terça-feira, 30 de agosto de 2011

Melancolia (2)


Melancolia (Melancholia, Alemanha/Dinamarca/França/Suécia, 2011) Direção de Lars Von Trier. Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Alexander Skarsgård, Charlotte Rampling, John Hurt, Stellan Skarsgård, Brady Corbet, Udo Kier, Cameron Spurr.


Daniel Fróes

Antes de mais nada, é preciso esclarecer algumas questões.

Primeiro, se você NÃO assistiu o filme, pare de ler agora e vá assistir. Eu estou falando sério. Não faz o menor sentido se informar sobre este tipo de filme antes de assistir. Boa parte da experiência estética está em desconhecer o que lhe será apresentado e trilhar o caminho do conhecimento. Guarde sua curiosidade e pratique a Ascese.

Se você está interessado em saber se vale a pena assistir ao filme, se você vai gostar, eu te respondo: Mesmo quem não gostou dos outros filmes do diretor tem chances de gostar desse, pois apesar de ser pesado, é razoavelmente palatável em termos de narrativa. Mas não é uma comédia romântica de fim de semana, ou mesmo um drama leve de chorar pelo cachorrinho que morreu.

Depois não digam que eu não avisei. O texto abaixo contém diversos spoilers. Minha intenção é discutir o filme com quem já o assistiu, e trocar experiências. Vamos a elas.

Lars Von Trier é um cineasta com fortes definições e ideologias sobre a vida, a arte e o cinema. Em 1995, junto com seu amigo, o também diretor Thomas Vinterberg, fundaram o manifesto Dogma 95. Fazia-se, oficialmente, 100 anos desde a primeira apresentação da tão famosa película dos Irmãos Lumière, da chegada do trem à estação.

Desgostosos com o processo de industrialização (e também de idiotização) do cinema, os cineastas clamavam por uma importância maior para a trama e menor para a estética e para falsos temas - como violência, perseguições, etc. Para mais informações, vide Dogma 95.

Como todo movimento cinematográfico que surge como contestação, o Dogma 95 estava fadado a morrer. Mas seu modus operandi deixou cicatrizes profundas nos dois cineastas. Seus temas preferidos seriam sempre o humano e suas angustias. Afinal, eles são dinamarqueses.

Seus filmes são fortes. O primeiro filme de Von Trier já fora do Dogma 95 foi Dançando no Escuro, um sombrio musical que mostra o embate de uma sociedade contra uma mãe desesperada para salvar seu filho da cegueira. Três anos depois, numa feroz crítica à sociedade americana, ele nos presenteia com Dogville, outra incursão às vilanias e perversões do relacionamento humano (este filme considero como um dos dez melhores já feitos na história do cinema). Dogville é seguido pelo (tão crítico quanto) Manderlay. Incrivelmente, após tanta acidez, o diretor mascara suas críticas em uma comédia (O Grande Chefe). Temos então Anticristo, outro filme bastante pesado, pessimista, cheio de alegorias e metáforas, e finalmente, Melancolia.

Com exceção de O Grande Chefe, todos os filmes terminam em derrota. No fim, a humanidade demonstra que não há salvação, que a sociedade que construímos está fadada ao fracasso; não somos capazes de olhar o outro como a nós mesmos. O fim está próximo.

Não é de se espantar então que Melancolia trate justamente do fim do mundo. Para o mal da humanidade se extinguir, é necessário que o mundo acabe. Não sou eu quem diz isso, é a personagem principal, Justine. E essa idéia está mais que sustentada pelos outros filmes do diretor.

Mas antes de entrar na análise da trama, das atuações, etc, eu gostaria de falar de uma parte importante do filme, mas que não condiz em nada com a realidade, que é a questão da física. Só por uma questão de partir do menos importante para depois podermos nos deleitar com o que realmente importa.

Primeiro, digamos que a premissa de um planeta viajando pelo espaço sem mais nem menos é em si meio furada. Não é impossível, só é meio furada. A Terra possui dois planetas próximos de si que impedem que ela seja dizimada por corpos celestes perdidos. Júpiter e Saturno, com sua massa imensa, servem como ímãs para corpos celestes que vêm de fora do sistema solar. De acordo com as imagens do filme, o planeta Melancholia é umas 12 vezes maior que a terra - isso quer dizer que ele seria MAIS atraído pelos dois planetas do que meros cometas, porque se vocês ainda lembram das aulas de física, a atração entre dois corpos é proporcional à soma das massas. Quanto mais massa, maior atração. Sem contar que ele passa por Vênus e por Marte - ambos muito mais próximos do Sol que a Terra, o que significaria que o planeta seria atraído por nossa estrela, e provavelmente seria engolido por ela.

