quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Duro de Matar 4.0


Duro de Matar 4.0 (Live Free or Die Hard, EUA, 2007) Direção de Len Wiseman. Com Bruce Willis, Timothy Olyphant, Justin Long, Jeffrey Wright, Mary Elizabeth Winstead, Andrew Friedman, Cliff Curtis, Maggie Q.


Renato Cordeiro

O chamado teste do tempo não funciona com todo e qualquer filme. Do contrário, o que faria o pavoroso Duro de Matar 4.0 ainda ser considerado bom? Que a estréia fizesse os fãs eufóricos supervalorizarem o longametragem, até seria possível compreender, mas quatro anos depois de lançado, o trabalho insosso ainda é bem cotado, a exemplo do que se vê em sites como o imdb e o rotten tomatoes. Não dá pra entender o que o público viu nessa obra.

Teria sido afeição ao herói? Difícil acreditar, já que este, definitivamente, não é John McClane. Quando o primeiro Duro de Matar foi lançado, em 1988, chamou atenção pelo herói incomum. Preso e sozinho em um edifício tomado por terroristas, o policial novaiorquino era um ser humano normal, que sentia dor ao receber um tiro e que chorava de medo frente a uma situação de absoluto desespero. Era a diferença que fazia o espectador realmente se importar com o sujeito e que, ainda hoje, faz da explosão do Nakatomi Plaza uma das cenas mais memoráveis do cinema de ação. Já neste quarto filme, McClane não passa de um James Bond mais truculento, um típico e medíocre personagem infalível até a medula.

As cenas de ação foram marcantes? Não, nosso herói perfeito
protagoniza cenas que mais parecem cópias de outros trabalhos do gênero. Um carro despenca à imagem e semelhança do que se viu na continuação de Jurassic Park, enquanto a cena envolvendo um caça lembra bastante o final de True Lies. Nada criativo ou inusitado como a luta sobre a asa de um avião em Duro de Matar 2 ou o tiroteio dentro de um elevador em Duro de Matar 3, capítulo que, apesar de inferior, reluz feito ouro perto da bagaceira feita por Len Wiseman. O filme sabota as poucas cenas que poderiam brilhar, incluindo a sempre lembrada destruição de um helicóptero, que apareceu em todos os trailers da produção. Premeditada demais, a sequência perde força à medida que, muito antecipadamente, o público se dá conta de como terminará.

E o que dizer do adversáro do herói? É um panaca. O sujeito seria feito em pedaços pelos outros vilões da franquia, vividos respectivamente por Alan Rickman, William Sadler e Jeremy Irons.
O cracker Thomas Gabriel é vivido burocraticamente por Timothy Olyphant, da série Deadwood, e passa boa parte do filme com olhos que insistem em dizer que "tudo corre como planejado", o que o próprio roteiro trata de desmitificar. Quando o terrorista toma como refém a filha do mocinho, a tensão que poderia resultar daí cai por terra, pois logo em seguida vemos Bruce Willis partir pra cima dos oponentes com ainda mais selvageria, deixando claro que não acredita nos colhões do algoz - no que ele está certíssimo. Os piores momentos são justamente os que mostram Gabriel sendo desafiado pela insolente e inverossímil refém. Aliás, não se sabe para que serve a personagem, já que a captura de Lucy McClane não tem a menor influência sobre a trama.

O enredo, por falar nisso, é baseado no artigo A Farewell to Arms. Agora, a ameaça vem de dentro do próprio país, e todo o sistema de energia, transportes e comunicações dos Estados Unidos fica à mercê do cracker Thomas Gabriel. Para pôr fim ao caos, McClane vai precisar da ajuda do hacker Matt Foster, vivido por Justin Long, o único que se salva deste vexame. O amedrontado personagem funciona bem como coadjuvante cômico, tem boa química com Bruce Willis e protagoniza uma divertida cena de roubo de carro.

D
uro de Matar 4.0 estreou em um ano que foi dos piores, em termos de sequências. Os projetos caçaníqueis continuavam enchendo os bolsos dos produtores, mas a crítica em geral não poupava avaliações negativas às produções de 2007. Quase todas foram consideradas inferiores aos filmes que sucederam, a exemplo de Piratas do Caribe 3, Shrek Terceiro, Homem-Aranha 3 e Treze Homens e um Novo Segredo. Difícil não pensar em quanta porcaria é consumida sem qualquer capacidade de crítica por parte do público, hoje em dia. Pior ainda é se dar conta de que a mediocridade da indústria compensa, mesmo tantos anos depois.

Nota: 4 (de dez)










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