sábado, 27 de agosto de 2011

Viagens Alucinantes


Viagens Alucinantes
(Altered States, EUA, 1980) Direção de Ken Russell. Com William Hurt, Blair Brown, Bob Balaban, Charles Haid, Thaao Penghlis.


Renato Cordeiro

A jornada do cientista Eddie Jessup para compreender as possibilidades transformadoras de outros estados da consciência ocorre bem ao modo do cineasta Ken Russell. Surrealismo e obsessão dão o tom da trama que pode ser resumida por um diálogo entre o personagem e a esposa. "Você é um faustiano. Daria sua alma pela verdade absoluta. Mas não existem verdades absolutas, Jessup", sentenciam ela e o livro de Paddy Chayefsky, no qual o longametragem foi baseado. É claro, o sujeito há de aprender isso da pior forma.

Viagens Alucinantes tem uma abertura ótima, apresentando um tanque de isolamento no qual o pesquisador vivido por Willian Hurt se submete a um procedimento de transe. O close no rosto do ator se confunde com as palavras que formam o próprio título do longametragem e, de uma forma simples e eficiente, deixa o espectador imerso no clima onírico que marca algumas passagens da obra. Aos poucos, os resultados da experiência vão aparecendo no próprio corpo de Jessup, que desenvolve afasia e mutações físicas, regredindo a estados mais primitivos.

A pseudociência do filme pode desagradar quem defende que o termo sci-fi deve ter uso restrito a uma retratação plausível dos avanços do conhecimento humano. São várias as cenas que desafiam a compreensão do público e que não parecem ter sentido algum que não a oferta de belas sequências de psicodelia. No fim das contas, isso importa menos do que o drama que se passa diante das telas. Na pele de Jessup, William Hurt entrega uma interpretação irretocável que dá conta da obstinação científica e da crescente reclusão que o isola da dedicada esposa Emily, vivida por Blair Brown.

A busca do cientista é motivada pelo profundo desprezo que apresenta em relação aos ritos e tradições da sociedade onde está inscrito. Nesse ponto, percebe-se uma posição curiosa do longa de Ken Russell. A tragédia que aguarda Jessup mais parece uma punição pela ousadia de questionar as convenções e o lugar no mundo. A maneira pouco convincente como o protagonista reage às consequências da própria jornada sinaliza que o conformismo compensa.

Nota: 6,0 (de dez)










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