terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Profeta


O Profeta (Un prophète, França/Itália, 2009). Direção de Jacques Audiard. Com Tahar Rahim, Niels Arestrup, Adel Bencherif, Hichem Yacoubi, Reda Kateb, Jean-Philippe Ricci.


Renato

Malik El Djebena já começa o filme chegando à prisão. O espectador pouco sabe sobre a vida pregressa do jovem, que quase se resume à condenação por agredir um policial, o analfabetismo e a ascendência árabe. O primeiro dado não importa e o segundo o próprio detento corrige dentro da prisão. Já a etnia faz mais diferença para os outros do que para ele, que chama atenção do poderoso chefão local, o corso César Luciani. Ao mesmo tempo em que executa trabalhos sujos para o criminoso, Djebena tenta encontrar uma forma de ascender dentro do mundo do crime.

O trabalho é um drama policial bem na linha daquilo que o Brasil tem se especializado em fazer, a exemplo de produções como Salve Geral. A diferença é que a narrativa aqui não é a do pobre cidadão honesto nem é a do ladrão de ocasião. O longa é de um criminoso que não possui grandes motivações morais, ainda que possa se apegar emocionalmente a um companheiro de crime e até mesmo a uma das primeiras vítimas que cruzam seu caminho na prisão.

O anti-herói do filme fala francês e árabe, mas não se identifica com qualquer uma destas habilidades. A série de ofensas dirigidas aos presos muçulmanos acaba por despertar em El Djebena uma certa consciência e solidariedade étnica, mas isso em nenhum momento municia algum impulso vingativo que possa comprometer o principal objetivo do personagem. Ele busca apenas sobreviver, esforço que responde por boa parte do que é O Profeta. A saga resulta funcional, mas sem brilho e com uma duração excessiva, de mais de duas horas e meia. A economia da arte parece estar em baixa no cinema, mesmo o europeu.

Nota: 6,0 (de dez)



Bee

O Profeta é um filme francês, e isso já define parcialmente a obra. Já sabemos que não será de jeito nenhum um filme pipoca ou caça-níqueis. Ao menos não quando é um filme francês premiado como este foi, com o grande prêmio do Juri em Cannes. Concorrente ao Oscar de melhor filme, perdeu para O Segredo dos Seus Olhos. Mas não importa, porque ele é suficientemente bom para ter arrebatado vários prêmios no César, o Oscar francês.

Não é um filme leve. Senti um certo desconforto a princípio, pois não sabia nada sobre o filme e esperava algo diferente, mas ele foi me cativando aos poucos, quando compreendi seu objetivo real. Denso, imersivo, com excelente narrativa, ele vai nos levando com um certo fascinio mórbido e algo repugnante ao longo da história de Malik El Djebena, um jovem de descendência árabe que vai para uma prisão francesa. Ignorante a princípio, Malik vai se envolvendo passo a passo com outros criminosos e galgando os degraus que o levam a crimes cada vez maiores e sofisticados, usando de uma mistura bem dosada de subserviência, malícia e visão de futuro. Aliando uma excelente estrutura narrativa a uma trilha sonora muito funcional, o filme se destaca principalmente na escolha de elenco, que atua com maestria. Malik, o protagonista, impressiona porque, mesmo se tornando um criminoso cada vez mais influente – e isso é mostrado de forma brilhantemente sutil ao longo da história – não deixa de manter um ar de espanto, de alheamento, de uma certa inocência. O crime que marca seu dèbut dentro da prisão o acompanha ao longo do filme dando um ar de realismo fantástico à la Gabriel Garcia Marquez, que dá um tempero a mais à obra.

Cheguei a pensar que o filme era baseado em fatos reais, porque parecia a biografia de um personagem extremamente possível, desses que pode facilmente ser romantizado pela mídia.

Para assistir: Num cinema de arte, sugiro o espaço Unibanco Glauber Rocha, se você estiver em Salvador.






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