quarta-feira, 11 de maio de 2011

Deus e o Diabo Na Terra do Sol


Deus e o Diabo na Terra do Sol (Brasil, 1964). Direção de Glauber Rocha. Com Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Othon Bastos, Maurício do Valle, Lidio Silva, Sonia Dos Humildes, João Gama.


Renato Cordeiro

O filme mais famoso de Glauber Rocha não é feito para entreter. Ou melhor, não é feito para entreter do jeito tradicional. O cineasta baiano tem na sua obraprima um instrumento de provocação, uma metralhadora de imagens contra a opressão e sofrimento que pode vir do estado, da igreja, do latifúndio e, em última análise, da mais pura ignorância.

Geraldo Del Rey vive Manoel, um vaqueiro humilde que se rebela contra os abusos do patrão, típico exemplar do coronelismo nordestino. A atitude em si está longe de ser uma redenção, já que o homem se torna um joguete, uma pessoa à mercê de um salvador, buscando a quem seguir na figura de um líder religioso e, posteriormente, na de um cangaceiro. O primeiro é um fanático que faz as vezes de um Antônio Conselheiro, com direito ao conhecido bordão sobre o mar que vai virar sertão. O segundo é ninguém menos que o lendário Corisco. Em paralelo, o filme acompanha o matador de aluguel Antônio das Mortes, contratado a contragosto para dar cabo dos que ameaçam o status quo.

Algumas cenas carregam na lentidão, exigindo paciência do expectador acostumado com a estética videoclipada contemporânea. O longa flerta com o surrealismo e a chamada montagem ideológica, tão cara ao cinema soviético. As imagens são costuradas não necessariamente para apresentar acontecimentos, mas sim idéias, que também ganham vazão em músicas interpretadas por Sérgio Ricardo, escritas por Glauber Rocha sob inspiração do cordel. Filmado em Monte Santo, no interior baiano, Deus e o Diabo Na Terra do Sol foi indicado à Palma de Ouro, em Cannes.

Nota: 8,0 (de dez)













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