segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Ditadura 3D


Renato Cordeiro

Conferir blockbusters depois de Avatar vem se tornando uma experiência mais penosa do que de costume. As salas com melhor equipamento disponível para projeção exibem os filmes de maior apelo popular quase que exclusivamente em 3D, sendo que a maior parte das sessões é dublada, para desespero do cinéfilo que gosta do som original. Se é que existe outro tipo de cinéfilo.

Só para citar um exemplo recente, Capitão América - O Primeiro Vingador é exibido em Salvador com 25 sessões distribuídas em 9 salas de cinema. Conferi este lançamento da Marvel em três dimensões, a contragosto, pois do contrário o veria sem a companhia de dois grandes amigos. A única sala que exibia o filme legendado em bons horários e sem o maldito 3D se encontrava no Unibanco Glauber Rocha, que gosto muito, mas era distante demais para eles, que precisavam enquadrar a sessão no horário da babá do filho. No circuito das grandes salas, as opções eram todas 3D, a maior parte dublada. Com o último filme da série Harry Potter e o longa X-Men - Primeira Classe, o problema foi bem parecido.

O que mais irrita não é só o fato de que a sessão em três dimensões é mais cara, chegando a quase o dobro do que se cobra em uma sala normal. Irrita mais é saber que o público paga mais caro por algo que não vale a pena, não passa de mero artifício dentro da experiência. Não é que a ferramenta não possa se tornar essencial e desejável ao espetáculo, mas até então poucos cineastas parecem ter conseguido fazer a diferença na utilização do recurso, tão alardeado como salvador das salas de cinema em tempos de downloads de filmes pela internet. Comenta-se, curiosamente, que o melhor resultado neste sentido, desde o lançamento de Avatar, foi obtido por Paul W. S. Anderson em Resident Evil 4 - Recomeço. Longa que não vi e não gostei, de todo modo, mas por outros quinhentos.

Com a chegada de TV's e monitores capazes de reproduzir o efeito 3D em domicílio, a expectativa, talvez otimista, é a de que a indústria reconheça que o recurso de três dimensões não vai conseguir, por si só, a adesão do público que vem assistindo DVD pirata e baixando filmes. Até lá, oficializo meu boicote ao 3D caçaníqueis.










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