Face e Encontrando Forrester, que apresentam profissionais já aposentados ou exilados que recuperam o gosto pelo ensino quando alimentados pelo genuíno desejo dos pupilos de aprender. O Despertar de Rita estabelece uma clara diferença entre os exemplos citados ao mostrar como protagonista não um ex-professor recluso, mas alguém saturado com o meio universitário, ainda dentro da academia.

O filme não se dedica muito aos bastidores dos departamentos ou à vida dos professores, mas sugere, pelas falas e expressões do amargurado personagem de Michael Cane, que a vida dos intelectuais pode ser marcada por uma petulância e vaidade capazes de apagar a chama de qualquer educador. Frank Bryant
é um sujeito desarrumado e alcóolatra que não se importa sequer com a própria reputação, acreditando que o fato de ter se tornado um profissional medíocre é até adequado, considerando-se a mediocridade dos estudantes. O elemento deflagrador do revés é a chegada de uma estudante especial, a desbocada cabeleireira Rita, que vê no estudo da literatura uma forma de recuperar as rédeas da própria vida. Bryant percebe rapidamente que a jovem tem um interesse verdadeiro pela arte, mas receia estar lançando mais uma pessoa ao buraco negro que o consumiu.

A câmera de Lewis Gilbert, que assinou três filmes de 007 entre os anos de 1967 e 1979, não tenta inovar ou chamar atenção. Isso acaba colaborando para que as cenas nas quais os protagonistas contracenam denunciem a natureza teatral do filme, baseado em peça de William Russell, também responsável pelo roteiro. Poucos cortes, movimentos de câmera econômicos e trilha sonora inexistente dão a tônica mesmo quando Caine e Julie Walters conversam em campo aberto. Os dois, aliás, estão perfeitos, especialmente Walters, que chama atenção pelo trabalho de voz, que aliada ao figurino e penteado, faz com que, aos 33 anos, o papel de uma jovem de 27 soe como se tivesse mais de 40. Um envelhecimento precoce que parece acompanhar a infelicidade da personagem.


Nota: 7,0 (de dez)










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