sábado, 11 de setembro de 2010

O 11 de Setembro no Cinema


Renato Cordeiro


Em 1990, um grupo terrorista se apoderou do equipamento de comunicação de um avião lotado e o levou a uma aterrissagem desastrosa. Um dedicado policial estava na pista de pouso naquela noite e, com tochas na mão, em meio à neve, tentou sinalizar para o piloto que o sistema de navegação da aeronave estava com indicação errada. Não adiantou. Mais de duzentas pessoas perderam a vida na hora. A cena, uma das mais comentadas de Duro de Matar 2, foi considerada na época aquela com o maior número de mortes na história do cinema.

Diversos outros filmes mexeram com o imaginário do público estadunidense e colocaram o terrorismo como um dos grandes problemas a serem enfrentados dentro da Terra do Tio Sam. Exemplos incluem T
rue Lies, O Pacificador e Nova York Sitiada, todos produzidos antes mesmo dos atentados de 11 de setembro. Não é fato recente que o medo do outro, que justifica há tempos a política intervencionista de Washington, seja fonte de inspiração natural para o cinema. O protagonismo em diversas guerras também não passou despercebido, mesmo com o fim dos conflitos: alemães, vietnamitas e russos foram largamente retratados como inimigos desalmados, especialmente nos anos 80.

Quando o World Trade Center veio abaixo, abalou Hollywood imediatamente. De início, especula-se que o ataque poderia ter custado a vida do astro Jackie Chan. Na trama de Nosebleed, ele interpretaria um limpador de janelas às voltas com terroristas. Havia uma filmagem marcada para acontecer nas Torres Gêmeas no dia fatídico, mas o ator não recebeu o script a tempo e resolveu ficar em casa. Este e outros projetos foram cancelados, por trabalharem com o tema do terrorismo. O assunto que vendeu tantos filmes e estigmatizou países estava proibido nas telonas. Depois da tragédia, vários longas que estavam prontos para estréia tiveram a data de exibição remarcada, a exemplo de Efeito Colateral, com Arnold Schwarzenegger. The Governator vive um bombeiro que vai à caça dos responsáveis pela morte da família em uma explosão ocorrida em solo estadunidense.

A queda das torres também deu trabalho aos editores e supervisores de efeitos especiais. Filmes que estavam para estrear tiveram de remover cenas com as torres ou apagá-las digitalmente, como ocorreu em Zoolander e Homens de Preto 2. Outra conhecida consequência do atentado foi o cancelamento de um divertido trailer do primeiro longa do Homem-Aranha. Pelo menos, na época, era para ser divertido.




Nova York já não era mais a mesma, mas a vida precisava continuar, e o cinema também. O diretor que, para muitos, traduz a Grande Maçã, resolveu deixar de lado o perfil ermitão e aproveitar a audiência de uma cerimônia do Oscar para fazer um raríssimo comparecimento. Woody Allen pegou muita gente de surpresa quando foi anunciado, e fez uma homenagem à cidade que nunca dorme.




Mas o que todos se perguntavam era quais seriam os primeiros diretores a filmar ficções baseadas nos atentados. Em 2002, foi lançado 11 de Setembro, uma reunião de onze curtas com nove minutos cada um, dirigidos por nomes tarimbados como Sean Penn, Amos Gitai e Alejandro González Iñárritu. Outras produções relevantes incluíram as de Oliver Stone e Paul Grengrasss, ambas de 2006. Stone já tinha certa experiência em tocar nas feridas do Tio Sam. Platoon e o documentário Comandante, com Fidel Castro, são alguns exemplos. Em As Torres Gêmeas, ele conta o evento através de bombeiros que sobreviveram ao atentado, ficando soterrados no poço do elevador. Já Greengrass rodou Vôo United 93, uma tensa ficção em tom documental, sobre os passageiros que se rebelaram contra os terroristas, levando à única ação frustrada entre as previstas para aquele dia.




Ao longo dos anos, diversos filmes fizeram referência aos atentados, algumas vezes de forma mais sutil, como em A Última Noite, de Spike Lee, e em outras como parte do plot, como ocorreu no drama Reine Sobre Mim. Mas se a arte imita a vida, o documentário é o lugar de honra para comprovar a tese.

É espantoso que o melhor longa sobre os atentados contra as Torres Gêmeas seja tão pouco conhecido. 9/11, de 2002, foi pensado inicialmente para registrar a preparação de um jovem bombeiro. Ele foi acompanhado por dias dentro do quartel, sempre aborrecido pela ansiedade para entrar em ação em um grande evento. Os mais velhos o advertiram: "cuidado com o que você deseja".
Em uma das imagens, uma ação de rotina em uma rua próxima do World Trade Center termina no registro do exato momento em que o primeiro avião se choca contra uma das torres. Imagem rara, de uma "sorte" tremenda. A partir daí, imagens e sons impressionantes, captadas em primeira mão, transportam o espectador para dentro da tragédia, de uma forma que duvido que outro possa fazer. Se você quer assistir um único longa sobre os atentados de 11 de setembro, que seja este documentário.








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