sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Gran Torino


Gran Torino
(EUA/Alemanha, 2008). Direção de Clint Eastwood. Com Clint Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang, Ahney Her, Brian Haley, Geraldine Hughes, Dreama Walker.


Renato Cordeiro

Quando se descobriu que Clint Eastwood fazia um novo trabalho nos idos de 2008, a suspeita inicial era a de que se tratasse de um novo e último filme como o inspetor Dirty Harry. A confusão tinha sua razão de ser, já que o carrancudo
Walt Kowalski também é um sujeito hábil em lidar com a violência urbana. E se também é possível perceber semelhanças com outros tipos durões interpretados pelo californiano, existe uma profunda diferença na abordagem humana do herói de Gran Torino.

A trama começa bem, apresentando Kowalski no velório da esposa e logo depois um evento de luto na casa do agora viúvo. É evidente a aversão que os filhos e netos egoístas e insensíveis despertam no protagonista, que dá mais atenção à cadela da esposa, o belo Gran Torino 1972 parado na garagem e os vizinhos coreanos do bairro onde mora. A princípio, a aproximação com os chamados hmong é difícil, especialmente depois que um jovem da comunidade tenta roubar o valioso carro. Kowalski, a princípio relutante, passa a se tornar um mentor do rapaz e vai resgatando a paternidade que saiu dos trilhos no passado, um lamento que guarda em silêncio. Do mesmo modo, o veterano passa a conhecer e apreciar a companhia dos coreanos, que nada mais eram do que inimigos de guerra.

Sob diversos aspectos, a obra trata da busca por redenção, além de servir como um resumo da carreira do diretor-ator. Ainda que a contragosto, o protagonista é um samaritano, lembrando o padre de O Cavaleiro Solitário, remake de Eastwood para o clássico Os Brutos Também Amam. Já o fato de ter sido veterano da Guerra da Coréia remete imediatamente a O Destemido Senhor da Guerra. A viuvez do homem que ia à igreja só pra fazer companhia para a esposa equivale ao pistoleiro que tomou jeito em Os Imperdoáveis.

Embora a melhor interpretação de Clint ainda seja o tutor de Hillary Swank em Menina de Ouro, ele tem um trabalho superior como o veterano rabugento, demonstrando completo domínio sobre cada ruga da face desde o início do longametragem, quando observa os monstros nos quais os netos vem se tornando. A voz é um aspecto que chama a atenção pelo desgaste evidente, algo que Eastwood utiliza de forma competente para a composição do personagem, às vezes aborrecido e cansado, outras vezes assustador.

Enquanto diretor, Eastwood chega a ser bem explícito e por vezes piegas ao demonstrar a melancolia do personagem, quase sempre denunciada por closes no protagonista. Faz falta alguns planos mais abertos, especialmente nas cenas que se passsam na varanda da casa de Kowalski. Por outro lado, o cineasta compensa com momentos inspirados, como aquele em que o protagonista encara três marginais com mãos nuas e a sequência de imagens que intercalam os trabalhos desenvolvidos pelo jovem coreano com a supervisão de Walt. As imagens sinalizam que o sujeito obviamente mantém viva a crença na ética do trabalho e defende o valor dos homens à moda antiga.

Nota: 7,0 (de dez)


Abaixo, o clipe da música Gran Torino, com Jamie Cullum. Tambem é possível encontrar uma tocante versão com introdução de Clint Eastwood, a mesma que toca ao final do filme.













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