Segundo, o planeta viaja rápido demais. Dificilmente um planeta alcançaria tamanha velocidade. Pra impulsionar um planeta daquele jeito, ele teria que estar perto de corpos celestes brutais, ou ter passado por uma mega ultra explosão cósmica (da qual ele não sobreviveria). Cometas não são tão rápidos.

Terceiro, e pior de todas. Nas projeções cataclísmicas que aparecem na internet, durante o filme, o planeta, que é MAIOR que a Terra, tem sua rota alterada pelo nosso planeta, dá um giro na Terra, se afasta, volta, e colide. NÃO. Não pode. Se ele está tão rápido, e tem a massa tão grande, não pode sofrer toda essa modificação na sua rota por causa da Terra - sem contar que a rota da Terra sequer piscou. O que deveria ter acontecido é a rota da Terra ter sido alterada também. O mais provável, se as condições de aproximação fossem verdadeiras, é que Melancolia passasse sem colisões, mas alterasse a rota da Terra, fazendo com que OU nos aproximássemos do Sol muito rapidamente, OU nos afastássemos dele muito rapidamente. De qualquer forma, estaríamos mortos em pouco tempo.

Quarta consideração. Imaginemos que aconteceu tudo aquilo, que Melancolia se aproximou, se afastou e voltou a se aproximar, e que colidiu com a Terra. O planeta é TÃO GRANDE que muito antes da colisão, o mundo já teria acabado. Pensem que a Lua, nosso querido satélite natural, que tem 1.700 km de raio (a Terra tem 6.300 km de raio), 0.0123 da massa da Terra, 0.020 do volume da Terra, e que fica a uma distância média de 380 mil km de nós é responsável pelas MARÉS aqui. Ou seja, esse corpo celeste quase insignificante é responsável por mudanças drásticas no nosso planeta. Imaginem o que a interação gravitacional Terra-Melancolia não causaria? Não seria apenas a fuga da atmosfera, como demonstrado no filme, mas o planeta se quebraria ante à força gravitacional da interação. Antes disso, terremotos, maremotos, águas flutuantes, etc, etc. Apesar da cena final (e inicial) serem muito bonitas, a realidade seria outra.

Quinta e última: Os cientistas ERRARAM os cálculos? Sério? O pessoal que manda satélites pra Plutão via aceleração com impulso gravitacional em outros corpos celestes por falta de combustível errou a trajetória do planeta e sua interação com a gravidade dos outros corpos do sistema solar? OU eu encaro isso como a mão de Deus, OU que Von Trier não tem o menor respeito pela ciência e pelos cientistas. Vou ficar com a segunda opção.

Dito isto, vamos ao que interessa.


TRAMA (e considerações)

O filme é interessantemente dividido em duas partes. São quase dois filmes distintos. No primeiro, temos praticamente uma adaptação do filme Festa de Família, de Thomas Vinterberg (Festen, 1998). Numa festa de família, os podres vão sendo colocados para fora, e as fragilidades de sua estrutura interna não apenas aparecem, como todo um contrato social é quebrado, criando então novas relações entre os envolvidos, alterando completamente seus relacionamentos. Se no filme anterior temos uma festa de aniversário do pai da família, a festa de casamento torna-se talvez mais apropriada como prelúdio para o estranhamento que virá na segunda parte do filme.

No casamento, somos apresentados à família de Justine, a noiva, e a seu círculo social mais próximo: sua mãe totalmente cética e desapegada aos ritos sociais que prefere ser grosseira do que participar de coisas que não acredita; seu pai mulherengo e mentiroso, que está mais preocupado em usar as pessoas e se divertir com elas do que interagir socialmente (chamando a filha de Betty, inclusive); sua irmã controladora e o marido repressor, porém provedor; seu chefe onipresente, que pressiona e que nem mesmo durante o seu casamento lhe permite folga, criando inclusive uma situação de complexidade moral para ela; seu noivo, que apesar de aparentemente a amar, não parece ser uma pessoa profunda (vide seu discurso). Desde a chegada do casal ao castelo, tudo o que presenciamos são situações desagradáveis, tensas, que ao menos em nossas cabeças "poderiam ter sido evitadas". Lars Von Trier vai sugando a energia do espectador, lentamente, com situações irritantes, desagradáveis, até mesmo surreais, mas verossímeis. Além de conseguir afetar quase todo e qualquer espectador por nos vermos refletidos, de alguma forma, em alguma das situações, temos também a angústia de assistirmos situações que, sem grandes dificuldades, com apenas um pouco de doação de cada personagem, seriam evitáveis. Mas não é assim. A vida não é. Se para Von Trier, a vida e os homens são cheios de idiossincrasias, mesquinharia, rudeza; se somos autocentrados, egoístas, medrosos, assim serão as personagens, pois ele fala de nós, para nós.

