terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Palhaço


O Palhaço (Brasil, 2011). Direção de Selton Mello. Com Selton Mello, Paulo José, Giselle Indrid, Larissa Manoela, Teuda Bara, Erom Cordeiro, Cadu Fávero, Maíra Chasseraux, Thogun, Hossen Minussi, Alamo Facó, Tony Tonelada, Bruna Chiaradia, Renato Macedo, Moacyr Franco, Jackson Antunes, Danton Mello.


Renato Cordeiro

Filmes como O Palhaço levam o espectador a sentir gratidão pelos Irmãos Lumière, fazem a invenção do cinema valer a pena. A obra é mais que uma homenagem ao universo do circo em forma de road movie, tratando ainda de assuntos como tradição, família e autoconhecimento. É um trabalho que põe de lado preocupações sobre a prevalência da fábula sobre o específico fílmico, já que a história, ainda que simples, é tão envolvente quanto à própria maneira como é contada pela câmera. É pra sair da sessão emocionado, mesmo.

Benjamim, vivido por Mello, e o pai, Valdemar, interpretado por Paulo José, fazem a dupla Pangaré e Puro Sangue, atrações de uma trupe mambembe que atravessa cidadezinhas rurais. O filho se encontra cansado e insatisfeito em administrar o negócio, tarefa delegada pelo pai, e está ansioso para mudar a vida, sem saber como.
Em um dos momentos mais tocantes, ele desabafa com uma desconhecida a quem pergunta: eu faço as pessoas rirem, mas quem vai me fazer rir? Assim mesmo, simples, direta, dilacerante, a expressão do desespero.

Enquanto Benjamim procura a si mesmo, Valdemar busca uma forma de lidar com a insatisfação do herdeiro, e a jornada de ambos é marcada por interessantes personagens terciários. O palhaço de Paulo José cativa pela dificuldade em se comunicar com o filho, a quem ama, mas não consegue dirigir palavras de conforto ou sabedoria, encontrando-as no melancólico personagem de Jackson Antunes. Já a estrada de Benjamim leva seu próprio intérprete, Selton, a contracenar com Danton Mello, irmão do cineasta. Entre outras pequenas participações, destaque para o cantor e apresentador Moacyr Franco, que, impagável como o Delegado Justo, foi a surpresa do Festival de Paulínia, faturando o prêmio de ator coadjuvante.

A direção de Selton Mello convida à introspecção e encantamento. Ele mostra o elenco, incluindo ele próprio, de corpo inteiro, em exposição máxima. Mas, sobretudo, Mello filma silêncios. São várias as passagens em que deixa os atores expressarem os sentimentos sem uso de palavras, permitindo que a boa trilha sonora tenha ainda mais impacto. Duas cenas de despedida, uma protagonizada por Paulo José, outra pelo próprio diretor, de lenço na mão, são particularmente expressivas neste sentido. Na verdade, a verborragia, por assim dizer, só acontece nas cenas em que os protagonistas palhaços estão em cena, com um humor mais verbal do que pastelão.

A busca de Pangaré por Benjamim é carregada de simbologias, algumas mais explícitas, outras menos, mas todas funcionam bem dentro da história, coescrita por Mello e Marcelo Vindicato. Exemplos incluem a falta de uma carteira de identidade e o estranho fascínio que o personagem nutre por ventiladores. O modo como o objeto é apresentado quando o longa se aproxima do fim, incluindo uma bela cena em um caminhão, é carregado de ternura e realça o ponto de virada do protagonista. A própria cena inicial exprime bem o que O Palhaço faz com o próprio público. Arranca-nos da monotonia e dureza do cotidiano, gera intriga e encanto, para depois nos devolver ao estado em que estávamos, como se a arte pudesse nos fazer durar mais um pouco.

Nota: 8,0 (de dez)










Um comentário:

  1. Boa tarde, tenho interesse em uma projeção do filme O palhaço aqui na associação de moradores do meu bairro. Gostaria de saber como faço para falar com o responsável pelos direitos autorais do filme. Meu e-mail é regisred@msn.com muito obrigado
    Regis

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