quarta-feira, 4 de maio de 2011

Rio


Rio (EUA, 2011). Direção de Carlos Saldanha. Com Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Jamie Foxx, Will I Am, Leslie Mann, Rodrigo Santoro, Bebel Gilberto.


Renato Cordeiro

O brasileiro ainda tem dificuldade em se ver no cinema estrangeiro. Há boas razões para isso. Muitos gringos ainda pensam que nosso território se divide em praias e florestas, e outros ainda acreditam que nossa capital é Buenos Aires. Volta e meia algo assim vai parar em um filme e a repulsa é inevitável. Infelizmente, sobrou para Rio, justamente um longametragem que conseguiu mostrar a brasilidade sem cair em uma estereotipia idiota, mas que agora se vê sob ataque. Não que a animação não mereça ser condenada, mas os problemas aqui não passam pela maneira como retrata a Cidade Maravilhosa. O roteiro é que não presta, mesmo.

Blu é uma arara azul brasileira criada pela jovem Linda como bicho de estimação nos Estados Unidos. Ela acaba cruzando o caminho do ornitólogo Túlio e fica sabendo que o pássaro pertence a uma espécie em extinção. Eles embarcam para o Rio de Janeiro para providenciar o acasalamento com Jade, uma fêmea cascagrossa, mas os planos vão por água abaixo quando os animais caem nas mãos de contrabandistas. A posterior fuga do cativeiro serve como pretexto para o resto do filme, que mais do que contar uma boa história, se preocupa em descortinar a capital fluminense. É algo como um belo cartão postal em forma de animação, e não muito mais do que isso.

Nos primeiros 15 minutos de Rio, você já sabe como tudo vai terminar. É lamentável e curioso como projetos deste tipo, que tanto evoluíram tecnicamente, não são mais ousados do ponto de vista da trama. Inevitavelmente, o longametragem perde força na metade final, especialmente por se dedicar tanto a personagens secundários absolutamente dispensáveis e criar situações forçosas. A pior delas é uma passagem no carnaval carioca que, apesar de muito boa tecnicamente, se revela gratuita e patética.

Curiosamente, o que salva Rio, justamente, é a brasilidade. Não por acaso, o diretor é o brasileiro Carlos Saldanha, responsável pela trilogia A Era do Gelo. Há samba, carnaval, favelas, crime, paixão pelo futebol, praia e a malandragem tupiniquim. De forma estilizada, é verdade, mas sem qualquer tipo de caricatura ofensiva. Uma amiga deste cinéfilo citou uma cena realmente simpática, quando Linda e Túlio estão no trânsito e um grupo de pessoas animadas atravessa a pista. Uma mulher consegue sambar e caminhar ao mesmo tempo, com uma desenvoltura que surpreende a estrangeira. "Nossa, ela é dançarina profissional?", pergunta. "Não, é minha dentista", responde Túlio. Esse é um ponto forte do filme: fazer com que o espectador enxergue o Rio de Janeiro por olhos estrangeiros, usando elementos que estão presentes no cotidiano canarinho. Bem diferente das cenas toscas de Feitiço do Rio, no qual Michael Cane se vê em uma praia onde todas as mulheres fazem topless e algumas tem até um mico nos ombros...

Nota: 6,0 (de dez)




















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