terça-feira, 6 de setembro de 2011

Dívida de Sangue


Dívida de Sangue
(Blood Work, EUA, 2002) Direção de
Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Jeff Daniels, Anjelica Huston, Wanda De Jesus, Tina Lifford.


Renato Cordeiro

Dívida de Sangue é um desperdício do talento de Clint Eastwood. Difícil acreditar que o homem que dirigiu Menina de Ouro pôde comandar, apenas dois anos antes, um trabalho tão sem personalidade, previsível e datado. O longamentragem já começa mal, com uma abertura que remete a alguns filmes policiais de expressão nula lançados nos anos 70. A câmera sobrevoa a Califórnia à noite, saxofone tocando ao fundo, até que acompanhamos o protagonista descer do carro para chegar à uma cena de crime, onde foram deixadas mensagens do assassino para o nosso herói. Se fosse uma paródia, seria bacana, mas não é o caso.

Em um aspecto, o filme lembra
o bom suspense Na Linha de Fogo, de 1993, o mais antigo trabalho em que Eastwood atuou sem acumular a função de diretor. Ele assumia a idade como Frank Harrigan, um investigador que não se encontrava mais em condições de correr na escolta do presidente dos Estados Unidos. Em Dívida de Sangue, o ator faz um protagonista ainda mais vulnerável, desta vez o ex-agente do FBI Terry McCaleb. O sujeito se propõe a elucidar o assassinato de uma jovem, dois meses depois de ser submetido a um bem sucedido transplante de coração. A irmã da vítima usa um argumento contundente para convencer McCaleb a encarar a missão: o órgão que ele agora usa veio da garota morta. Daí o título brasileiro para o filme.

Embora o herói seja convincente e conte com a privilegiada carranca de Clint Eastwood, o filme não funciona, a começar pelos outros personagens. Falando nisso, ver Anjelica Huston em cena é uma satisfação eclipsada pelo papel que, apesar de importante para a trama, não tem o que acrescentar à carreira da intérprete. Ela faz uma cardiologista que acompanha o estado de saúde de Clint, deixando claro os riscos que corre por se lançar em uma investigação sendo um recém-transplantado. Outra falha está no já desgastado conflito entre o mocinho e os agentes da lei, configurada na relação entre McCaleb e dois detetives responsáveis pelo caso.

O roteiro é de Brian Helgeland, figura realmente imprevisível. Ao mesmo tempo em que já havia cuidado de textos que originaram Sobre Meninos e Lobos e Los Angeles - Cidade Proibida, participou de trabalhos menos inspirados, como Coração de Cavaleiro e Devorador de Pecados.
Na adaptação de uma história de Michael Connelly, temos mais uma bola fora. O mistério é fácil de ser elucidado pelo espectador e, quando finalmente é revelado, abre caminho para um desenlace morno e cheio de diálogos estúpidos e frases de efeito idem. Constrangedor. Se não fosse a presença e o carisma de Clint Eastwood, Dívida de Sangue seria uma bomba.

Nota: 5,0 (de dez)










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