Se um casamento simboliza não apenas um recomeço, mas esperança e mudança, este casamento demonstra que não há recomeços, que no fundo não há mudanças reais, que as coisas sempre terminam mal. É um aviso. Na verdade, é um lembrete, pois o cineasta faz questão de nos avisar, na primeira cena, que o fim é inevitável, está próximo, e fede.

A novidade/festividade do casamento é anulada pelo contato com a realidade. Justine não apenas não quer casar, mas ela não pode. Ela não tem condições emocionais para manter este tipo de relacionamento. Sua família, claro, não ajuda a situação, que na verdade já estava colocada, mas escondida sob o tapete. Justine, como um bom ser humano, entra em depressão profunda logo depois.

Não adianta aqui esmiuçarmos a primeira parte do filme. Ela serve como uma apresentação das personagens, da situação emocional e social que elas vivem, e em especial, do clima em que se encontrarão quando se depararem com o fim de tudo. Apropriadamente, a primeira parte do filme se denomina Justine.

A segunda parte trata da depressão de Justine e da chegada de Melancolia, e se chama Claire. Sem mais opções, Claire traz para perto de si a irmã, para que possa tomar conta dela. A primeira cena desta parte é de uma ironia imensa, já que Justine será a responsável por tomar conta de Claire em seu desespero frente ao fim.

Se a primeira parte se chama Justine, e vemos a personagem título partir da razão à depressão, na segunda parte vemos o mesmo caminho. Claire parte da estabilidade emocional - inclusive se prontificando para cuidar da irmã depressiva - para o total desespero ante a morte - sua, de seu filho, de seu marido, e do mundo.

É interessante notar que o desespero específico de Claire representa o que esperamos que seja o desespero do mundo em geral. Claire é a pessoa comum: confiante em si, mas temerosa do desconhecido, que segue as normas sociais, mas gostaria de ter forças para fugir disso, que crê em Deus mas teme a morte (eu NUNCA vou entender porque as pessoas que acreditam em Deus temem a morte, mas enfim), que ama seu filho e seu marido, que foge dos problemas quando pode, e que enfrenta quando não tem jeito. Tanto que, temendo o fim, comprou remédios para um suicídio coletivo.

John representa não só a arrogancia da ciência, mas também do homem, do masculino. Ele também é a humanidade. Na segunda parte do filme, ele tem o papel do Chefe de Justine - o Homem, forte, irrepreensível, que vê seu poder desmoronar, e ao mesmo tempo o papel do noivo de Justine, que vê sua linda ilusão se esvair. Gradativamente, ele muda de confiante cientista para desesperado tolo, e acaba por se matar sem nem ao menos cuidar de sua família.

Se na primeira parte do filme, não sabemos o desfecho, nesse caso, sabemos. E nos resta apenas esperar. Assim como Justine, depois que se recupera. Não há nada que se possa fazer. Não há como fugir, não tem nave espacial com super bomba atômica pra explodir a ameaça, não tem super heróis pra mudar a órbita, não tem Deus pra nos tirar dessa. Essa angústia, do fim certo, em escala global, só aumenta nossa solidariedade com Claire. Compartilhamos com ela esse desespero ante à morte. Na verdade, se fôssemos um pouco mais ocupados com isso, estaríamos constantemente nos sentindo assim - afinal, nós VAMOS MESMO morrer. E nem sabemos quando.

Mas encarar a morte inevitável e próxima é diferente. O dia a dia nos permite ofuscar sua presença, os pequenos prazeres e pequenas angústias insignificantes tomam nossa mente, e nos permitem viver. Não é à toa que esse filme é de um dinamarquês, afinal, um pedreiro baiano não tem tempo de ficar tendo esse tipo de angustia. Ele tem é que ganhar dinheiro pra alimentar o filho e pra tomar a cerveja dele no fim de semana.

