segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Bem Amado


O Bem-Amado, Brasil, 2010. Direção de Guel Arraes. Com Marco Nanini, Matheus Nachtergaele, Tonico Pereira, Andréa Beltrão, Zezé Polessa, Drica Moraes, Caio Blat, Maria Flor, José Wilker, Edmilson Barros, Bruno Garcia.


Renato Cordeiro

O Bem Amado segue a fórmula de outros exemplares da filmografia de Guel Arraes, como O Auto da Compadecida, e Lisbela e o Prisioneiro. É comédia de sotaques, ágil, com texto saboroso e bons atores. E em vez da colagem de situações episódicas de alguns trabalhos do cinema nacional, esta adaptação da obra de Dias Gomes tem um fio narrativo mais claro, com começo, meio e fim.

Marco Nanini vive Odorico Paraguassu, político da pior estirpe que assume a prefeitura de Sucupira. A principal promessa de campanha foi criar um cemitério para evitar que os mortos da cidade sejam enterrados em outros lugares. A oposição pega no pé do governo municipal, contestando a necessidade da obra. Em meio a briga, ele procura manter um olho na filha, que se envolve com um jornalista, e outro nas Irmãs Cajazeiras.


As tramas paralelas tem resultados distintos. A primeira pouco acrescenta à narrativa. Já a trinca
formada por Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes ajuda a realçar a figura do político pilantra que tem ares conquistadores de um Juscelino Kubitscheck. E falando em paralelismos entre ficção e realidade, o jingle da campanha de Odorico lembra perfeitamente as marchinhas messiânicas que marcaram a carreira de nomes como Jânio Quadros e Getúlio Vargas.

Não que a história seja a mesma daquela levada à tela da TV nos anos 60. Arraes entende que a comédia não pode usar luvas de pelica, e atualizando a trama para os dias atuais, dedica uma parte de sua acidez para aquilo que ainda entendemos como "a esquerda". Tonico Pereira faz o dono de um jornal de oposição ao prefeito, sendo uma figura capaz de atos pouco nobres em favor de um "bem maior". Por fim, merecem destaque no elenco de apoio Edmilson Barros, como o típico bêbado local, e José Wilker, fabuloso na pele de um matador.

Vale a pena dar uma olhada nesta entrevista com o diretor.

Nota: 7,0 (de dez)



Bee

Eu não li O Bem Amado, de Dias Gomes, apesar de ser uma leitora compulsiva, mas também eu sou uma só e não posso dar conta de ler todos os livros do mundo. Então fui assistir a O Bem Amado munida apenas dos comentários que ouvi durante toda a minha vida sobre Sucupira, Odorico Paraguaçu, aa Irmãs Cajazeiras, e Zeca Diabo. O que não é muito.

Mesmo assim, fui com expectativas razoáveis, já que Guel Arraes é um diretor bacana.

Bem, uma coisa que percebi é que a adaptação do texto original não foi bem dosada. Existem linhas da história que parecem estar lá apenas de enfeite enão levam a lugar nenhum, como a da filha de Odorico (Maria Flor) e o personagem de Caio Blat – enfeite e a oportunidade perfeita para tirar a roupa da personagem, um ato sem o qual o cinema brasileiro parece não saber sobreviver.

O filme poderia ser melhor. Guel traz uma estética recorrente que eu particularmente gosto: as cores meio almodovarianas, o figurino caprichado, cenários detalhistas. O elenco do filme é excepcional, e claro que Marco Nanini e Zé Wilker (e o resto do estrelado elenco) dão alma ao texto, mas não é suficiente. O roteiro e a direção – e a montagem, talvez? - pecam por excessos de velocidade e gritaria, num continuum de situações meio coladas sem uma boa definição de tempo.

O filme se inicia com - e tem enxertos de - um pseudo-documentário narrado por Caio Blat no qual ele teoricamente explica como os eventos em Sucupira afetaram a política nacional brasileira e influenciaram no governo de Jânio Quadros. Achei interessante, mas sub-utilizado.

Enfim, apesar do texto atemporal de Dias Gomes, e do excelente momento político para o lançamento do filme, já que estamos em época de eleições, a sensação é de que há um equilíbrio pouco saudável entre pontos positivos e negativos no filme que decepciona. De qualquer forma, é interessante conferir a obra, nem que seja para se divertir com Marco Nanini e a verborragia caricata e criativa de Odorico, e conferir como anda a renovação do cinema nacional.

Para assistir: Num início de tarde, num cinema baratinho, sexta-feira.







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