sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Serkis ao Oscar


Renato Cordeiro

Boa parte das críticas a respeito do remake O Planeta dos Macacos - A Origem, de 2011, destacou a qualidade da expressão corporal de Andy Serkis, que deu vida ao símio César através de recursos de captura de movimento. Até concordo que há um trabalho de atuação e, importante dizer, muito bom. Mas daí a dar a ele um Oscar de Melhor Ator, como tem defendido a campanha da Fox, é um tanto demais.

Não se trata de desqualificar o trabalho do sujeito, mas de discutir a natureza do mérito, que não é a mesma de uma atuação tradicional. Qual o limite entre o desempenho do ator e o que vemos em cena, após toda a imersão de recursos eletrônicos? Afinal de contas, de alguma forma, estes efeitos também contribuem para a caracterização do personagem. Inclusive, convidaria qualquer leitor a reassistir o já clássico A Bela e A Fera, animação de 1991 que é um assombro em termos de, digamos, expressão corporal. Reparem a cena em que o pai da Bela é raptado, a maneira intensa como a protagonista entra em prantos, lembrando algumas interpretações poderosas de Bette Davis em filmes antigos como Vitória Amarga. Se um animador é capaz de fazer isso sozinho, imagine contando com a gestualística de um Andy Serkis?

É claro, alguém pode dizer que, se Nicole Kidman pode levar um Oscar em As Horas pelo nariz postiço que usou para viver Virginia Woolf, Serkis não deveria ser tirado do páreo. Este raciocínio tem que ser levado como uma brincadeira. Você pode até entrar na teoria de que Kidman recebeu uma compensação por não ter faturado a estatueta anteriormente por Moulin Rouge, mas dizer que maquiagem rende Oscar leva a inevitáveis absurdos, como afirmar que Marlon Brando trapaceou ao implantar algodão dentro da boca para viver um bochechudo Don Corleone, papel que o premiou por O Poderoso Chefão. Ou querer tomar de volta o Oscar póstumo de Heath Ledger pela insana interpretação como o Coringa em Batman - O Cavaleiro das Trevas. Maquiagem ajuda na caracterização, modifica a fisionomia, e só.

Acredito que o que acontece é que, de tempos em tempos, um profissional que não pertence a uma categoria que pode ser premiada com o Oscar simplesmente dá uma contribuição espetacular às obras das quais participa. Desde garoto, por exemplo, eu acho que deveria haver algum reconhecimento para adestradores de animais, especialmente aqueles que cuidaram dos animais vistos em Babe - O Porquinho Atrapalhado. Melhor seria então enquadrar profissionais como Andy Serkis em uma categoria à parte, que exigiria uma criteriosa avaliação dos jurados. Não que uma medida desse tipo possa ser implantada em curto prazo, por um motivo simples: Serkis é o melhor em um campo onde, praticamente, só existe ele. Mais fácil e justo seria, acredito, ceder ao ator um Oscar honorário.

Abaixo, um dos muitos vídeos que engrossam a campanha para que Andy Serkis seja indicado ao Oscar de Melhor Ator.













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