O diretor usa também de alguns subterfúgios da trama para nos deixar MAIS melancólicos. Se Justine "sabe coisas" e sabe que nós somos a única porção de vida no universo, e se nós vamos morrer, quer dizer que, definitivamente, com todas as letras, não há esperança. Acabou. Adeus vida. Adeus qualquer coisa parecida com a humanidade. E isso, para o ser humano comum, é aterrador (pra mim seria algo como sentir aquele alívio causado por um arroto). Você, seus filhos, seus parentes, seus amigos, todas as obras de arte, todos os gatinhos fofinhos, cachorros brincalhões, macacos travessos, cervos saltitantes, leões ferozes, aranhas asquerosas, tudo, tudo, tudo vai acabar. Pra sempre. É meio triste mesmo.

O interessante é que o filme nos envolve nessa angústia que é como um campo. Um campo de angústia, que cresce devagar, e é para isso que existe a primeira parte do filme. Quando eu saí da sala, fiquei com a impressão que a primeira parte do filme é absolutamente desnecessária. E talvez seja mesmo. Mas a primeira parte constrói no espectador uma tristeza e desânimo necessários para a segunda parte do filme. É preciso estar triste, na segunda parte, para entrar mais profundamente na tristeza da perda eterna e total.

Como você reagiria ante o fim do mundo? O filme não te deixa responder essa pergunta. Não te deixa nem se fazer essa pergunta. Porque não te dá tempo. Não te dá espaço. Claire não te deixa respirar, Justine te angustia, John te enerva, e Leo é ao mesmo tempo o escape da angústia e a fonte de maior angústia. Tão inocente, feliz, e sem chance de florescer, amadurecer. O grande injustiçado, mais do que sua mãe, que se culpa de não poder fazer nada por ele.

E no fim? No fim não há respostas, não há salvação, não há solução. Só o silêncio. Se o silêncio foi a primeira coisa que existiu, será também a última.

TÉCNICA (e considerações)

A direção de arte é fantástica e impecável. É tudo o que eu vou falar sobre ela.

A direção de fotografia se divide em duas partes: a relação entre a luz, os objetos e a película; os movimentos de câmera.

Apesar de em alguns momentos a fotografia ter uma aura espectral, eu vou dizer que ela é quase perfeita. Me incomodam um pouco alguns momentos de grande escuridão, mas talvez isso se deva ao fato de eu trabalhar com cinema - e com certeza são resquícios do Dogma 95.

Mas os movimentos de câmera me incomodam muito. A câmera na mão, tremida, o tempo inteiro, cansa. E cria um contraste MUITO grande com as cenas aéreas das cavalgadas. Ok, isso é proposital, esse afastamento do quotidiano para uma situação sublime, fora da realidade, salvadora até. Mas o tempo todo com a câmera na mão me incomoda, me tirou do filme algumas vezes. Achei desnecessário e contraproducente.

As atuações, realistas, para mim estão fantásticas. Mesmo a ex-Mrs. Peter Parker. E o papel dela é bem complicado, pois não é SÓ maluca durante todo o filme, mas oscila entre a felicidade, a loucura, a depressão, a calma, a serenidade, a raiva, o medo, a tristeza, a solidariedade... É complexo. Fiquei muto feliz em ver Kiefer Sutherland. Eu gosto muito do trabalho dele, mas ele faz muita porcaria. Bom vê-lo num filme bom. Interessante ver Charlotte Gainsbourg de novo dirigida por ele. Deve ser masoquista, a garota. O garoto também está bem, e o trabalho deles apenas mostra como atores são importantes para a completa realização de um filme.

A banda sonora se divide em três partes: diálogos, efeitos, trilha. A captação dos diálogos, e sua colocação no filme, está perfeita. No comments. Os efeitos sonoros fazem MUITA diferença nesse filme. O barulho do espaço (que deveria ser inexistente), o barulho da aproximação do planeta, os pequenos distúrbios, eles somam e muito ao filme. Tanto na primeira parte do filme, com seu realismo, quanto na segunda parte, como suposto realismo relativo ao planeta. Já a trilha sonora, apesar de eu ter adorado as músicas, me incomodei com o volume, principalmente da música clássica que acompanha os momentos de tensão. Muito alto, me incomodou, me tirou do filme. Não me incomodou no sentido de somar (em termos sensoriais) com o visual, me incomodou no sentido de me fazer sair da diegese. Poderia ser um pouco menos alto. Mas a trilha é muito bem escolhida, e muito bem encaixada. Tensa na medida certa, com o ritmo conveniente, acompanhando as cenas.

