quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Mangue Negro


Mangue Negro (Brasil, 2008) Direção de Rodrigo Aragão. Com Walderrama Dos Santos, Kika de Oliveira, Markus Konká, André Lobo, Ricardo Araújo, Antônio Lâmego, Maurício Ribeiro, Reginaldo Secundo, Julio Tigre.


Renato Cordeiro

O cinema de horror é majoritariamente marginal e no Brasil não é diferente. Os exemplares do gênero estão entre aqueles com produção e divulgação mais modestas, sendo que a exceção mais recente é o último capítulo da saga de Zé do Caixão, Encarnação do Demônio, de 2008. No mesmo ano, dois diretores brasileiros encararam a aventura de lidar com um dos subgêneros mais tradicionais, os filmes de zumbi. Se o esforço é válido, o resultado, nem sempre. Um deles, o brasiliense Capital dos Mortos, é pavoroso, no sentido negativo e tosco do termo. O outro, Mangue Negro, tem mais recursos, é mais bem resolvido e funciona bem, pelo menos, como uma carta de intenções da filmografia de horror tupiniquim.

Em vez da paisagem urbana arrasada por um apocalipse zumbi, situação tão comum em obras do tipo, a epidemia se dá em um bioma tipicamente brasileiro: o mangue de uma comunidade de pescadores do Espírito Santo.
A labuta e o misticismo de catadores de caranguejo dão o tempero verde-amarelo da trama, que acompanha um grupo de sobreviventes em um sanguinolento confronto com os mortos vivos. Reservados os elementos canarinhos, a narrativa segue de perto a cartilha de trabalhos como Evil Dead, de Sam Raimi, e Fome Animal, de Peter Jackson. A comparação é proposital, já que um bom filme trash é, por definição, um filme bom, apesar das dificuldades. É humilhante pedir complacência do público.

O jogo de cintura atrás das câmeras e a criatividade em frente às mesmas é fundamental para que um longametragem não chame tanto a atenção pelos defeitos, mas pelo que apresenta em termos de soluções. Não são poucos os problemas de Mangue Negro, a começar pelo elenco, que na maior parte, oscila entre atuações sofríveis e risíveis, com direito a um homem que interpreta uma velhinha, performance que seria até aceitável, se não fosse cômica. Os primeiros minutos da produção também pecam por algumas inadequações, a começar pelos créditos espalhafatosos e pela edição nervosa do também diretor Rodrigo Aragão, que estraga o clima do filme quando Mangue Negro ainda mal começou. As cenas de abertura, a propósito, poderiam ser favorecidas por mais planos abertos, capazes não apenas de dar maior compreensão sobre o local onde a trama se passa como também intimidar o espectador com o perigoso mangue capixaba.

Por outro lado, o diretor Rodrigo Aragão, que acumulou diversas funções no projeto, merece aplausos por conseguir fazer um trabalho de sadias pretensões. A maquiagem e os efeitos especiais marcam alguns pontos positivos na caracterização dos mortos-vivos e o roteiro, que costura situações paralelas, se mostra eficiente ao criar um bom ritmo para a narrativa. O primeiro longametragem do cineasta, já premiado internacionalmente, não chega a ser bom, mas dá esperanças ao cinema de horror brasileiro.

Nota: 5,0 (de dez)










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