segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra


Cavalo de Guerra (War Horse, EUA, 2011). Direção de Steven Spielberg. Com Jeremy Irvine, Tom Hiddleston, David Thewlis, Emily Watson, Peter Mullan, Benedict Cumberbatch, Toby Kebbell, David Kross, Eddie Marsan, Geoff Bell, Niels Arestrup.


Renato Cordeiro

Há dois filmes dentro de Cavalo de Guerra que oferecem atrito um ao outro. Um é o drama que mostra não apenas as batalhas ambientadas na Primeira Guerra Mundial, mas também as vidas de pessoas comuns que foram marcadas pelo conflito. O outro parece uma dessas aventuras infantis protagonizadas por animais "humanizados", a exemplo de cães ou macacos que fazem cestinhas no basquete ou são agentes secretos.

Steven Spielberg é um cineasta que tem o dom para encantar, para extrair a criança que pode existir em cada espectador, sendo E.T. - O Extraterrestre o maior exemplo neste sentido. Assim, a idéia de ver um filme sobre um soldado de quatro patas não é necessariamente ruim, e a produção é até feliz em utilizar o cavalo Joey como o elemento de ligação das histórias amarradas pelo longametragem. Dá vontade de saber mais sobre a dura vida de um idoso e sua neta em uma França ocupada ou sobre os protagonistas do melhor momento de Cavalo de Guerra, quando dois soldados, um alemão e outro inglês, se unem para salvar o bicho. Mas em vez de explorar um pouco mais essas histórias, o filme insere planos com o animal fazendo algum ato ou pose nobre, arrastando o espectador de volta à um poço de pieguice.

Um herói sem profundidade, sem personalidade, é algo tedioso, seja homem ou animal. Em Cavalo de Guerra o problema já começa nos primeiros minutos do filme, que se passam na fazenda da família Narracott, onde também existe um ganso que se revela um alívio cômico tão chato quanto o Jar Jar Binks, de Star Wars. Vemos então uma obra promissora ser gradativamente sabotada por animais que são nada mais que caricaturas, "o cavalo herói", o "ganso engraçado", roubando espaço de personagens que poderiam ser melhor aproveitados. O problema não é apenas do roteiro, mas também dos planos excessivos que Spielberg dedica a esses animais, inclusive no final do longa.

Verdade seja dita, Spielberg tem bons momentos, como uma execução promovida por soldados alemães, a corrida do cavalo em uma trincheira e o planossequência que começa em uma trincheira e abre em um plano aberto, em uma das batalhas. É uma pena então que o cineasta de primeiro time insista em usar seu talento em obras menores, seja como o diretor de lixos como o quarto filme da série Indiana Jones, seja como produtor de bombas como Transformers 2. No começo dos anos 90, este cinéfilo, ainda garoto, corria pra TV sempre que começava a atração anunciada como "um filme de Steven Spielberg". Costumava ser uma marca de qualidade.

Nota: 5,0 (de dez)










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