domingo, 7 de agosto de 2011

Capitão América - O Primeiro Vingador


Capitão América - O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, EUA, 2011). Direção de Joe Johnston. Com Chris Evans, Hugo Weaving, Hayley Atwell, Tommy Lee Jones, Dominic Cooper, Sebastian Stan, Toby Jones, Neal McDonough, Derek Luke, Stanley Tucci, Samuel L. Jackson.


Renato Cordeiro

É curioso como um longametragem pode começar bem e terminar de forma burocrática. Capitão América é um filme de super-heróis até razoável, mas peca no desenvolvimento e faz o espectador bocejar nos, digamos, quarenta minutos finais. É um mal comum no cinema de ação e aventura como um todo. A narrativa clássica consegue estabelecer simpatia entre o público e o protagonista, mas perde o controle quando se trata de manter o interesse na jornada do personagem.

O roteiro foi friamente calculado para evitar rejeições, a começar pelo protagonista, um fracote transformado em um supersoldado depois de se voluntariar em um experimento. Antes que possamos questionar os méritos do herói anabolizado, a trama deixa claro que o forte da cobaia está na coragem e integridade intrínsecas, que renderam alta experiência em levar porrada com a dignidade intacta. A interpretação correta de Chris Evans e os ótimos efeitos especiais que o tornaram um rapaz mirrado favorecem a adesão ao bravo Steve Rogers. Também seria possível rejeitar uma produção ufanista, mas os símbolos estadunidenses em jogo, incluindo o uniforme do herói, são encaixados à história como forma de satirizar o belicismo do Tio Sam. O marketing de guerra que faz nascer o Capitão América rende, inclusive, uma agradável passagem com número musical típico da década, conquistando o público por assumir a paródia. Por sinal, a Marvel Studios foi feliz em fazer de Capitão América uma aventura de época, tomando por base o próprio momento no qual o personagem dos gibis foi criado. A requintada reconstituição dos anos 40 e a edição estilizada ajudam a entrar no clima e fazem esquecer a pavorosa adaptação anterior, filmada em 1990.

A direção de Joe Johnston faz sua parte nos esforços de simpatia ao impedir que o Capitão América seja visto como um "exército de um homem só". Personagens coadjuvantes são colocados em situação de quase protagonismo de algumas cenas de ação, auxiliando o herói em momentos decisivos. Uma cena exemplar é aquela em que um temerário soldado instala um explosivo embaixo de um veículo blindado. A ação é vista de longe pelos companheiros, sendo que o Capitão América está atrás de todos eles, enquadrado com discrição. O discurso é claro: o herói não veio resolver o problema, mas ajudar. E mesmo aqueles que não aguentam mais ver os alemães retratados como seres desalmados vão se sentir melhor com o personagem de Stanley Tucci, o consciencioso cientista que busca, com o soro, fazer um bem à humanidade. Em uma cena, ele explica a Rogers por que o escolheu para a experiência. "Você quer matar nazistas, garoto?", pergunta ao futuro herói. "Não quero matar ninguém, senhor", é a resposta. Tudo bem, Rogers vai matar geral ao longo da produção, mas é bonito ouvi-lo dizer isso.

O filme teria se saído melhor se desse atenção ao antagonista do herói, o Caveira Vermelha. A melhor cena do personagem é aquela na qual oferece o próprio carro como veículo de fuga para um comandado, que chama a atenção pelo inusitado. De resto, é um personagem insosso, interpretado por um Hugo Weaving no piloto automático e impulsionado por um enfadonho desejo de controlar o mundo, que enfraquece o longa à medida que ganha espaço, tornando-se a missão do Capitão América. O Caveira Vermelha protagoniza quase todas as cenas mais insignificantes da produção, nas quais o espectador poderá sair da sala de projeção para ir ao banheiro ou reabastecer o copo de refrigerante. Sairá no lucro.

Nota: 6,0 (de dez)









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