Os efeitos especiais são bonitos. O planeta está bem interessante, de um azul pálido frio, distante, melancólico. O planeta, também coberto de nuvens, é como se fosse nós mesmos nos punindo. Em especial, o cartaz acima, e a cena de abertura, tem efeitos lindos.

No fim, eu gostei bastante do filme. Apesar de algumas coisas terem me incomodado, fiquei muito tocado por ele. Eu e Von Trier compartilhamos de um ponto de vista muito parecido com relação ao mundo, só que ele é muito mais poeta e mais inteligente. E mais deprimido, também. E mais rico.

Mesmo assim, ainda está bem atrás de Dogville, atrás de Dançando no Escuro, empatando com Anticristo. Ou seja, está bem.

Últimas considerações

Para os RPGistas de plantão: o prenúncio do fim é a visualização da Estrela Vermelha no céu, depois seu desaparecimento (Antares). O Apocalipse está chegando.

Como Justine "sabe das coisas"? Conexão com Deus? Conexão com o cosmos? Será esse filme uma tentativa de Von Trier de se reaproximar do além, do metafísico? Será Melancolia uma punição divina? Por que Justine é especial? Eu não tenho respostas para essas perguntas.

Esse tema (fim do mundo), apesar de muito batido, é também muito interessante porque simplesmente não temos como saber como reagiremos até o momento do inevitável. E, de uma forma ou de outra, repensamos o caminho que podemos trilhar para o fim inevitável. Ou, em outras palavras, não leve a vida muto a sério, porque você não vai sair vivo dela. Eu não levo.

Renato Cordeiro também escreveu um texto sobre o filme, neste mesmo blog, que pode ser lido AQUI.

Nota: 8,5 (de dez)










2 comentários:

  1. Bacana, Fróes.

    Das considerações iniciais que você disse te puxar para fora do filme para pensar sobre como as coisas funcionariam na vida real, a única que me lembro de ter chamado minha atenção também foi a do efeito de maré. Com relação às outras (e talvez mesmo a essa), veremos físicos, nerds e afins procurando por explicações que possam justificar o porquê de tudo ter sido como foi. Especialmente com relação ao erro de cálculo. Os cientistas erraram mesmo? Só podemos concluir isso pelo que diz o marido de Claire, fonte tão indigna e covarde que se mata porque vai morrer.

    Considero o filme de um teor estético sublime. E mais, um filme que nos chama à vida. Entrei na sala escura sem saber nada sobre o filme, a não ser que era de Von Trier. Nada mesmo. Tive a real impressão de ter visto duas fitas. O estranho é que, ao sair, achei que compartilhava mais da visão de (fim de) mundo de Justine. As curvas das personagens das duas irmãs é sensacional. Em um gráfico, entrecruzar-se-iam, entramar-se-iam e, ao fim do filme e da humanidade, enlaçar-se-iam com um nó. Creio que cego.

    Vendo Claire e os outros batendo cabeça sem saber o que fazer, minha mente me dizia que a mais preparada para tudo aquilo era Justine, que berrava sem nem mesmo sussurar:

    "e agora, Claire, com tamanha Melancolia, de que serviu tua vida? Que vais fazer no vilarejo? Até onde alcança tua vista, se nem mesmo compreendes bem a ausência do teu mordomo nesta situação? O que teria sido diferente se eu estivesse agora casada, abraçada à minha promoção na agência? Certamente estaríamos de mãos dadas ao som da Nona de Beethoven."

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  2. Achei a crítica muito boa, Dan. Minha única ressalva seria para o tempo que você dedicou para falar sobre a ilógica ideia da colisão do Melancolia com a Terra. Grandes histórias não se explicam, se contam. Não acho que tudo precisa fazer sentido para ser bom. Fora que ciência é algo mutável, o que justifica a existência de "fenômenos". Além disso, eu realmente não consigo engolir a Kristen Dunst. Ela se superou? Sim, se superou. Mas ela se superando é infinitamente inferior a uma fileira de atrizes. Enfim, é gosto. Achei um filme muito interessante e bonito, mas muito inferior a Dançando no Escuro, que pra mim é a mais relevante obra do diretor.

    Angelo

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