terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cowboys e Aliens


Cowboys e Aliens (Cowboys & Aliens, EUA, 2011) De Jon Favreau. Com Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Sam Rockwell, Adam Beach, Clancy Brown, Keith Carradine, Paul Dano.


Renato Cordeiro

Em seus melhores momentos, Cowboys e Aliens é um outro filme. Essa sensação já se dá no início do longametragem de Jon Favreau, quando vemos o desmemoriado personagem de Daniel Craig acordando em um lugar deserto. Nas devidas proporções, a câmera cerimoniosa e a sonoplastia discreta parecem remeter a Era Uma Vez No Oeste, obraprima de Sergio Leone. Mais adiante, um planossequência acompanha Harrisson Ford revelando a um garoto as atrocidades que já presenciou e fica uma curiosidade de como seria se o ator protagonizasse um legítimo western. Mas tudo o que o espectador tem à frente é esse exemplo de como Hollywood chegou mesmo ao fundo do poço.

Muito se fala que a crise no cinemão norteamericano pode ser percebida pela profusão de refilmagens e continuações, sinal de que os grandes estúdios estão com dificuldade de contar novas hitórias. Mas há também uma grande incompetência em lidar com um plot diferente como o de Cowboys e Aliens, inspirado em um gibi que reúne o bang-bang e a ficção científica. Poderia não render um trabalho monumental, mas seria pedir demais uma diversão minimamente decente? Parece que sim, já que a produção reúne um amontoado de clichês e personagens com a profundidade de um pires para tratar da missão empreendida por caubóis determinados a resgatar pessoas abduzidas. No grupo estão os arquétipos típicos: o padre, o médico, o fora-da-lei, só não a prostituta, pra não assustar as criancinhas, vai ver. A propósito, com o perdão do spoiler, dizem que é bom desconfiar de qualquer filme que não tem a coragem de matar um cão. Precisa dizer mais alguma coisa?

Misto de western e sci-fi, Cowboys e Aliens fracassa nos dois gêneros. Do primeiro, mistifica os índios e condiciona a crueldade dos personagens às necessidades imediatas do roteiro, algo que se percebe especialmente no Coronel Dolarhyde de Harrisson Ford, que é mau, pero no mucho. Do segundo, toma a superioridade tecnológica dos aliens como forma de aumentar a tensão do desafio dos humanos, mas desenvolve o combate de forma pouco convincente. Lembra Independence Day, mas sem sequer usar como ferramenta da virada de jogo o vergonhoso vírus de computador concebido no filme de Roland Emmerich. A batalha final de Cowboys e Aliens força a barra, especialmente depois que um dos personagens humanos de mais destaque morre, o que parece acontecer só pra justificar o revés do confronto.

Todos os problemas do filme empalidecem frente a uma constatação dolorosa:
Steven Spielberg se tornou parte da indústria estagnada que ele mesmo ajudou a repensar a partir do final dos anos 70, enquanto diretor do bom cinema-entretenimento de Encurralado, Tubarão e Os Caçadores da Arca Perdida. Como produtor ou produtor-executivo, o pai de E.T. ajudou a levar às telas bons longas como De Volta para o Futuro, Cartas de Iwo Jima e o remake de Bravura Indômita, mas também colaborou para que existissem os sofríveis Transformers, Um Olhar do Paraíso e, agora, Cowboys e Aliens. Spielberg ainda tem saldo mais que positivo na conta de qualquer cinéfilo, mas já não representa um selo de qualidade.

Nota: 4,0 (de dez)










3 comentários:

  1. Não deem tanta atenção a crueldade deste comentarista. Veja o filme, afinal, gosto é igual ... Todos tem o seu.

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  2. Edson, seu comentário, apesar de curto, apresenta tantas incoerências que eu não saberia por onde começar uma resposta apropriada. E olha que eu tentei.

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