terça-feira, 27 de setembro de 2011

Quando a Neve Tornar a Cair


Quando a Neve Tornar a Cair (Days of Glory, EUA, 1944) Direção de Jacques Tourneur. Com Gregory Peck, Tamara Toumanova, Alan Reed, Maria Palmer, Lowell Gilmore.


Renato Cordeiro

A ascensão
de Gregory Peck em Hollywood, em boa medida, ocorreu por conta da Segunda Guerra Mundial. O esforço contra os nazistas recrutou alguns grandes astros da época, deixando o cinema estadunidense seriamente desfalcado. Só pra se ter uma idéia do problema, a extensa lista de nomes que serviram em batalha inclui Clark Gable, James Stewart, Henry Fonda, Charles Bronson, Lee Marvin, Ernest Borgnine e George C. Scott. Por causa de um problema na coluna, Peck acabou dispensado, mas por ironia, o ator então conhecido no teatro noviorquino ganhou a chance de estrear em um longametragem que serve justamente como propaganda de guerra.

O trabalho já começa em tom cerimonioso, apresentando o elenco que dá vida a um grupo de guerrilheiros empenhados em conter o avanço nazista. O esconderijo dos partisans está em uma posição estratégica e permite várias ações de sabotagem contra as tropas alemãs, com direito a explosões e combates cujos efeitos impressionam, considerando-se a época. Peck, aos 28 anos, faz o líder do bando, Vladimir. A rotina do grupo muda quando passam a acolher Nina, papel que se confunde com a própria intérprete, a bela Tamara Toumanova, que era também uma bailarina russa. A presença da artista serve como um elo entre os combatentes e o espectador, que ainda não os conhece.

O empenho em evitar rejeições por parte do público e a própria natureza propagandista parecem ser o motivo para um dos problemas da história: os personagens unidimensionais. Antes de mostrar Vladimir pela primeira vez, o filme sugere que é um sujeito que mantém a disciplina dos companheiros com severidade, mas logo o bom-mocismo que se tornaria típico dos personagens de Gregory Peck toma conta do papel, parecendo ser calculada para não criar antipatia no espectador. E se a idéia era fazer da bailarina um contraponto para a vida brutal dos guerrilheiros, o efeito não se sustenta, uma vez que eles se mostram capazes de recitar poemas e até cantar juntos, enquanto Nina, por sua vez, se une ao esforço de guerra de forma voluntária.

É interessante reparar ainda como os personagens mais parecem estadunidenses do que russos, já que até a gestualística e os discursos patrióticos combinam direitinho com aqueles que nos acostumamos a ver em produções da Terra do Tio Sam. Na cena em que o grupo toma a tradicional sopa borscht, mais parecia que a mesa tinha uma torta de maçã. O romance meloso e previsível que se dá entre os protagonistas também compromete, e seria um dos elementos convidativos à revisão em um eventual remake deste filme, que em vários momentos parece perto de ser bom, mas acaba mesmo no meio do caminho.

Nota: 5,0 (de dez)










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