sexta-feira, 22 de abril de 2011

Do Jeito Que Ela É


Do Jeito Que Ela É (Pieces of April, EUA, 2003). Direção de Peter Hedges. Com Katie Holmes, Patricia Clarkson, Oliver Platt, Derek Luke, Alison Pill, John Gallagher Jr., Alice Drummond, Vitali Baganov, Lillias White, Isiah Whitlock Jr., Sean Hayes.


Renato Cordeiro

"Eu sempre dependi da bondade de estranhos". Essa frase, do clássico Uma Rua Chamada Pecado, foi considerada uma das 100 maiores falas do cinema, e veio à mente deste cinéfilo quando assistia Do Jeito Que Ela É. A personagem principal, vivida por Katie Holmes, convidou os pais e irmãos para o Dia de Ação de Graças, uma comemoração familiar comum nos Estados Unidos. O problema é que, no dia do encontro, o forno deixa a jovem na mão, o que pode estragar os preparativos da ceia. Precisando aquecer o tradicional prato principal, o peru, April se vê obrigada a contar com a boa vontade dos vizinhos do prédio onde mora.

O edifício decadente onde ocorre parte da ação funciona como um microcosmo étnico de Nova York, com a protagonista tendo de se relacionar com os então desconhecidos moradores afroamericanos e outros vindos da China. Ela terá pela frente barreiras de língua, tensões raciais e segundas intenções para a prestação de favores. Em paralelo, o espectador vai acompanhar a parte road movie do longa, com a viagem de carro que a família realiza para a celebração, mesmo com toda a expectativa negativa em torno de April. A jovem é uma espécie de ovelha desgarrada, tipo rebelde com passado marcado por envolvimento com drogas. O comparecimento dos parentes à ceia promovida pela garota acaba, assim, servindo como uma tentativa de reconciliação.

É um belo filme, com bom elenco, uma pequena pérola que não vai marcar época, mas encanta sem resvalar na pieguice, mesmo com a trama tendo farta munição para isso. Do Jeito Que Ela É, ou Pieces of April, como no bacana título original, investe em elipses que funcionam bem. Um exemplo é quando April bate à porta de uma vizinha que a humilha gratuitamente e pergunta às gargalhadas qual o problema da jovem. Logo depois, a mesma mulher aparece chorando, dando a entender que se solidarizou com a garota e a tragédia que tem à vista. Outro momento é aquele em que April, furiosa, tem em mãos um pertence de um vizinho que a aborreceu, mostrando que a cena anterior resultou em um toma lá dá cá
. Em tempos nos quais a sutileza parece dar o tom da expressão artística, o longa escrito e dirigido por Peter Hedges é prato cheio.

Nota: 8,0 (de dez)










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