segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Luz é Para Todos


A Luz É Para Todos (Gentleman's Agreement, EUA, 1947) Direção de Elia Kazan. Com Gregory Peck, Dorothy McGuire, John Garfield, Celeste Holm, Anne Revere, June Havoc, Albert Dekker, Jane Wyatt, Dean Stockwell.


Renato Cordeiro

A Luz É Para Todos é um filme refém do discurso e, apesar do bom plot, não é espetáculo dos mais interessantes. O roteiro é contaminado por situações forçadas e um ufanismo daqueles típicos do cinema estadunidense, comprometendo a obra vencedora de 3 Oscars. Uma das estatuetas foi para as mãos de Elia Kazan, cineasta que faz aqui um trabalho apenas correto.

Gregory Peck, especialista em interpretar homens de nobre caráter que se propõem a ser a palmatória do mundo, compõe sem esforço o jornalista Phil Green, às voltas com uma série sobre anti-semitismo. A relevância do tema pode ser estranha para os brasileiros, que pouco contato têm com a cultura judaica e correlacionam a discriminação a uma questão de cor de pele. De todo modo, o filme assume que, nos States, a coisa era séria. Piadas veladas, restrição de acesso a estabelecimentos e outras hostilidades passam a ser vivenciadas pelo proprio repórter quando ele resolve se colocar no lugar dos judeus, fazendo-se passar por um deles.

A idéia central funciona bem e opera em dois planos da realidade, dentro e fora da obra. A estratégia de Green de usar a si mesmo como referencial para a compreensão do problema permitirá que seus amigos, colegas e leitores possam também se colocar no lugar do profissional, e por tabela, na pele dos judeus. Em paralelo, o efeito também se fará sentir no espectador da obra, que vê em Peck o bom moço com o qual metade da raça humana gostaria de se identificar, renunciando ao acordo de cavalheiros que serve de título original ao filme.

É bem verdade que Gregory Peck falha em alguns momentos nos quais o protagonista se enfurece, como quando confronta a própria secretária pela última vez. A voz poderosa e os gestos do ator são eficientes, mas os olhos não parecem acompanhar a cena.
Dorothy McGuire, como o par romântico, cria um personagem interessante que estabelece inesperados conflitos com o jornalista, mas a interpretação algo datada investe em uma voz excessivamente sussurada e melosa. John Garfield, ator de destaque na época, vive com desenvoltura e carisma o amigo judeu que serve como uma espécie de tradutor dos sentimentos que passam a ser vivenciados por Green. Mas quem rouba todas as cenas é Celeste Holm, no papel da amiga que se revela mais complexa do que se poderia pensar à primeira vista, dando a entender o alto preço que se paga por um comportamento liberal. Levou um merecido Oscar de coadjuvante.

Infelizmente, algumas situações retratadas no roteiro parecem por demais gratuitas, a exemplo de uma cena com o médico da família de Green. O filme começa a perder força à medida em que resvala em pieguices e patriotadas, sendo que a direção morna não ajuda. Difícil não pensar na ironia de ver uma obra que faz uma defesa tão apaixonada pelos direitos civis na terra do Tio Sam, sendo que depois o mesmo cineasta se associaria com o governo estadunidense na perseguição a tantos artistas acusados de serem comunistas. Faça o que eu digo...

Nota: 6,0 (de dez)










Nenhum comentário:

Postar um comentário