quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Amor Extremo


Amor Extremo (The Edge of Love, Reino Unido, 2008) Direção de John Maybury. Com Keira Knightley, Sienna Miller, Cillian Murphy, Matthew Rhys, Simon Armstrong.


Renato Cordeiro

Fazer de Dylan Thomas um personagem coadjuvante é um luxo que seria compreensível, se a amizade entre a cantora que ele amava e a esposa do escritor fosse bem explorada em Amor Extremo. Mas o drama sobre duas mulheres à frente de seu tempo e o retângulo amoroso do qual tomam parte simplesmente não cativa, apesar da delicadeza da direção e fotografia. Os personagens masculinos, mais interessantes, acabam salvando o longametragem.

Vera Phillips conheceu Dylan Thomas quando ainda eram garotos, e manteve o sentimento pelo homem que reencontra já casado, sendo declaradamente correspondida pelo sujeito boêmio. Apesar da tensão romântica entre os dois, a esposa, Caitlin, se identifica com a moça e a simpatia vai crescendo.
A cumplicidade que previne a infidelidade é posta à prova quando o marido de Vera, o soldado William, é convocado para o combate. E é quando o filme, que até então era ao menos um drama correto, vai se tornando algo aborrecido.

De um lado, Amor Extremo se dedica à amizade entre as protagonistas, com direito a belas cenas que simulam imagens desbotadas, apesar da trama em si não despertar muito interesse.
O problema, talvez, seja o fato de que as duas protagonistas são desprovidas de outra motivação que não o amor que sentem pelo mesmo homem. O casamento de Vera, vivida por Keira Knightley, é mostrado como uma espécie de fuga ou compensação pela sensação de incompletude que toma conta ao ver o casal que se hospeda em sua casa. A carreira de cantora parece apenas um lugar de afirmação da própria independência, algo que, em Caitlin, interpretada por Sienna Miller, se traduz pelo jeito transgressor.

A Segunda Guerra é o pano de fundo para a tensão que se desenvolve entre Vera e os agora vizinhos, Dylan e Caitlin. Mas em vez de ser usado como um momento de niilismo propulsor de uma traição iminente, o conflito é reduzido aos seus efeitos mais particulares, a saber, a espera de Vera pelo retorno do marido. A decisão reflete o próprio espírito escapista do trio que quer distância da tragédia da qual William participa. Não deixa de ser irônico, neste sentido, o papel de Dylan Thomas, boêmio que não pisa no campo de batalha, mas é o responsável por escrever a propaganda de guerra. O papel é bem defendido por Matthew Rhys, que chega a despertar um lamento por estar em segundo plano.

Já William, personagem de Cillian Murphy, seduz Vera não apenas com o jeito seguro e protetor, como também mostra-se claramente capaz de disputar o coração da jovem com as mesmas armas do rival. Ele declama poesias em diversos momentos do filme, até finalmente se dar conta da realidade da guerra, conhecimento que não vem sem sacrifício. Se Amor Extremo fica a desejar como drama romântico, serve ao menos como um pequeno tratado sobre a fragilidade do mundo particular que se pode erguer em uma realidade doentia.

Nota: 6,0 (de dez)










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