quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Árvore da Vida


A Árvore da Vida (The Tree of Life, EUA, 2011) Direção de Terrence Malick. Com Brad Pitt, Jessica Chastain, Sean Penn, Fiona Shaw, Kari Matchett, Dalip Singh, Joanna Going, Jackson Hurst, Brenna Roth, Jennifer Sipes, Crystal Mantecon, Lisa Marie Newmyer.


Renato Cordeiro

Não passou despercebido o fato de dois filmes de cineastas renomados estrearem quase simultaneamente tendo questões existenciais como mola mestra da narrativa. Assim como ocorre em Melancolia, o niilismo também dá o tom de A Àrvore da Vida, pondo em xeque valores e convenções sociais que sufocam o ser humano. A diferença mais significativa se dá pela maneira, digamos, mais propositiva como Terrence Malick trabalha a angústia contemporânea.

O diretor, novamente acumulando a função de roteirista, oferece uma obra que se quer aberta, plural em possibilidades de interpretação, de tal modo que até o ator Sean Penn declarou não ter entendido o papel cumprido pelo próprio personagem. De fato, o intérprete pouco aparece, apesar de sua posição nos créditos indicar o contrário. Ao longo das poucas cenas nas quais toma parte, acompanhamos um homem em ambientes que sugerem esterilidade, desde a casa onde acorda até o local de trabalho. Na composição com a paisagem urbana, Penn é colocado sempre à frente dos elevadores e prédios imensos filmados de baixo para cima. Aqui, o chamado enquadramento contraplongée é utilizado fora da idéia convencional de engrandecimento do ser/objeto focado e em vez de de engrandecimento, indicam uma figura esmagada pelo cotidiano.

Na adolescência, o personagem de Sean Penn é vivido pelo jovem Hunter McCracken. Jack possui uma conflituosa relação com o severo pai, papel de Brad Pitt, que não surpreende em mais um bom desempenho. É entre eles que o filme se concentra. O Sr. O'Brien é um sujeito que cria três crianças sob regras ora injustas, ora absurdas, impondo situações que são uma válvula de escape para as diversas frustrações, como a de abrir mão dos sonhos de juventude. Em um raro momento de autocrítica, pede que o garoto não permita que o mesmo lhe aconteça e que não deixe que digam o que não pode fazer. Acompanhando as breves cenas de Jack em sua maturidade, é possível perceber que o conselho de nada valeu.


O elemento deflagrador da angústia reprimida dos personagens centrais é a morte de um dos irmãos de Jack, que ocorre logo no início do filme e leva a família a questionar a vontade divina. E se em Melancolia Lars Von Trier usava a colisão de um planeta como recurso para impôr uma situação terrível, inevitável e compartilhada entre as protagonistas, em A Árvore da Vida Malick usa imagens do espaço e da pré-história para sugerir quão pequenos somos nós, nossas perdas e nossas súplicas ante a magnitude da existência.

As narrações em off do pai, mãe e filho remetem a uma característica já percebida em outros trabalhos de Terrence Malick, como O Novo Mundo e Além da Linha Vermelha. A economia das palavras na obra do cineasta
opera de outra forma que não a simples ratificação de algo que a imagem já sugere. Em vez disso, o texto suplementa, acrescenta reflexões, estados de espírito. E apesar de dar margem a diversas leituras, A Árvore da Vida assume, especialmente ao fim do filme, uma abordagem que pode ser considerada próxima da autoajuda ou espiritualismo. Este cinéfilo fica, no entanto, com a idéia de um surrealismo reconfortante, um gesto de compaixão onírica do diretor.

Nota: 8,0 (de dez)











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