quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Retrato de Dorian Gray


O Retrato de Dorian Gray (Dorian Gray, Reino Unido, 2009). Direção de Oliver Parker. Com Ben Barnes, Colin Firth, Rebecca Hall, Ben Chaplin, Fiona Shaw, Rachel Hurd-Wood.


Renato Cordeiro

Uma adaptação fiel de O Retrato de Dorian Gray dificilmente se tornaria um arrasa-quarteirão nos cinemas. Basta ler algumas páginas do clássico de Oscar Wilde para se dar conta do hedonismo e homoerotismo que permeiam o livro, dois elementos que os produtores dos grandes estúdios, conservadores que são, não costumam ofertar ao público médio. Não admira que o filme dirigido por Oliver Parker amenize justamente estes aspectos, em um esforço que acaba, por outro lado, sabotando a produção.

O Retrato de Dorian Gray é claramente voltado à uma parcela menos exigente do público juvenil, que não terá problemas em reconhecer o ator Ben Barnes, o mesmo da aventura As Crônicas de Nárnia. Ele pouco consegue fazer como o almofadinha rico que se torna imortal depois de vender a alma. O encanto está vinculado e um quadro capaz de reproduzir as transformações no espírito do rapaz, que abraça uma vida de crueldade e prazeres. Não que o espectador mais sensível tenha de ficar assustado.

O que mata o longa não é a opção por
"sanear" o personagem-título, por mais discutível que isso seja. O duro é se apossar da aura de um clássico para vender um fime de horror esquemático, com a trilha sonora tentando arrancar sustos e criar um clima que não se sustenta. Destaque para alguns problemas percebidos na montagem, talvez por culpa do diretor. A passagem de tempo é demonstrada de maneira que varia de abrupta, no período de exílio de Gray, à confusa, nos minutos finais do trabalho.

Em papéis chave, o elenco traz ainda Ben Chaplin, como o consciencioso pintor, e Colin Firth, que venceu o Oscar por O Discurso do Rei poucas semanas depois desta produção, na qual interpreta o amoral mentor de Dorian Gray. Tem ainda a bela Rebecca Hall, que me impede de nutrir maior desgosto pela obra. Não que este seja um comentário prudente, mas cinéfilo arranca satisfação de onde pode, n'est pas?

Nota: 5,0 (de dez)










2 comentários:

  1. Gostei do tom da crítica.
    Estava pensando em ver o filme justamente curiosa com a forma como seria trabalhada a questão do homossexualismo, que nem mesmo no livro chega a ser explícita. Pelo que li, parece então que a tornaram ainda mais implícita na obra, quase imperceptível.
    ***
    Blog legal, estou seguindo.
    Caso goste literatura, dá uma passada no meu (avesso do espelho) onde posto textos autorais.

    Um bom fim de semana,
    Abraços!!!

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  2. Obrigado, Assis. Estou viajando em Sampa, mas assim que puder dou uma olhada, sim. :)

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