quinta-feira, 14 de abril de 2011

Escritos Sobre Cinema - Trilogia de Um Tempo Crítico



Renato Cordeiro

Há um ano, a crítica cinematográfica brasileira preenchia uma das mais preocupantes lacunas de sua história. Em 13 de abril de 2010, era lançada a trilogia Escritos Sobre Cinema, uma compilação de resenhas e análises fílmicas de André Setaro, colunista de veículos como o Terra Magazine e o jornal Tribuna da Bahia. Com mais de 40 anos de serviços prestados à compreensão e valorização da sétima arte, o carioca que ainda garoto se firmou na Bahia corria o risco de ter seus textos privados da posteridade.

A publicação só foi possível graças à brava teimosia do jornalista e escritor Carlos Ribeiro, que convenceu o crítico da viabilidade do projeto e liderou um grupo encarregado da seleção de textos que tomariam três volumes. No primeiro, estão análises de filmes, atores e diretores, com um passeio pela obra de Hitchcock, Bergman e Hawks, entre outros. O segundo livro trata exclusivamente do cinema baiano, abordando aspectos importantes de sua história, além de alguns dos mais importantes cineastas. Já na última parte, o leitor encontrará textos que abordam a linguagem cinematográfica, entre outros temas.

Os livros já seriam de grande importância se tratassem apenas das considerações de André Setaro sobre a sétima arte. Mas o crítico, que ainda hoje qualifica a si próprio como comentarista, vai além, e em passagens em tons autobiográficos, acaba fazendo um retrato da cidade de Salvador no que chamaria de tempos pretéritos, com a nostalgia de quem viu a fase áurea de salas de cinema que, hoje, dão lugar a igrejas e locais de exibição de filmes pornográficos. Ele destaca os hábitos do público, a ansiosidade para assistir obras que não eram apresentadas nos grandes circuitos e a importância do Clube de Cinema da Bahia e do principal ativista, Walter da Silveira. Assuntos, por sinal, que são costumeiros no blog do autor.

Como se não bastasse, há espaço até mesmo para alguns causos, como Meu Encontro Com James Stewart, artigo no qual o crítico dá lugar ao cinéfilo para falar da ocasião em que entrevistou o homem que matou o facínora. Talvez fosse pensando nisso que Inácio Araújo, no prefácio da trilogia, traçou o seguinte comentário: "Tenho a impressão, ao ler seus textos, que para André Setaro a crítica é a arte da paciência (e a da entrevista é a da fascinação, mas isso é outra história)."










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