sábado, 16 de abril de 2011

Um Astro em Minha Vida


Um Astro em Minha Vida (10 Items or Less, EUA, 2006). Direção de Brad Silberling. Com Morgan Freeman, Paz Vega, Jonah Hill, Anne Dudek, Francisca Hernandez, Jim Parsons, Danny DeVito.


Renato Cordeiro

Morgan Freeman está longe das telonas há alguns anos, quando resolve tentar um projeto independente e viaja até Carson, na Califórnia, onde aguarda o diretor do possível novo filme. Em uma mercearia, ela acaba voltando a atenção a Scarlet, que trabalha em um caixa do estabelecimento. Apesar de rude, a espanhola desperta um fascínio imediato no veterano ator. Freeman passa a acompanhar a esquentadinha, que não aguenta mais o ofício atual, e a ajuda na preparação para uma entrevista de emprego como quem orienta alguém para um grande papel.

O plot torna a primeira metade do filme bem envolvente, muito em função do carisma do ator, aqui interpretando a si próprio, sem que seu nome seja dito uma única vez ao longo da história. O protagonista é retratado de maneira elogiosa, como uma espécie de guru irreverente, gentil, apaixonado pela profissão e eventualmente envergonhado pelos filmes ruins que já fez. O personagem pode até não ser a exata expressão do intérprete, mas diverte, especialmente ao demonstrar o prazer em estudar as pessoas em volta, como acontece com um profissional de escritório vivido por Jim Parsons, da série The Big Bang Theory, em rápida aparição. O mesmo, claro, ocorre com Scarlett, ainda nos primeiros minutos do filme. Em um dado momento, quando a jovem percebe o tipo esquisito que a observa em cada gesto, pergunta se todos os atores são assim. "Infelizmente, não", responde ele.

A direção e montagem merecem créditos, especialmente na cena em que Morgan Freeman leva o carro da nova amiga para um lava-jato. Ele esbanja simpatia com os funcionários do local, com direito a uma referência ao clássico Virtude Selvagem, de 1946. Ao mesmo tempo, Scarlett, vivida pela belíssima Paz Vega, troca de roupa, se preparando para "assumir o papel". A passagem é embalada por La Receta, de Kemo, rap que tem no naipe de metais um agradável toque latino, em possível metáfora ao encontro do ator de descendência africana com a jovem de origem hispânica. É um dos melhores momentos do filme, mas também sinaliza uma curva descendente.

Um Astro em Minha Vida perde força justamente quando Scarlet passa a abrir a guarda. A boa química entre os protagonistas se dava em boa medida pelo conflito que escondia uma admiração mútua. Quando chega ao fim, a fórmula consagrada para alguns, batida para outros, costuma dar lugar à desafiadora missão de manter o espectador interessado por alguma outra coisa. A dupla passa a se encarar como dois solitários e experimenta algo próximo do que o espectador assistiu em Encontros e Desencontros, mas não da mesma forma convincente que a do filme de Sofia Copolla. Freeman não parece ser alguém que compartilha das angústias de Scarlett, como a trama busca mostrar. Talvez haja limites para o quanto o próprio ator pode se expor ao público.

Nota: 7,0 (de dez)


P.E.: De acordo com o IMDB, este filme é o primeiro da história a ser disponibilizado para ser visto legalmente pela internet enquanto ainda era exibido nos cinemas. Abaixo, segue um vídeo no qual a dupla de protagonistas dá boas razões para isso.











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