terça-feira, 9 de agosto de 2011

Matei Jesse James


Matei Jesse James (I Shot Jesse James, EUA, 1949) Direção de Samuel Fuller. Com John Ireland, Barbara Britton, Preston Foster, Reed Hadley.


Renato Cordeiro

Consta do imponente portal imdb que Samuel Fuller via a figura de Jesse James de forma bem diferente da que se percebe na canção popular que embala o início do filme. Em vez do herói bandido à Robin Hood, o diretor entendia que o lendário pistoleiro era pouco mais do que um psicopata. Se é fato, é ainda mais interessante que a trama escrita pelo cineasta, aqui no primeiro trabalho de direção, tenha optado por pouco retratar o personagem e centrar a atenção naquele que se tornou famoso por liquidá-lo, Robert Ford.

A história é conhecida e já rendeu obras como Cavalgada dos Proscritos, de 1980, e O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford, de 2007. Este último se parece mais com o trabalho de Fuller, tanto pelo protagonismo quanto pelo enquadramento dado ao homem que matou a lenda. Ford é retratado como um sujeito ingênuo e desprovido de qualquer maior atenção das pessoas ao redor, constatando que a morte do amigo poderá reverter toda uma vida de má sorte. Ao dar cabo do sujeito, algo que acontece logo nos primeiros 15 minutos de filme, acompanhamos os desdobramentos da decisão de Ford, que passa a se tornar um pária, amargando as zombarias e a decepção da mulher que ama, uma atriz a quem jurou uma vida melhor. O esforço em humanizar uma das figuras mais desprezadas da história do Oeste é explicitado pelos closes constantes no rosto de John Ireland, que com o olhar semicerrado e a fala inebriada, deixa-o mais bobo e sonhador, ainda que seja um perigoso idiota apaixonado.

A tônica do longametragem, no entanto, não é a da redenção, mas da tragédia, de abandono do glamour, da trilha sonora quase melodramática, de tal modo que mal se pode dizer que Matei Jesse James seja, de fato, um faroeste, se aproximando mais de um quase antiwestern. Ou talvez seja uma revisão do gênero feita por um western não-revisionista, anos antes da tendência que teve em Delmer Davis um expoente. O infortúnio do protagonista vem da desgraça de ser quem é, uma narrativa de derrotas que se dá quase totalmente em espaços fechados, como teatros, saloons, o camarim da atriz e a casa onde Jesse James tombou sem vida.

A princípio, pensando no que escrever sobre as coisas que incomodavam no longametragem, este cinéfilo pensou tratar-se de metragem excessiva. Engano tremendo: são 81 minutos de filme, quase 20 a menos do que a metragem padrão em Hollywood. O que torna a obra algo arrastada parece ser, então, o pouco interesse que emana da trama paralela à história de Ford, a saber, o triângulo amoroso que é formado com o personagem de Preston Foster. Vale pela intenção e despojamento do drama derrotista.

Nota: 6,0 (de dez)










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